segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Serra presidente?!?!

Serra não pode ser presidente: Notas sobre a barbárie na USP


Tentei dormir. Era necessário, já que embarco às seis da matina rumo ao Rio. O fato é que não consegui. Afetam-me bastante as imagens, vídeos, sons de estudantes sendo espancados dentro de um campus universitário. Cresci com essas imagens, me formei dentro delas, acredito saber algo sobre a dinâmica que elas desatam. A violência policial é horrível em qualquer circunstância, evidente. Mas quando ela ocorre dentro de um campus universitário, é toda uma história de décadas de luta – bastante dura – por autonomia e liberdade de pensamento que está sendo negada, revirada, desrespeitada. Perguntem a Alon Feuerwerker acerca de suas memórias da reconstrução da UNE em 1979.

O Sr. José Serra não tem autoridade moral para ser Presidente da República Federativa do Brasil. Haja mãos e pés para contar os exemplos de truculência, autoritarismo e vocação ditatorial. Esse senhor simplesmente não sabe conversar com a sociedade civil. Recusou-se, mais uma vez, a entrar em diálogo.

hariovaldo-1.jpg

Critique-se o quanto se queira o movimento estudantil. Eu sou um dos seus críticos, diga-se. Fui presidente de DA, de DCE, fui de comissão organizadora de ENEL, participei de vários congressos da UNE. Há, no movimento estudantil, uma clara tendência à radicalização, fruto da idade de seus membros, da situação peculiar de ainda não estarem inseridos – na maioria dos casos – no mercado de trabalho, da condição de relativa liberdade em que transitam. Não concordo com várias das reivindicações históricas do movimento. Não acho, por exemplo, que estudante tenha que dar pitaco ter voto em política curricular. Se o sujeito está adquirindo um bem cujo conteúdo, por definição, ele não conhece, nada mais natural que não seja ele quem o defina. Tampouco acho que as eleições para reitor devam representar paritariamente os três setores. Um estudante fica quatro ou cinco anos no campus. Seu voto não pode ter o mesmo peso que o de quem lá trabalha permanentemente e tem responsabilidade direta sobre os rumos da instituição. Eu poderia continuar listando outros exemplos de bandeiras já levantadas pelos estudantes com as quais não estou de acordo.

Portanto, quem quiser criticar o movimento estudantil, que fique à vontade. Isso não me ofende nem um pouco. É inegável que há um desgaste das formas de luta do movimento universitário. Paralisar um Banco do Brasil ou uma Fiat é uma coisa. Paralisar uma universidade não afeta ninguém de imediato, a não ser a própria comunidade universitária. É uma simples questão de quem produz valor de troca imediato. O movimento estudantil foi chave na luta contra a ditadura, passou por longo adormecimento, renasceu brevemente com os caras-pintadas anti-Collor e voltou à irrelevância. Quanto menos massivo ele é, maior a possibilidade de que lideranças pouco representativas o sequestrem. Aumentam as chances de táticas reprováveis. Mas essas coisas se resolvem com diálogo. No momento em que entra a Polícia, tudo volta à estaca zero. Na verdade, volta a um número negativo, pois o trauma e a revolta não são bons pontos de partida para se negociar nada.

hariovaldo-2.jpg


O que me causa indignação é, de novo, que se criem falsas simetrias onde elas não existem (eu falo muito de falsas simetrias, por exemplo, na questão palestina). Os erros, excessos ou táticas reprováveis do movimento universitário são uma coisa. O envio do batalhão de choque da Polícia Militar, o espancamento de estudantes e o uso dos cassetetes e das bombas de gás lacrimogêneo são crimes, são acontecimentos de dimensão completamente distinta. São responsabilidade direta da Polícia subordinada ao governador. Ele tem obrigação de responder por ela. São atrocidades perpetradas pelo poder público. Você não pode comparar isso com a possível imaturidade ou o excesso cometido pelo movimento estudantil.


hariovaldo-3.jpg


Sim, o pedido de reintegração de posse é de responsabilidade da Reitoria e a anuência a esse pedido é prerrogativa do Judiciário. Segundo todos os relatos que ouço, a Reitora Sueli Vilela é um desastre completo. Se alguém tem um contra-testemunho, por favor, se manifeste – quero ouvir. Mas tudo o que escutei até hoje é desabonador. Combine-se isso com um governador de tendências ditatoriais e você tem os ingredientes para a triste situação que vive hoje a (ainda) mais prestigiosa universidade da América do Sul. Como explicou muito bem Túlio Vianna, mandar tropa de choque ao campus só pode gerar desastres.


hariovaldo-4.jpg


Que a comunidade universitária da USP – instituição na qual já tive a honra de palestrar, em total liberdade, sem ninguém armado por perto – possa se recuperar do trauma. Que o movimento estudantil reflita sobre seus rumos. E, acima de tudo, que esse truculento e ditatorial Sr. que governa São Paulo não tenha a chance de governar o Brasil. Nada vai melhorar com ele no leme.

PS: As fotos vêm da magnífica postagem do Professor Hariovaldo: Debelado foco guerrilheiro na USP.

PS 2: Marjorie Rodrigues informa que haverá manifestação hoje, ao meio-dia, saindo da Reitoria em direção à Avenida Paulista.

Escrito por Idelber às 04:34
http://www.idelberavelar.com/archives/2009/06/serra_nao_pode_ser_presidente_notas_sobre_a_barbarie_na_usp.php

Relato do Professor Pablo Ortellado sobre a violência na USP

É necessário que se divulgue tudo isso, pois muitos não sabem o que foi a barbárie acontecida na USP sobre a batuta do Sr José Serra.
Dá para votar numa criatura desa natureza?
 
« Urgente! Polícia de José Serra espancando e bombardeando estudantes na USP :: Pag. Principal :: Serra não pode ser presidente: Notas sobre a barbárie na USP »

quarta-feira, 10 de junho 2009

Relato do Prof. Pablo Ortellado, da USP

Este relato me chega via Myriam Kazue:

Terça-feira, 9 de Junho de 2009
Relato do Profº Pablo Ortellado (EACH-USP) sobre a barbárie ocorrida na
Cidade Universitária da USP.
O seguinte relato nos foi enviado pelo professor Pablo Ortellado, da
EACH-USP, em mensagem encaminhada pelo professor Marcelo Modesto (FFLCH),
também presente na manifestação pacífica que resultou em confronto violento
na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo - USP.

Abaixo, o texto na íntegra:

"Urgente e importante: tropa de choque na USP

Prezados colegas,


Eu nunca utilizei essa lista para outro propósito que não informes sobre o
que acontece no Co (transmitindo as pautas antes da reunião e depois
enviando relatos). Essa lista esteve desativada desde a última reunião do
Co porque o servidor na qual ela estava instalada teve problemas e, com a
greve, não podia ser reparado.

Dada a urgência dos atuais acontecimentos, consegui resgatar os emails e
criar uma lista emergencial em outro servidor. O que os senhores lerão
abaixo é um relato em primeira pessoa de um docente que vivenciou os atos
de violência que aconteram poucas horas atrás na cidade universitária (e
que seguem, no momento em que lhes escrevo – acabo de escutar a explosão de
uma bomba). Peço perdão pelo uso desta lista para esse propósito, mas tenho
certeza que os senhores perceberão a gravidade do caso.

