LOGORRÉIA, O MAL DE LULA
Publicada em:25/10/2009
Brasília (DF) - Demorou, mas o diagnóstico foi feito. Você sabe como é, a ciência tem dessas coisas. Às vezes, o(s) sintoma(s) é(são) claro(s) como água, mas os analistas se perdem, os médicos se confundem, os pesquisadores se perdem num detalhe, os profissionais certos não são consultados. Além dos mais de vinte anos de uma atuação errática, onde não se concentrou na definição dos sintomas, das causas, e por isso mesmo não se podia chegar a um diagnóstico, o paciente circulou livremente. Só depois de sete anos de mandato, a patologia começou a ser examinada mais de perto. Ele se colocou debaixo do microscópio, por assim dizer. A partir daí, uma detida análise foi inevitável.
O diagnóstico é preciso, insofismável: logorréia. Além da caracterização pejorativa a da profusão de frases sem sentido e/ou inúteis, de acordo com o dicionário Houaiss, a logorréia é uma psicopatologia, onde o enfermo tem uma "compulsão para falar, loquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de idéias que passam por sua cabeça." A palavra é dicionarizada desde 1873 logorrhea o que dá a entender que este é um problema antigo, e de difícil diagnóstico, se não houver um esforço concentrado no sentido de identificar o que se passa.
No caso em tela (para usar uma velha expressão que vem bem a calhar), a confirmação do diagnóstico ocorreu imediatamente após uma entrevista do paciente ao jornal Folha de São Paulo, esta semana. Os espasmos logorréicos do paciente incluíram frases como "Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão." A manutenção de José Sarney na presidência do Senado é "uma questão de segurança institucional." O paciente, ainda em espasmos logorréicos, declarou que "a imprensa tem que informar, e não fiscalizar o poder."
Feito o diagnóstico preciso afinal, o paciente não é qualquer um, o que ele diz causa impacto considerável sobre a opinião pública passou-se à fase da busca de motivos para tal distúrbio. Por que o paciente fala o que fala? A primeira e óbvia tentativa foi examinar as origens do paciente. Não, as origens dele são exatamente idênticas às de milhões de brasileiros sofridos que, nem por isso o sofrimento diuturno se tornaram pessoas amorais, sem princípios, sem apreço por qualquer outra coisa que não seja o poder.
A segunda questão que surgiu foi... "E por que ninguém se insurge com veemência suficiente quando o paciente é acometido desses ataques de logorréia no seu caso, uma doença crônica?" A primeira e óbvia alternativa, pena, também foi descartada. A paciência do público com um coitadinho qualquer coitadinho tem limites. A segunda opção, cansaço, foi considerada mais consistente. O cansaço (em duas vertentes) da opinião pública com a sucessão de governantes safados e com o fato de que praticamente ninguém busca fazer a coisa certa abriu a porta para que o paciente seguisse adiante, recusando tratamento e agindo com escárnio diante daqueles (a minoria) que se preocupam com os destinos do País.
Os pesquisadores, ao fazerem o diagnóstico, também tentaram entender outros ângulos dessa aceitação incomum, por parte da opinião pública, de uma pessoa tão enferma note bem, o paciente não exibe surtos de imoralidade, mas sim de amoralidade, quase uma psicopatia. Para isso, foi necessário reunir sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e outros, além dos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e criminologistas que se debruçavam sobre o caso há algum tempo.
Chegou-se à conclusão de que o paciente é um fruto exclusivo de uma sociedade minada pela Síndrome da Subserviência, um mal enraizado no País desde os tempos do Brasil-Colônia. Não interessa quem esteja no poder, o poderoso está sempre certo. Questionar o poderoso é algo inquestionável, sempre perigoso, muitas vezes letal. Desde que sobre alguma coisa para o resto, estará tudo bem, todos baterão palmas até mesmo para o "cartesiano raciocínio político" eivado de amoralidade de um apedeuta logorréico.
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