quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cláudio Abramo

CLÁUDIO ABRAMO (1923-1987) - Uma lição perdida na Folha

Por Gilson Caroni Filho em 27/10/2009

Em 14 de agosto de 1987, o jornalismo brasileiro perdeu um de seus profissionais mais íntegros e combativos. Vítima de um infarto fulminante, morreu na manhã de uma sexta-feira o jornalista Cláudio Abramo. Onze dias depois, em editorial na revista Senhor, Mino Carta lhe dedicaria um artigo de rara beleza. Convém destacar um trecho:

"Em patrão, diria Claudio, não convém confiar em demasia. Talvez não pensasse o mesmo dos jornalistas, aos quais tentou ensinar, além do verdadeiro jornalismo, dignidade profissional e consciência de classe. Mas os jornalistas brasileiros não estão atentos às melhores lições. Quase sempre preferem inclinar-se à vontade do dono, diretor por direito divino, em lugar de acompanhar alguns raros colegas dispostos a professar sua fé em um tipo de imprensa que transcende os interesses de uma família e de uma casta."

Abramo esteve no comando do Estado de S.Paulo e da Folha de S.Paulo. No jornal da família Frias foi chefe de reportagem, secretário e diretor de Redação. Sempre se bateu pelo rigor da apuração, pela edição correta, ignorando angulações demarcadas pelos proprietários dos veículos. Seus critérios de escolha nunca colocaram interesses empresarias acima da ética. Não fez concessões ao jornalismo declaratório. Nunca obedeceu aos cânones que estabelecem a primazia da opinião sobre a informação. Foi, sem dúvida, um professor com poucos discípulos. Um iconoclasta que aceitou viver o sacrifício dos que não se alinham incondicionalmente. Um sacerdote a agir como mediador entre o noticiário e o leitor. A expressão exata de uma deontologia que não separa o profissional do cidadão. Pelo contrário, reforça, por ação recíproca, as duas dimensões de quem age a descoberto.

Procedimento curioso

São homens desse porte que fazem a diferença e mostram, pela ausência, uma imprensa que se perdeu de si mesma. Que ignora a relevante função social que deveria desempenhar, vinculando-se ao princípio das responsabilidades mútuas em uma estrutura democrática para melhor revitalizar o espaço público.

A Folha de S.Paulo é exemplo de como ensinamentos decisivos podem ser apagados por interesses conjunturais, ódios de classe e jornalismo de campanha. O mergulho na mediocridade parece não ter fim e, a julgar pelas últimas edições, o patético parece dar o tom de uma Redação onde patrões e jornalistas partilham o mesmo imaginário, não se dando conta que jamais deixarão suas condições de origem. Nem os patrões virarão jornalistas, nem os escribas, por mais que se esforcem, participarão como membros efetivos das famílias para as quais trabalham com afinco. 

Mas se a tarefa é desconstruir governos, candidaturas, não há problemas. As folhas do aquário se vergam ao menor sopro, apostando na cumplicidade ou estultice do leitor. Vejamos as façanhas mais recentes dos aguerridos funcionários do diário paulista. Nada resulta de incompetência, mas de cumprir com afinco o papel de oposição terceirizada que lhe foi imposto pelas forças políticas conservadoras. 

Na edição de quarta-feira (21/10), tivemos na dobra superior da primeira página a seguinte manchete: "Bolsa de SP prevê queda de negócios pós-taxação". No mesmo dia, o índice Bovespa voltou a subir, e o dólar voltou a se desvalorizar frente ao real. O que esperar de uma Redação comprometida com um mínimo de decência? O mesmo destaque na edição seguinte. Não deu sequer chamada na primeira página de quinta (22/10), apenas uma nota na página B3 (mas sem informar o volume negociado na véspera).

O que mereceu chamada de capa nesse dia? "Beluzzo critica medidas do BC para segurar o câmbio no país". Na verdade, como o texto esclarece, Luiz Gonzaga Beluzzo elogiou a taxação dos capitais especulativos estrangeiros (apenas opinou que as medidas foram tardias e ainda tímidas); mas quem só ler o título terá a impressão diametralmente oposta. Textualmente:

"O ministro Guido Mantega [Fazenda] usou corretamente o único instrumento do qual dispunha para lidar com o problema, que é o IOF. Medidas adicionais deveriam ter sido tomadas pelo Banco Central."

Isso, voltamos a insistir, não revela despreparo, mas um projeto editorial que requer de todos os envolvidos o exercício de canhestros "editores de opinião".

Desnecessário revelar que a manchete principal dessa quinta-feira (22) foi para a frase de Lula, cuidadosamente pinçada em sua longa entrevista ao jornal como a mais "polêmica", matéria-prima para a enxurrada de cartas indignadas de cristãos, cristãos novos e agnósticos. Do ponto de vista ecumênico um procedimento curioso. Como técnica jornalística, uma opção rasteira, lamentável e autofágica.

Vegetação rasteira

Na verdade, a Folha não chegou ao fundo do poço somente na semana passada. Na anterior, havia requentado uma farsa: o suposto encontro que Lina Vieira teve com a ministra Dilma, em que a petista teria pedido para acelerar a investigação contra as empresas da família Sarney.

Há cerca de dois meses, Lina tinha "lembrado" (mas sem apresentar provas) que a alegada reunião a sós com Dilma Rousseff teria ocorrido em 19 de dezembro de 2008 (quando a ex-secretária estava em Natal e ministra, no Rio). Agora, a tal agenda teria sido encontrada (mas não mostrada), indicando data bem diversa: 9 de outubro de 2008, dia em que o próprio Planalto já havia confirmado a presença de Lina em suas dependências.