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam
deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que
eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de
funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar
a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa
manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos
que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram
ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da
avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra
a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos
manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.


Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos
docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No
decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia
agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de
grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o
estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano
Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do
gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes
correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão
(falsamente chamadas de "efeito moral" porque soltam estilhaços e machucam
bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da
História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a
chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em
frente à lanchonete e entrada das rampas). Sentimos um cheiro forte de gás
lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos
efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do
professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge
Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e
tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou
acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de
pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de
bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia
infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar
com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os
estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena
assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e
deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais
organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad
havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi
recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da
Adusp se recuperando.


Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se
multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira
completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados
ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor
Jorge Machado).

Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o
conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de
uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois
estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá
agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os
seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar
qualquer informação. Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para
ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo
até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei
relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de
professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A
situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser
dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em
reunião na última sexta-feira), autorizou que essa barbárie acontecesse num
campus universitário.

Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na
minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses
fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade
de pensamento e ação, não sei mais.

Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que
é conveniente.


Cordialmente,

Prof. Dr. Pablo Ortellado
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Universidade de São Paulo"

http://www.idelberavelar.com/archives/2009/06/relato_do_prof_pablo_ortellado_da_usp.php

Vamos relembrar um ato do Sr José Serra

Urgente! Polícia de José Serra espancando e bombardeando estudantes na USP

USP.jpg
(Foto: Márcio Fernandes)

O Sr. José Serra, que quer governar o Brasil – embora ainda não tenha oferecido nenhum motivo que dê credibilidade à sua candidatura –, demonstra mais uma vez sua truculência, seu autoritarismo, sua vocação ditatorial, sua completa incapacidade para dialogar com os movimentos sociais. O governo pelo qual ele responde enviou o batalhão de choque para reprimir a greve na USP. Eles estão atirando bombas nos estudantes (e vejam a cretinice do Globo, ao falar de "confronto").

Os alunos, no momento em que escrevo, se reuniram no prédio da História. Mesmo assim, a polícia continua bombardeando. São cenas de invasão e massacre contra estudantes que, no interior de um campus universitário, foram raríssimas mesmo durante a ditadura militar.

Esse é o aprendiz de ditador que quer governar o Brasil. O Biscoito convoca todos os tuiteiros a que enviem mensagens no Twitter com o endereço @joseserra_ para que o ditador veja que estamos solidários com os estudantes. Por favor, usem a caixa de comentários para compartilhar informações e links sobre mais essa vergonha perpetrada pelo governo de São Paulo.

Atualização com depoimento do leitor Thiago:

Professor, sou o Thiago, leitor do sr. e estudante da USP. Como o sr está vendo, a situação lá é caótica. Alunos e professores feridos, o HU está cheio de gente passando mal, e a FFLCH está cercada. Estou no trabalho e aqui metade da net (orkut, twitter, blogspot) é bloqueada. Mas consegui contato com amigos meus que estão na FFLCH.

Relato abaixo o que ouvi de um amigo:

"A manifestação estava pacifica (dentro do possivel) com todos se dirigindo para a reitoria onde ocorreria a assembléia geral. De repente a galera se encontrou com uma viatura policial e começou a gritar (ainda pacificamente) 'fora pm do campus'. De repente uma menina tentou se aproximar dos pms pra entregar flores pra eles e eles, os pms, se revoltaram e espancaram a garota. Daí todo mundo foi pra cima deles (claro) e eles chamaram reforço. Dai a confusão começou, porque o reforço chegou atirando balas de borracha e bomba de gás. Sem dó. O pessoal tentou se refugiar na FFLCH com barricadas. A PM sitiou a faculdade, ninguém entra ninguém sai.
Continuam a jogar bombas sem parar"

A rede de wifi da usp está falhando, há um boato de que a reitora mandou derrubar. O pessoal no CRUSP tenta chegar na FFLCH mas não consegue.

Desculpe o texto mal escrito, foi a pressa e o nervosismo. Agora os meus colegas estão tentando entrar em contato com a imprensa pra colocar no ar (eu duvido que coloquem) o que tá ocorrendo na FFLCH.

A situação é dramática. Nunca pensei que veria isso acontecer.

Thiago Candido.

http://www.idelberavelar.com/archives/2009/06/urgente_policia_de_jose_serra_espancando_e_bombardeando_estudantes_na_usp.php

Tropa de Choque invade campus da USP

terça-feira, 2/junho, 2009

A Universidade de São Paulo, novamente, se tornou alvo de uma repressão desmedida do governador José Serra. A Cidade Universitária amanheceu, nesta segunda-feira (1), completamente sitiada pela polícia. Em cada unidade há pelo menos uma viatura, e em frente ao prédio da reitoria há uma concentração de dezenas de policiais.

Tudo isso devido a um movimento de greve de professores e funcionários da instituição. Os trabalhos da USP estão em greve desde o dia 5 de maio e levantam a bandeira pelo aumento salarial, contra a ameaça dos postos de trabalho de 5 mil trabalhadores, pelas demandas do hospital universitário e outras pautas específicas, além da reintegração do diretor do SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP).

A demissão de Claudionor Brandão é produto da perseguição política aos trabalhadores e ao sindicato, protagonizada pela reitoria e pelo governo do estado. Trata-se de uma política marcada pela prática anti-sindical e anti-democrática que abre um gravíssimo precedente para todos os trabalhadores brasileiros. É inegável a expedição tucana contra a legítima mobilização em defesa da democracia na universidade sofram esta coerção policial.

"Os policiais estão com uma atitude provocativa frente aos trabalhadores, arrancando as faixas dos grevistas, buscando abertamente causar incidentes. Isso se dá justamente após a reitoria, apoiada pelo governo do estado, ter suspendido as negociações com os trabalhadores de maneira completamente arbitrária", relata a Comissão de greve.

Relembrando

Essa personalidade ditatorial vem se desenvolvendo na gestão do governador há um bom tempo, vide o caso do Largo São Francisco quando em um ato truculento, a tropa de chope foi enviada para retirar os cerca 400 manifestantes que dormiam no pátio da faculdade.

Na época, o movimento ocupou pacificamente a reitoria do campus e publicou a sua posição em permanecer simbolicamente no local por 24h. No entanto, a ordem de reintegração partiu de uma determinação do governo do Estado requerida pelo diretor da faculdade, João Grandino Rodas.

O Centro Acadêmico XI de Agosto, ocupado por cerca de 30 estudantes também foram encurralados pela Tropa de Choque e resistiram à reintegração por cerca de 4 horas. Segundo lideranças estudantis, em nenhum momento houve negociação, apenas eram ameaçados de prisão. Não houve a invasão do local porque o Centro Acadêmico é uma propriedade particular, que pertence aos alunos.

Fora da sala

Como forma de protesto, o professor José Sérgio Carvalho ministrou aula na rua ao lado do edifício onde os policiais se concentram na Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo.

O professor da disciplina, filosofia da educação, discutia o conceito de autoridade. Em voz alta, que competia com o som alto do microfone vindo do carro de som dos grevistas, postados em frente à reitoria. Segundo o Professor ao portal G1 "Essa aula na rua foi uma opção dos alunos. Um deles trouxe a notícia da presença da tropa. Ficamos perplexos. Esse é um bom jeito de mostrar que este é um lugar de idéias e não de metralhadoras", contou o professor.

