domingo, 13 de setembro de 2009

Livro do Gabeira ... lembranças e atual momento político

O que é isso, companheiro? Parte II
Guilherme Evelin
 
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A importância histórica de determinado período só costuma ser avaliada em retrospecto, com muitas décadas de intervalo. É diferente com os anos 60. "A importância transcendental que os contemporâneos atribuíram a seu próprio tempo – e a si mesmos – foi um dos traços característicos da era", escreveu o historiador inglês Tony Judt. Embora pretenda cobrir toda a vida pública do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), até o episódio recente em que seu nome foi citado no caso do uso abusivo de passagens aéreas por parlamentares, Dossiê Gabeira – o filme que nunca foi feito (Editora Globo, 259 páginas, R$ 34) acaba se concentrando mais nos "anos rebeldes". Boa parte da obra, feita no formato de entrevista, é dedicada às memórias de Gabeira de sua "pequena" participação no sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em 1969, por grupos da luta armada contra a ditadura militar. Bom entrevistador, o jornalista Geneton Moraes Neto extrai de Gabeira algumas revelações em um assunto amplamente coberto na autobiografia O que é isso, companheiro? . Uma delas: o ator Carlos Vereza tingiu o cabelo de Gabeira como parte do disfarce na fuga depois do sequestro. Outra: Gabeira teve um diálogo com o então delegado e hoje senador Romeu Tuma (PTB-SP), no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde fora torturado. Geneton obtém de Gabeira uma confissão de arrependimento em relação ao sequestro. Esse revisionismo é entremeado de outros depoimentos. Um deles é o do ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Um dos idealizadores da captura de Elbrick, Franklin, diz Gabeira, virou seu "inimigo". Franklin discorda dos relatos de Gabeira sobre o sequestro. "Ele acha que fui desonesto por ter subestimado a inteligência e a seriedade dos participantes. Ora, sou crítico em relação a mim mesmo! Narrei coisas ridículas e equivocadas que cometi", diz Gabeira. Essa divergência de visões sobre o passado, crucial para entender a oposição de Gabeira ao governo Lula, é apenas tangenciada pelo livro. Quem quiser um debate mais aprofundado sobre a luta armada e a redemocratização do país pode mergulhar na extensa bibliografia de reminiscências sobre essa era.

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REMINISCÊNCIAS
Gabeira, no ano passado. Mais memórias dos anos 60

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