Afeganistão pode ser o Iraque de Obama
21/08 - 06:20 - Caio Blinder, de Nova York
Esta resistência doméstica é mais um obstáculo para os planos de Obama de um engajamento mais profundo, mais caro, mais arriscado e mais duradouro no Afeganistão. Existe esta resistência, mas ela não é passional. O Afeganistão é distante e não está entre as prioridades da opinão pública americana, hoje focada em questões domésticas, como a economia e a batalha sobre o futuro do sistema de saúde. Isto confere uma certa liberdade (não muita) para Obama travar a sua guerra de necessidade.
Em um cenário de opções desencorajadoras, Obama tenta armar a melhor estratégia para as circunstâncias: uma rigorosa contrainsurgência (com reforço de tropas) e esforços para promover desenvolvimento e boa governança. Apesar dos apelos, não pode contar com muito mais suor, sangue e lágrimas dos aliados europeus. Em vários países da Europa, com tropas no Afeganistão, a resistência a mais investimentos militares e econômicos é ainda maior do que nos EUA.
O governo afegão que emergir destas eleições será essencial nos esforços de boa govenança, apregoado por Obama como uma meta alcançável, ao contrário de uma sólida democracia. Mas não existe muito tempo (um luxo à disposição dos rebeldes do Taleban, que fizeram o possível para intimidar e esvaziar a legitimidade das eleições).
O tempo tampouco trabalha a favor dos americanos. Operações de contrainsurgência não são bem sucedidas (quando são) a curto prazo. Obama acena com estabilidade a longo prazo, mas em termos imediatos ele tem a oferecer mais custo e mais sangue. Nada disso é claro anima a opinião pública e o Congresso. Os assessores da Casa Branca reconhecem que Obama tem o prazo de um ano para começar a mostrar resultados de sua guerra de necessidade no Afeganistão.
Em termos de relações públicas, o discurso até que é correto. A melhor maneira para justificar para os americanos uma guerra nos dias do hoje é mencionar a ameaça da rede Al Qaeda, que teve santuário no Afeganistão até o Taleban ser espirrado do poder com a invasão que se seguiu aos atentados de 11 de setembro de 2001. O argumento de Obama é que derrotar o Taleban é vital para impedir o retorno da Al Qaeda ao país. Seus remanescentes estão no Paquistão.
No entanto, as razões para o engajamento americano no Afeganistão são mais complexas. O projeto de uma escalada de tropas no Afeganistão tem o objetivo de impedir o colapso do país e também de desestabilização do Paquistão. Os céticos advertem que é justamente a presença americana no Afeganistão que contribui para a desestabilização do Paquistão. No ar estão as advertências de que o Afeganistão pode ser para Obama o que o Iraque foi para George W. Bush. Confesso minha simpatia pelos planos afegãos de Obama, mas escuto cada vez mais os céticos. Se eu estou vacilando, imagine a massa americana?
Nenhum comentário:
Postar um comentário