O procedimento de José Serra para lhe dar com o exercício da democracia tem se mostrado métodos repressores, recordando artifícios ditatoriais. A inadmissível sua prática escandalosa de criminalização dos movimentos sociais, atitude que tem se tornado comum na gestão do governador José Serra.

Além da Academia

Infelizmente, não é só no setor acadêmico que a síndrome fascista de José Serra acampa. Vide a Operação Saturação da Polícia Militar em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

Moradores da favela foram covardemente repreendidos e tratados com violência, inclusive neste último domingo saiu uma matéria de Bruno Paes Manso no Jornal o Estado de S. Paulo relatando a ação da Policia estendido por 2 meses e meio (leia aqui). http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090531/not_imp379770,0.php

É notório que o modelo de segurança pública de José Serra está alicerçado na violência, despreparo e abuso de poder. É evidente a campanha pela criminalização dos movimentos sociais, lamentável para quem deseja ser presidente do país.

Via UNE

http://www.vidauniversitaria.com.br/blog/?p=28039

Quarta-feira, 10 de Junho de 2009

A verdadeira face de José Serra

(Foto: Márcio Borges/AE)
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
Não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam o nosso cão,
e não dizemos nada.

Até que um dia,
o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

(Eduardo Alves da Costa,
"No caminho com Maiakóvski", 1964).

A invasão de um campus universitário por forças militares é, por si só, condenável; mesmo em plena ditadura militar aconteceu com raridade extrema (UNB, PUC, quantas vezes mais?), como lembra Marjorie Rodrigues .

Porém, os governos do PSDB que governam São Paulo há mais de uma década, tal como ocorre no poema acima, primeiro passaram a permitir a entrada da polícia do campus da USP, algo antes inimaginável na história da instituição.

Agora, a polícia de José Serra é responsável não apenas por uma invasão, mas por espancamentos, tiros com bala de borracha, uso de bombas lacrimogêneas e de concusão (que, como o impressionante relato do professor da USP Pablo Ortellando explica, estilhaçam e causam ferimentos) contra estudantes cercados e indefesos - que, em seu próprio local de estudo protestavam pacificamente.
O que virá a seguir? Um cadáver?

Observem, no vídeo abaixo, que a polícia ataca e atira contra os estudantes sem ter sido atacada (no sempre ótimo blog de Altamiro Borges há um vídeo ainda mais impressionante).
 
 Link para os videos:
 
 
Como assinala Túlio Viana, essas são consequências da irresponsabilidade de se mandar tropa de choque a um campus universitário. Ao que Idelber Avelar - que, só pra variar, fez a melhor "cobertura" das atrocidades na USP - acrescenta que a utilização contra estudantes de tamanha truculência é "responsabilidade direta da Polícia subordinada ao governador. Ele tem obrigação de responder por ela. São atrocidades perpetradas pelo poder público".

Portanto, com esse inaceitável uso da violência contra jovens universitários indefesos, fica cabalmente demonstrado que "O Sr. José Serra não tem autoridade moral para ser Presidente da República Federativa do Brasil. Haja mãos e pés para contar os exemplos de truculência, autoritarismo e vocação ditatorial. Esse senhor simplesmente não sabe conversar com a sociedade civil" – finaliza Avelar.

Serra só age assim porque sabe que a mal chamada "grande mídia" vai, como de costume, minimizar os fatos e fazer de tudo para "livrar sua cara" - e não só porque clara mas não assumidamente apoia sua candidatura à Presidência mas porque, dominada por uma plutocracia das mais retrógradas e atrasadas, abomina qualquer manifestação popular, ainda mais se levada a cabo por jovens estudantes que convivem com setores da futura elite do país.

Esse episódio de violência absolutamente desnecessária poderia ter, por incrível que pareça, um lado bom, que seria mostrar a verdadeira face de José Serra para o resto do país que ele sonha governar. Os moradores de outros estados poderiam ver, então, que o verdadeiro semblante do governador paulista não conserva qualquer espécie de relação com a imagem do economista polido e de fala didática, que a mídia usualmente mostra: como sucessivos episódios de violência oficial mostram, não passa de um truculento, de um elitista refratário ao diálogo; do que de pior e de mais retrógrado a política nacional tem a oferecer.

De administrador e tecnocrata eficiente Serra não tem nada - e basta morar em São Paulo para se certificar disso diariamente. Ele não passa, na verdade, de um sub-ACM sem o sotaque que o preconceito condicionou a associar ao coronelismo, o que tem impedido a máscara do cosmopolitismo de cair, trazendo à luz sua verdadeira face de coronel (veja porque a trajetória de Serra provoca medo).

Porém, para que a difusão da imagem do verdadeiro Serra percorresse o país seria necessário que ou a "grande mídia" resolvesse mostrar, subitamente, interesse em aprofundar-se no retrato de um episódio tão prejudicial ao candidato do PSDB, ou a internet - sobretudo a blogosfera - provasse que o poder que tem demonstrado de produzir contrainformações e de desnudar as falcatruas da "grande mídia" se estende à difusão massiva de informação. A primeira possibilidade é uma hipótese remota, quase inconcebível; a segunda, uma incógnita.

Caso nenhuma das alternativas venha a ocorrer, restará a utilização das imagens da violência da polícia comandada por Serra durante a campanha eleitoral, mas, fora desse contexto, a grave dimensão do ocorrido tende a se diluir sem maiores consequências. A elite paulista - e, o que é ainda pior, a classe média que pensa que é ou quer ser elite - vai, como de costume, aplaudir secretamente a violência contra "esses vagabundos" da mesma forma como ofereceu seu "silêncio sorridente" quando 111 seres humanos indefesos e sob a guarda do estado foram mortos. E, pelo verificado até agora na blogosfera, o grau de mobilização e indignação, embora presente, está longe do esperável, enquanto a alienação e o direitismo, mesmo entre jovens, proliferam.

Até que nos roubem a luz e arranquem a voz de nossa garganta.
 
 

Polícia Militar invade Centro Universitário Fundação Santo André

por jpereira última modificação 14/09/2007 19:53

Ação ocorreu após ocupação pacífica dos estudantes que protestavam contra o aumento das mensalidades

Enio Lourenço,                                                                                                                                                                                                          14/09/2007
de São Paulo (SP)

Os estudantes da Fundação Santo André, após uma assembléia de quase duas horas, ocuparam, nesta quinta-feira (13), o prédio da reitoria do Centro Universitário. A ocupação foi motivada por um aumento das mensalidades que varia de 32% a 126%; além do sucateamento da instituição, principalmente nos cursos de ciências humanas e educação.

A pauta de reinvindicações dos ocupantes incluía, também, a contratação de professores para cursos como geografia, que por falta de docentes não abriu turmas de 1º ano em 2007.

Segundo uma aluna de Ciências Sociais, que preferiu não revelar o nome "para não sofrer nenhum tipo de perseguição", "não são somente os aumentos da mensalidade, mas o descaso com a instituição e os alunos".

O professor da Faculdade de Filosofia e Letras (FAFIL), Ivan Cotrim, confirma o depoimento da aluna e revela, ainda, "existir a manutenção de cargos privilegiados, como o do curador da Casa Amarela (instituição cultural do Centro Universitário) Paulo Barsotti, que chega a receber cerca de R$ 8 mil mensais, extraídos das mensalidades dos alunos".


Invasão

A invasão da Polícia Militar no campus da Fundação Santo André ocorreu por volta das 23 horas e deixou uma grande quantidade de feridos, além de fazer algumas prisões. Cotrim, ao lado do ouvidor interino da PM, Dr. Júlio Neves, contabilizaram cerca de 15 metros de sangue derramados na reitoria após a ação militar.

Ambos, ainda, comprovaram a pacificidade dos manifestantes, quando presenciaram a quebra de objetos, portas, janelas "de fora pra dentro", evidenciando a agressividade gerada somente pela polícia. E, quando questionaram o comandante da PM na operação a respeito da reintegração de posse, esse se absteve e não apresentou documentos que comprovassem seu ato.

Após a ação policial, os alunos e professores se mobilizaram em solidariedade aos companheiros detidos e seguiram em ato até 4º DP, pedindo a soltura.

Os alunos e professores da Fundação Santo André se reúnem, nesta sexta-feira (14), em mais uma assembléia, às 19 horas, com indicativo de greve e paralisação das atividades acadêmicas.

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/policia-militar-invade-centro-universitario-fundacao-santo-andre

Há um certo tempo desejava postar no blog o ato insano e despótico do sr José Serra, com o intuito de fazer com que a memória curta do brasileiro (a mesma que elegeu Abi Ackel,após contrabandear as pedras brasileiras,e o Fernando Collor após roubar tanto que sofreu mpeachment) seja refrescada numa busca por votos mais conscientes, evitando que mais um ditador autoritário e perigoso possa governar nosso já tão sofrido BRASIL!

Mais do Cabo Anselmo, o "cachorro" do Fleury

O ex-cabo Anselmo, jornalistas e historiadores

Victor Gentilli

Octávio Ribeiro, conhecido como "Pena Branca", e Percival de Souza são repórteres policiais da velha e boa cepa. Octávio já é falecido; Percival é um veterano da reportagem. Ambos conseguiram duas façanhas que nenhum outro profissional alcançou. Entrevistaram o polêmico cabo Anselmo, uma das personagens centrais da história do Brasil no período 1964 a 1973. Anselmo desempenhou um papel importante nos episódios de março de 1964 que culminaram com o golpe militar. Liderava a Associação dos Marinheiros e seu discurso no aniversário da entidade, em 25 de março daquela ano, foi o argumento que faltava para a precipitação do golpe. Perto do teor de sua peroração, o discurso de João Goulart no comício de 13 de março, na Central do Brasil, era conversa de liberal...

Após o golpe, Anselmo exilou-se numa embaixada, foi preso, fugiu da prisão, esteve em Cuba e outros países. Mais tarde retornou ao Brasil. Em 1971 mudou de lado e decidiu delatar seus companheiros. Até 1973 operou como agente duplo. Foi responsável pela morte de pelo menos oito pessoas, dentre elas Soledad Viedma, sua jovem companheira que, segundo versões, estaria grávida de sete meses de Anselmo.

A história brasileira deve o conhecimento desses fatos aos jornalistas Octávio Ribeiro e Percival de Souza. O asco, o desconforto, o ódio, até mesmo a preguiça impediriam que um historiador tivesse acesso ao ex-cabo. Jornalistas com o perfil de "Pena Branca" e Percival de Souza cumpriram, assim, uma importante tarefa na reconstrução da história recente do país.

A fala de Anselmo é uma versão, claro. Aliás, várias. A Octávio Ribeiro afirmou que entregou-se voluntariamente em 1971, quando iniciou sua colaboração com a repressão do regime militar. Qualificava a versão com a afirmação, recorrente, de que fora uma escolha "em liberdade". Já na entrevista a Percival de Souza, diz que foi preso pela equipe do delegado Fleury e após um "amaciamento" decidiu colaborar. Detalhes a serem confirmados, se possível.

Entrevistado por Octávio Ribeiro em 1984, Anselmo revelou uma versão e algumas omissões em relação à sua entrevista a Percival de Souza, em 1999. A entrevista de "Pena Branca" teve duas versões: uma da revista IstoÉ, outra em um livro publicado pela Editora Global. A entrevista concedida a Percival de Souza já teve duas versões – na revista Época e no site da revista Época. Os trechos das entrevistas não são exatamente os mesmos. Percival, conforme informou no Observatório da Imprensa na TV, pretende também fazer uma versão em livro.

A versão em livro pode resolver algumas dúvidas que ainda permanecem:

  • Já em 1964 Anselmo não era confiável. Segmentos importantes do Partido Comunista Brasileiro consideram-no agente da CIA. A tese parece fantasiosa, mas vale a pena uma investigação histórico-jornalística.
  • Em 1966, Anselmo foge da prisão. O episódio não está esclarecido.
  • Há um período da vida de Anselmo, entre 1966 e 1971, com muitas lacunas. Cabe investigar.
  • O período da traição. Até para diminuí-lo, companheiros de Anselmo reduzem sua importância como traidor. É indiscutível que as oito mortes do Recife foram causadas por ele. Anselmo falara em mais de cem mortes quando entrevistado por Octávio Ribeiro

Cabe aos historiadores debruçarem-se sobre o material colhido pelos repórteres, e sistematizar velhas e novas questões e incongruências.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mt200499.htm

O misterioso Cabo Anselmo

Por Marcos Doniseti

E o Cabo Anselmo, hein, Nassif? Está querendo receber reparação como perseguido político pela Ditadura Militar, logo ele que traiu na cara-dura ao movimento de oposição, entregando inúmeros e importantes membros da Esquerda para a Ditadura.

Link:

http://tvig.ig.com.br/154223/cabo-anselmo-reaparece-apos-40-anos.htm

Por Urariano Mota

Nassif

É falsa esta frase de Elio Gaspari, "Capturados em pelo menos quatro lugares diferentes, apareceram numa pobre chácara da periferia". Na melhor das hipóteses, Gaspari foi apressado em dar veracidade a um resto de versão, que vem sendo reescrita em sucessivos depoimentos do Cabo Anselmo.

Em meu livro "Soledad no Recife", que publiquei há pouco pela Boitempo, narro e mostro a farsa dessa chácara. Ela entrou como um teatro, Nassif, ou melhor, em nome da dignidade do teatro, a chácara entrou como um cenário medíocre para os crimes.

Primeiro, disseram em 1973 que teria havido um tiroteio na chácara São Bento entre os "terroristas" e as forças da ordem. Com a imprensa submetida à mais sufocante censura, essa versão foi divulgada em todo o Brasil e América Latina. A fonte era a Segurança Press.

Depois, com a democracia, com os depoimentos de testemunhas da prisão dos socialistas, caiu a versão do tiroteio na Chácara. Mas continuou um resto da antiga versão, ou seja, de que eles teriam sido transportados, depois de mortos, para o cenário.

Ora, para escrever "Soledad no Recife", para ser fiel à dignidade dessa mulher, que foi entregue, grávida, a Fleury pelo próprio Cabo Anselmo, pesquisei no prontuário do DOPS, vi as fotos dos crimes, de como desfiguraram uma das mais belas mulheres da América Latina, e posso dizer com a mão na consciência, como ordenava Camões: não há um só indício de ambiente rural, em todas as fotografias.
E pergunto mais: que necessidade haveria, com a imprensa amarrada, amordaçada, de transportar cadáveres do Recife para uma outra cidade? "Os terroristas foram mortos em troca de tiros numa chácara". Ponto. Ponto final. Ninguém ousaria contestar. E ai de quem ousasse.
Um amigo no Rio me citou uma frase que acho bem oportuna para este momento em o Cabo (cabo de coisa nenhuma, apenas marinheiro de primeira classe, com duas fitas, que a imprensa interpretou como patente de cabo) volta à mídia como uma pobre vítima: a coisa que mais surpreende é o passado. Ele está sempre nos ensinando algo que não sabíamos.

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/30/o-misterioso-cabo-anselmo/

Lungaretti e cabo Anselmo: "cachorro" faz juz à anistia?

Atualizado em 27 de junho de 2009 às 21:56 | Publicado em 27 de junho de 2009 às 11:43

CABO ANSELMO: "CACHORRO" FAZ JUS A ANISTIA?

por Celso Lungaretti

 A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça está às voltas com o processo mais rumoroso em seus quase oito anos de existência: o de José Anselmo dos Santos, conhecido como cabo Anselmo.

Hoje com 67 anos, trata-se do mais célebre dos militantes da resistência à ditadura militar que trocaram de lado, passando a atuar (segundo o jargão dos próprios órgãos de segurança) como cachorros da repressão, incumbidos de armar ciladas para os companheiros.

O cabo Anselmo havia sido o principal agitador da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil no período que antecedeu a quartelada de 1964. Depois do golpe, passou vários anos foragido, esteve em Cuba treinando guerrilha e, de regresso ao Brasil, militou na luta armada contra o regime militar, ao mesmo tempo em que colaborava com a repressão da ditadura, atraindo seus companheiros para emboscadas.

Eis como Élio Gaspari relatou, em A Ditadura Escancarada, uma de suas missões:

"A última operação de Anselmo, na primeira semana de janeiro de 1973, (...) resultou numa das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura. Um combinado de oficiais do GTE e do DOPS paulista matou, no Recife, seis quadros da VPR. Capturados em pelo menos quatro lugares diferentes, apareceram numa pobre chácara da periferia. Lá, segundo a versão oficial, deu-se um tiroteio (...). Os mortos da VPR teriam disparado dezoito tiros, sem acertar um só. Receberam 26, catorze na cabeça. (...) A advogada Mércia de Albuquerque Ferreira viu os cadáveres no necrotério. Estavam brutalmente desfigurados".

Quando seu verdadeiro papel ficou evidenciado, ele passou a viver sob a proteção dos órgãos de segurança, que lhe proveram remuneração e fachada legal sob identidade falsa. De vez em quando, para aumentar os ganhos, concedia entrevistas que foram publicadas com destaque na grande imprensa e até viraram livros.

O processo do cabo Anselmo tramita desde 2004 na Comissão de Anistia e ainda não tem julgamento marcado; na página virtual da Comissão há referência a um segundo pedido que ele protocolou em 2005 e foi definitivamente indeferido pelo colegiado.

Defendendo seus interesses na rede virtual de extrema-direita, ele escreveu: "Não aceito a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça de empurrar o julgamento do meu pedido de anistia para o próximo governo".

Não há, claro, nenhuma decisão formal neste sentido, apenas rumores aos quais talvez tenha dado crédito e sobre os quais ingenuamente (ou demagogicamente) se manifesta.

Quanto às entrevistas que, nas últimas décadas, concedeu a Marco Aurélio Garcia, Octavio Ribeiro (Pena Branca) e Percival de Souza, vangloriando-se de suas ignomínias, agora Anselmo alega que teve a sua versão "completamente adulterada e deturpada", pois o que nelas admitiu não convém ao seu propósito atual de obter a anistia.

ESTIGMA DA INFÂMIA – O programa de anistia federal foi criado para oferecer reparações àqueles que sofreram danos físicos, psicológicos, morais e profissionais em decorrência do estado de exceção vigente no Brasil entre 1964 e 1985.

Conseqüentemente, caso o cabo Anselmo tenha sido um militante revolucionário até meados de 1971, só então mudando de lado, sua vida foi mesmo afetada pelo arbítrio instaurado no País, a despeito do juízo moral que façamos de quem chegou a se gabar numa entrevista de haver causado a morte de "cem, duzentos" idealistas que combatiam a ditadura e o tinham como companheiro.

Ou seja, se o poder não tivesse sido usurpado por um grupo de conspiradores em 1964, o cabo Anselmo continuaria presumivelmente servindo a Marinha, ao invés de se tornar um homem que há décadas carrega o estigma da infâmia e precisa viver escondido no próprio país. Daí o seu direito formal à reparação que está pleiteando.

No entanto, esse programa foi uma tentativa de reequilibrar os pratos da balança, depois que a Lei da Anistia de 1979 passou uma borracha no passado, equiparando carrascos e vítimas.

Naquele momento, os vitoriosos impuseram aos vencidos as condições para a pacificação: libertariam presos políticos e deixariam os exilados retornarem ao País, desde que os assassinatos, torturas e atrocidades cometidos ou consentidos pela ditadura ficassem para sempre fora do alcance da Justiça.

O Governo FHC, não podendo ou não ousando remediar essa situação, resolveu, pelo menos, remendá-la, concedendo compensações financeiras aos humilhados e ofendidos.

Daí o mal-estar causado pela impudência com que o cabo Anselmo pleiteou benefício de vítima, após ter sido um dos maiores vilãos do período.

Do ponto-de-vista moral, é chocante vermos um ser tão decaído lado a lado com cidadãos dignos e sofridos; do ponto-de-vista legal, provavelmente não haverá como expulsar esse estranho do ninho.

COOPTADO OU INFILTRADO? – A menos, claro, que se consiga comprovar a tese sustentada por vários de seus ex-colegas da Armada: a de que o cabo Anselmo desde o primeiro momento serviu à comunidade de informações, como agente infiltrado nos movimentos de esquerda.

Alegam, primeiramente, que ele tudo fez para radicalizar os movimentos dos subalternos das Forças Armadas – fator decisivo para que a oficialidade decidisse quebrar seu juramento de fidelidade à Constituição, passando a apoiar os conspiradores.

Logo após o golpe, Anselmo pediu asilo na embaixada mexicana. Mas, embora fosse uma das pessoas mais procuradas do País, resolveu sair andando de lá, sem ser detido.

Algum tempo depois foi preso, exibido como troféu pela ditadura... e logo transferido para uma delegacia de bairro, na qual, diz Gaspari, "Anselmo fazia serviços de telefonista, escrivão e assistente do único detetive do lugar".

A situação carcerária do ex-marujo, continua Gaspari, não cessou de melhorar:

"Com as regalias ampliadas, era-lhe permitido ir à cidade. Numa ocasião surpreendeu o ministro-conselheiro da embaixada do Chile, visitando-o no escritório e pedindo-lhe asilo. Quando o diplomata lhe perguntou o que fazia em liberdade, respondeu que tinha licença dos carcereiros. O chileno, estupefato, recusou-lhe o pedido".

Finalmente, sem nenhuma dificuldade, Anselmo deixou a cadeia em abril de 1966. Nada houve que caracterizasse uma fuga: apenas constataram que o hóspede saíra e não voltara.

Foi para Cuba e só retornou ao Brasil em setembro de 1970, iniciando no ano seguinte sua trajetória de anjo exterminador.

Se ficar estabelecido que o Anselmo sempre foi um agente duplo, Anselmo não fará jus à anistia federal; mas, claro, os antigos comandantes do Cenimar, Deops e órgãos congêneres dificilmente atestarão que ele já estava na sua folha de pagamentos antes da quartelada de 1964.

Caso tenha realmente sido um perseguido político até 1971, seus direitos não são anulados pelas indignidades posteriores.

O certo é que as chamadas provas circunstanciais não bastam para privá-lo da reparação a que moralmente não faz jus.

Então, é provável que a Comissão de Anistia tenha de engolir esse sapo gigantesco: deferir o pedido de um indivíduo infame a ponto de causar a morte da companheira que engravidara (a paraguaia Soledad Barret Viedma), tendo considerado mais importante garantir o massacre de seis revolucionários do que salvar sua amante e a criança que ela concebia.

UM REGISTRO - Por dever de honestidade, informo aos leitores deste blogue que não sou nem um pouco imparcial ao tratar deste assunto. Motivo: Anselmo foi responsável pela cilada que causou a prisão, torturas e morte de José Raimundo da Costa, o Moisés, executado na Casa da Morte de Petrópolis (RJ).

Dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária, o Moisés foi um dos companheiros de militância por quem tive amizade pessoal, daí minha repulsa e desprezo por seu carrasco.

Ele conhecia e estimava o cabo desde que participaram juntos dos movimentos de marinheiros. Conversando comigo, chegou a rechaçar as acusações que o PCB fazia a Anselmo, qualificando-as de tão fantasiosas quanto as que o partidão lançara contra Lamarca.

Pagou muito caro pela confiança irrestrita que tinha no cabo, de quem só reprovava o vedetismo e a puerilidade.

* Celso Lungaretti é jornalista.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/lungaretti-e-cabo-anselmo-cachorro-faz-juz-a-anistia/

Reaparece o cabo Anselmo: será mais uma provocação?

Um dos personagens mais detestados dos anos de chumbo, José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, voltou ao noticiário na semana passada, quando foi tirar impressões digitais para reaver seus documentos de identidade, que não lhe fizeram falta quando vivia sob a proteção dos órgãos de segurança da ditadura militar, nem durante bom tempo depois de restabelecida a democracia no País.

Queixa-se de estar agora em dificuldades financeiras, necessitando de uma reparação da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, à qual acusa de protelar a decisão do seu caso:

"Esse pessoal da esquerda ainda inventa muita mentira. Há muita resistência no governo. Estão me enrolando já faz um bom tempo".

Foi o que também declarou num depoimento muito divulgado pela rede virtual de extrema-direita:

"Não aceito a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça de empurrar o julgamento do meu pedido de anistia para o próximo governo".

O presidente do colegiado, Paulo Abrão, esclarece que havia necessidade formal de confirmação da identidade do requerente, já que ele não possuía documentação legal. Se as digitais revelarem que se trata mesmo do cabo Anselmo, aí o processo poderá seguir seu curso.

Exigências burocráticas à parte, ele é mesmo o cabo Anselmo e circula acompanhado por um amigo e tutor de passado igualmente tenebroso: o delegado Carlos Alberto Augusto, do 12º distrito de São Paulo.

De janeiro de 1970 a 1977, Augusto trabalhou sob as ordens diretas do terrível delegado Sérgio Paranhos Fleury no Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, quando era conhecido como Carlinhos Metralha (por andar amiúde com uma metralhadora pendurada no ombro).

Recentemente apontado ao Ministério Público Federal como torturador por Ivan Seixas, diretor do Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos de São Paulo, Augusto entoa a habitual ladainha de que era "agente de informação" e não fazia o serviço sujo:

"Apenas cumpri meu dever de defender o país do comunismo. Não me arrependo de nada."

Tanto não se arrepende que está prontinho para ajudar a golpearem novamente a democracia, se surgir a oportunidade:

"O país que eu desejo não é este que está aí. Esses caras do governo [Lula] são todos sanguinários. Tudo comunista bandido e covarde. Estou à disposição dos militares na hora em que eles precisarem de novo".

O MAIS NOTÓRIO "CACHORRO" DO FLEURY

Hoje com 67 anos, o cabo Anselmo é o mais célebre dos militantes da resistência à ditadura militar que trocaram de lado, passando a atuar (segundo o jargão dos próprios órgãos de segurança) como cachorros da repressão, incumbidos de armar ciladas para os companheiros. De acordo com o delegado Augusto, só no Deops/SP havia uns 50 deles.

Principal agitador da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil no período que antecedeu a quartelada de 1964, depois do golpe Anselmo foi preso, escapou de forma inverossímil, passou vários anos foragido e chegou a treinar guerrilha em Cuba.

De regresso ao Brasil em 1970, militou na luta armada contra o regime militar, ao mesmo tempo em que colaborava com a repressão da ditadura, atraindo seus companheiros para emboscadas.

Eis como Élio Gaspari relatou, em A Ditadura Escancarada, uma de suas missões:

"A última operação de Anselmo, na primeira semana de janeiro de 1973, (...) resultou numa das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura. Um combinado de oficiais do GTE e do DOPS paulista matou, no Recife, seis quadros da VPR. Capturados em pelo menos quatro lugares diferentes, apareceram numa pobre chácara da periferia. Lá, segundo a versão oficial, deu-se um tiroteio (...). Os mortos da VPR teriam disparado dezoito tiros, sem acertar um só. Receberam 26, catorze na cabeça. (...) A advogada Mércia de Albuquerque Ferreira viu os cadáveres no necrotério. Estavam brutalmente desfigurados".

Quando seu verdadeiro papel ficou evidenciado, ele passou a viver sob a proteção dos órgãos de segurança, que lhe proveram remuneração e fachada legal sob identidade falsa. De vez em quando, para aumentar os ganhos, concedia entrevistas que foram publicadas com destaque na grande imprensa e até viraram livros.

O programa de anistia federal, a cujos benefícios Anselmo aspira, foi criado para oferecer reparações àqueles que sofreram danos físicos, psicológicos, morais e profissionais em decorrência do estado de exceção vigente no Brasil entre 1964 e 1985.

Conseqüentemente, caso o cabo Anselmo houvesse sido, conforme alega, um militante revolucionário até meados de 1971, só então mudando de lado, sua vida teria sofrido um dano plausível em função do arbítrio instaurado no País, a despeito do juízo que façamos de quem chegou a se gabar numa entrevista de haver causado a morte de "cem, duzentos" idealistas que combatiam a ditadura e o tinham como companheiro.

Ou seja, se o poder não tivesse sido usurpado por um grupo de conspiradores em 1964, o cabo Anselmo continuaria presumivelmente servindo a Marinha, ao invés de se tornar um homem que há décadas carrega o estigma da infâmia, vivendo escondido no próprio país. Daí o direito formal que teria à reparação que está pleiteando.

COOPTADO OU INFILTRADO?

A menos, claro, que se consiga comprovar a tese sustentada por vários de seus ex-colegas da Armada: a de que o cabo Anselmo desde o primeiro momento serviu à comunidade de informações, como agente infiltrado nos movimentos de esquerda.

Alegam, primeiramente, que ele tudo fez para radicalizar os movimentos dos subalternos das Forças Armadas – fator decisivo para que a oficialidade decidisse quebrar seu juramento de fidelidade à Constituição, passando a apoiar os conspiradores.

Logo após o golpe, Anselmo pediu asilo na embaixada mexicana. Mas, embora fosse uma das pessoas mais procuradas do País, resolveu sair andando de lá, sem ser detido.

Algum tempo depois foi preso, exibido como troféu pela ditadura... e logo transferido para uma delegacia de bairro, na qual, diz Gaspari, "Anselmo fazia serviços de telefonista, escrivão e assistente do único detetive do lugar".

A situação carcerária do ex-marujo, continua Gaspari, não cessou de melhorar:

"Com as regalias ampliadas, era-lhe permitido ir à cidade. Numa ocasião surpreendeu o ministro-conselheiro da embaixada do Chile, visitando-o no escritório e pedindo-lhe asilo. Quando o diplomata lhe perguntou o que fazia em liberdade, respondeu que tinha licença dos carcereiros. O chileno, estupefato, recusou-lhe o pedido".

Finalmente, sem nenhuma dificuldade, Anselmo deixou a cadeia em abril de 1966. Nada houve que caracterizasse uma fuga: apenas constataram que o hóspede saíra e não voltara.

Em sua excelente coluna desta terça-feira (4), "O dito cabo Anselmo" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0408200909.htm), que recomendo com entusiasmo, o jornalista Jânio de Freitos assim comenta tal episódio:

"O compreensível ódio da oficialidade desacatada pelos marinheiros, logo na mais classista das forças militares, transmudou-se em represália feroz quando o golpe possibilitou a prisão da marujada rebelde. Masmorras e prisão nas piores condições em navios foram o destino comum dos apanhados. Não, porém, para o maior incitador da rebelião e das ameaças à oficialidade: Anselmo foi posto em um pequeno e pacato distrito policial na orla da floresta do Alto da Tijuca, sem vigilância especial, e disponível para seus visitantes. Em poucos dias, não precisou de mais do que sair pela porta para a liberdade. Os visitantes perderam a sua nos dias seguintes".

E foi mais longe o grande jornalista, acrescentando uma informação não muito conhecida sobre Anselmo:

"Também por aquelas alturas, um cartunista jovem e já famoso foi solicitado a ajudar 'o caçado' Anselmo, arranjando-lhe um abrigo por alguns dias. O rapaz deu-lhe a chave de um apartamento. Em troca, recebeu os efeitos habituais da repressão, e mais tarde viveu anos de exílio na Suíça".

NOVA MISSÃO DE AGENTE PROVOCADOR?

Se ficar estabelecido que o Anselmo foi sempre um agente duplo, ele não fará jus à anistia federal; mas, claro, os antigos comandantes do Cenimar, Deops e órgãos congêneres dificilmente atestarão que ele estava na sua folha de pagamentos antes mesmo da quartelada de 1964.

O certo é que as chamadas provas circunstanciais não bastam para privá-lo da reparação a que moralmente não faz jus, inclusive por ter sido, como assinala Jânio de Freitas, "criada, entre outras, para as suas vítimas".

Embora Jânio de Freitas tenha carradas de razão em tudo que afirma, a Comissão de Anistia não poderá basear sua decisão em ilações como a de que a "a história rocambolesca" da fuga do Anselmo, acima relatada, "vale por um atestado". Concordo plenamente, mas temo que isto não seja suficiente, em termos legais.

Outra trecho significativo de sua coluna:

"Anselmo diz ter dificuldades financeiras (...). Tais dificuldades, supondo-se que existam, não eliminam a questão de como se manteve nos últimos 45 anos. E, ainda, o fato de que os serviços secretos e as correntes militares da ditadura, ou delas originárias, nunca abandonaram um dos seus que se mantivesse fiel, como Anselmo. Os anos desde o fim da ditadura estão repletos de nomes e histórias assim. E, por gratidão ou dever funcional, a Marinha e a ditadura deixaram provas do tratamento especial ao dito cabo Anselmo".

Está certo o colunista ao insinuar que as motivações de Anselmo possam ser outras que não as financeiras. É bem capaz de ele continuar recebendo mesada generosa das viúvas da ditadura e estar apenas cumprindo uma nova missão de agente provocador: a de fornecer um trunfo propagandístico contra o programa de anistia federal, caso este indefira o seu pedido.

É tudo de que precisa a extrema-direita para infestar a internet com acusações de que estariam sendo adotados dois pesos e duas medidas.

Alvejar as reparações que o Brasil concede seguindo recomendações da ONU está entre os carro-chefes da propaganda enganosa dos Ternumas da vida, pois as cifras alardeadas causam inveja num país em que nunca houve maior respeito pelos direitos dos cidadãos. [Nem haverá jamais, se as tentativas de introdução de práticas civilizadas continuarem despertando reações tão tacanhas.]

Tudo isso considerado, talvez a Comissão seja mesmo obrigada a engolir esse sapo gigantesco: anistiar um indivíduo ignóbil a ponto de causar a morte da companheira que engravidara (a paraguaia Soledad Barret Viedma), tendo preferido propiciar o massacre de seis revolucionários do que salvar sua amante e a criança que ela concebia.
 
 

Bomba! Segundo ex-diretor do Dops, o cabo Anselmo já era agente duplo em 64

Mal o cabo Anselmo acabava de finalmente mostrar a cara num longo Canal Livre da rede Bandeirantes, o bumerangue a atingiu em cheio: a Folha de S. Paulo divulga na edição desta segunda-feira (31) que Cecil Borer, diretor do Dops carioca à época da quartelada de 1964, revelou que o tinha então a seu serviço.

O jornal afirma dispor da gravação de tal entrevista, na qual Borer (1913-2003) relata a colaboração de Anselmo não apenas com o Deops, mas também com o Cenimar e a CIA.

Conforme venho esclarecendo desde que foi noticiada a pretensão de José Anselmo dos Santos a uma reparação federal (vide http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=593&Itemid=60 - Http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=639&Itemid=71 - http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2009/08/reaparece-o-cabo-anselmo-sera-mais-uma.html), as regras da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça a obrigam a concordar com o pedido se ficar estabelecido que o ex-marinheiro (o apelido de cabo era equivocado) foi mesmo um militante de esquerda até 1971 e só trocou de lado em tal ano, passando a facilitar a prisão e/ou morte dos companheiros.

A única situação em que a Comissão de Anistia pode recusar o pedido de Anselmo, eu sempre disse, é a de que Anselmo já fosse agente duplo em 1964. Havia vários indícios neste sentido, mas nenhuma prova cabal.

A entrevista da Folha pode ser a evidência sonhada pelos que tentam evitar a concessão, a um auxiliar dos carrascos, de um benefício criado para suas vítimas.

A gravação, mais os inúmeros episódios flagrantemente suspeitos da vida de Anselmo, já serão suficientes para provocar muita discussão quando o colegiado for apreciar este processo. A decisão, em tais circunstâncias, seria impossível de se prever.

E se aparecer mais um - um só! - elemento de prova com o mesmo peso das palavras do ex-diretor do Dops, arrisco o prognóstico de que o pedido de Anselmo será unanimemente recusado.

Talvez seja a isto que o ministro da Justiça Tarso Genro estivesse aludindo há algumas semanas, quando aventou a possibilidade de que Anselmo já atuasse como "agente infiltrado dos golpistas" em 1964. Afinal, deu uma declaração enfática demais para quem não tivesse curinga na manga:

"Não cabe a aplicação da Lei da Anistia a pessoas que deliberadamente atuaram como agente do Estado, seja para desestabilizar um regime legal, como era o governo João Goulart, seja depois, numa estrutura paralela".

Então, é bom o Anselmo ir desde já considerando a hipótese de seguir o conselho que Genro então lhe endereçou, de entrar com ação ordinária contra a União, requerendo indenização por haver atuado na repressão política sem reconhecimento do Estado "pela prestação desse regime".

Pois, no próprio ato de recusar-lhe a reparação, a Comissão de Anistia estará reconhecendo sua condição de agente dos serviços de informação do Estado durante décadas. Nada mais justo do que ele ser indenizado por todos esses anos em que trabalhou sem registro em carteira. E sua profissão correta poderá até constar da nova documentação que requereu...

ANTES ELOGIAVA FLEURY. AGORA
DIZ QUE ELE O AMEAÇOU DE MORTE

De resto, a minha impressão é de que sua aparição na TV deve ter causado ao telespectador comum o mesmo asco que provocou em nós, conhecedores dos fatos esmiuçados no Canal Livre de 30/08/2009.

Tentando conciliar as mentiras atuais com as que contou aos jornalistas-escritores Octávio Ribeiro (Pena Branca) em 1984 e a Percival de Souza em 1999, Anselmo enredou-se em inúmeras contradições e não foi crível ao afirmar que a repressão lhe prometera poupar Soledad Barret Viedma, a militante uruguaia cuja morte propiciou a despeito de estar gerando uma criança dele.

Anselmo anteriormente afirmou ter apenas apelado à repressão para que a poupasse. Ao contar o conto de novo, aumentou um ponto. Só que a cascata pegou mal, já que as bestas-feras da ditadura não eram dadas a fazer promessas desse tipo. Então, ele perdeu outro tanto de credibilidade, se é que ainda tinha alguma.

Foi penoso acompanharmos as fanfarronices e as justificativas tortuosas de Anselmo ao longo de aproximadamente hora e meia de programa.

De um lado, repetiu os mais surrados clichês da propaganda anticomunista. E soaram extremamente inverossímeis suas declarações de que traiu os movimentos de resistência para evitar uma guerra civil, embora noutros momentos admitisse o despreparo e a inferioridade de força dos grupos guerrilheiros face à ditadura.

De outro, tentou angariar alguma simpatia para sua cruzada atual ao falar sobre torturas e coações que teria sofrido. Só que levou um xeque-mate quando disse ter sido ameaçado de morte pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury e lhe foram atirados na cara os elogios rasgados que fez outrora ao sinistro personagem.

ANSELMO FOI PRESO POR ENGANO
EM 64. DEPOIS, ENCENARAM SUA FUGA

Quanto á notícia da Folha, Ação de Anselmo é pré-64, diz policial (assinantes do jornal ou do UOL podem acessar em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc3108200909.htm), causa estranheza a entrevista do ex-diretor do Dops só estar sendo divulgada hoje, oito anos depois de concedida e seis anos depois da morte de quem a concedeu. A grande imprensa tem razões que a própria razão desconhece.

Eis os principais trechos:

"Diretor do Dops carioca à época do golpe de Estado de 1964, o policial Cecil Borer (1913-2003) afirmou dois anos antes de morrer que o marinheiro de primeira classe José Anselmo dos Santos, mais célebre agente duplo a serviço da ditadura militar, já era informante da Marinha e da polícia política antes da deposição do presidente João Goulart.

"As entrevistas de Borer ao repórter da Folha foram concedidas em 2001 na apuração para um livro e uma reportagem. Ele autorizou a gravação.

"O policial, denunciado como torturador de presos durante três décadas, teve atuação destacada nas prisões após o golpe de 1964. Aposentou-se em 65.

"Ao ser entrevistado pela Folha, ele tinha 87 anos. Narrou 'pressões' físicas contra presos, negou a condição de torturador e falou de agentes infiltrados na esquerda.

"No começo de 1964, Anselmo presidia a AMFNB (Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil). Borer contou que ele já era informante do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) da Guanabara, do Cenimar (Centro de Informações da Marinha) e dos "americanos" - a CIA (Agência Central de Inteligência).

"Foi categórico: '[Antes de abril de 1964, Anselmo] trabalhava, trabalhava'. Para quem? 'Para todo mundo.' Detalhou: 'Ele trabalhava para a Marinha, ele trabalhava para mim, trabalhava para americano'. Não esclareceu a data em que o militar teria aderido.

"Conforme Borer, Anselmo não foi um infiltrado escalado para se misturar aos marinheiros. O ex-diretor disse que ele foi recrutado pelo Cenimar quando já atuava na associação.

"O policial afirmou que as informações transmitidas por Anselmo eram compartilhadas por Cenimar e Dops com classificação 'A', exclusiva de fonte de alta confiança. Os organismos tratavam-no por nome em código. 'Não havia segredo entre Dops e Marinha. (...) Esse trabalho, essa informação veio do Anselmo, então é classe A'.

"Dias após a queda de Goulart, Anselmo se asilou na Embaixada do México no Rio. Em pouco tempo abandonou o local e se abrigou em um apartamento na zona sul. No dia seguinte, foi detido e levado para o Dops.

"Ele disse que o esconderijo foi identificado por agentes seus infiltrados entre exilados no Uruguai. Informaram o endereço a um policial que ignorava a dupla militância de Anselmo, que acabou preso.

"Sua condição de informante, diz Borer, era de conhecimento restrito, mesmo no Dops e no Cenimar: 'Então Anselmo veio, tá preso, você não vai soltar, que não vai queimar'.

"Anselmo retomou a liberdade somente em 1966, quando Borer já estava aposentado, ao ir embora de uma delegacia no bairro do Alto da Boa Vista onde estava preso. Lá, ele circulava quase sem restrições.

"A fuga foi uma farsa, disse Borer. O objetivo do que descreve como encenação de colegas seus foi infiltrar o agente na esquerda clandestina. Anselmo foi para o Uruguai, onde entrou no MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), grupo dirigido por Leonel Brizola.

"A seguir, treinou guerrilha em Cuba. De volta ao Brasil, aderiu à VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organização armada depois dizimada por suas delações.

"Em entrevista ao repórter Octávio Ribeiro, em 1984, Anselmo disse que se entregou por iniciativa própria ao Deops por volta de 1971 e nunca foi torturado. Em 1999, assegurou ao repórter Percival de Souza que foi surpreendido e preso pelo Deops e que o torturaram antes da mudança de lado."
 
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/bomba-segundo-exdiretor-do
 
O povo brasileiro precisa ter a memória sempre refrescada (e os mais jovens precisam ter acesso às informações verdadeiras), pois só assim poderemos impedir que mais um ato indecente seja cometido no Brasil. Cadê a "carrocinha" para levar o cabo Anselmo?
Capacho do ordinário delegado Fleury, só poderia mesmo ser coisa muito ruim, gente da pior espécie. Dedo-duro, traidor, ignóbil... Que a justiça seja feita! Ele fala em anistia e nós falamos em JUSTIÇA, PUNIÇÃO, JULGAMENTO, LEI. Ele tem que, como todos os demais que torturaram, traíram e causaram mortes durante a ditadura, ser julgado e, claro, condenado.