Uma discrepância de mais de dois meses tira do "relato" original de Lina Vieira, e de suas posteriores alegações, qualquer credibilidade. É inverossímil que, em agosto último, alguém em pleno gozo, supõe-se, das faculdades mentais confundisse dezembro e outubro anteriores. E desmascara mais ainda a leviandade da nova musa da oposição, ao aventar (estimulada pela reportagem?) que a suposta interferência da ministra estaria ligada à eleição de José Sarney para a presidência do Senado – assunto que, um ano atrás, sequer estava em cogitação.

Mas nada disso açula o animus investigandi jornalistas da Folha, clara e entusiasticamente empenhada em "fazer escada" para ex-secretária da Receita Federal. Resta saber o que fará esse jornal se o Planalto provar documentalmente que, em 9 de outubro de 2008, Lina Vieira esteve na presença da ministra Dilma Rousseff juntamente com outras pessoas – e que, portanto, o tal encontro a sós não ocorreu. Dará primeira página? Noticiará o que seja?

O "delenda Dilma" da casa está a cada dia mais pelúcido. Mas não somos tão tolos como pode parecer. Começamos a ler a Folha nos tempos de Cláudio Abramo. Aquele que ensinava o bom jornalismo. Bem diferente da vegetação rasteira que prevalece nas páginas do jornal atualmente.

 

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Band News ataca povo palestino - Proteste com José Arbex

Colegas,
Devido a mais este ataque ao Povo Palestino (veja abaixo), José Arbex,
escreveu e enviou esta mensagem aos emails da BandNews.

O comentário pode ser encontrado em:
http://bandnewsfm.band.com.br/colunista.asp?ID=102

O comentário pode ser ouvido em:
http://bandnewsfm.band.com.br/pop_audio.asp?MMS=http://www.bandnewsfm.com.br/audio/SALOMAO_1410.mp3&ID=203752

Os interessados em enviar seu protesto, podem faze-lo enviando mensagens a :

Fale Conosco da rádio Band News: http://bandnewsfm.band.com.br/fale.asp

Contato geral da rádio: ouvinte@bandnewsfm.com.br

Contato do Salomão schwartzsman: salomao@bandnewsfm.com.br

Telefone do grupo band news: 3131 1313 ( é preciso pedir transferência para
a rádio)

Heitor Reis

CARTA DE PROTESTO

Prezados srs. Produtores da Band news

Recentemente, o comentarista Salomão Schwartzsman cometeu uma grave
injustiça, para dizer o mínimo, ao comentar a concessão do prêmio Nobel da
paz ao presidente dos estados unidos Barack Obama (#).

Segundo Schwartzsman, o prêmio foi concedido a Obama não tanto por aquilo
que ele fez, mas sim por aquilo que propõe. Até aí, tudo bem, é uma
avaliação aceitável. Em seguida, Schwartzsman nota que, historicamente, o
nobel da paz já foi concedido a pessoas que não eram dele merecedores.
Também nisso estamos de acordo.

Mas o que causa espanto é o fato de que ao dar exemplo de um caso de
premiação
não merecida, Schwartzsman citou unicamente o ex-líder palestino Yasser
Arafat. Pior: expressou a sua desaprovação com estranhas caretas, que mais
se assemelharam a estertores de alguém em estado de profunda agonia, sem
sequer explicar a causa da desaprovação, como se fosse óbvio para todos que
Arafat realmente não deveria ter sido
agraciado com o prêmio.

A pergunta é: o que pensa Schwartzsman do prêmio concedido ao assassino e
terrorista de estado Henry Kissinger, responsável pelo morticínio de milhões
do vietnã, laos e cambodja, além de ter sido o principal articulador do
golpe de estado no Chile, em 1973, para mencionar apenas uma parte de sua
brihante carreira homicida? ou o que pensa
Schwartzsman do prêmio concedido a Menachem Begin, conhecido por suas
atividades na organização terrorista Irgun, nos anos 40?

Preocupa-me o fato de que a band news dê cobertura e empreste o seu
prestígio a esse tipo de comentário, absolutamente parcial e desequilibrado.
Schwartzsman utilizou a vossa emissora para expressar um ponto de vista em
sintonia com o do atual governo de Israel, cujas posições extremadas e
racistas já mereceram condenações por parte de Barack Obama e de setores
expressivos da própria sociedade israelense.

Só posso esperar que a band news repare o erro cometido por um de seus
comentaristas e que não caia no lugar comum da ignorância e do preconceito
contra o heróico povo palestino.

Grato pela atenção,

José Arbex, Jornalista, Professor Universitário e Diretor de Relações
Internacionais do Instituto da Cultura Árabe

EM SOLIDARIEDADE

Heitor Reis, membro fundador da Comissão Mineira de Solidariedade ao Povo
Palestino

Carta de Lula a Sarkozy


CARTA DE LULA A SARKOZY
Romeu Prisco

Prezado companheiro Sarkô, 

Sabe ? Venho manifestar-lhe a minha solidariedade pela enorme injustiça que estão cometendo, aí na França, contra a nomeação do seu filho para ocupar alto cargo na administração nacional. Sabe ? Aqui no Brasil não é diferente, eis que já passei por maus bocados em relação à participação dos meus filhos na área governamental por mim presidida. Sabe ? Isso é coisa de invejosos e de uma oposição selvagem, totalmente alheios às necessidades de os nossos países contarem com a colaboração de pessoas preparadas, treinadas, eficientes e desinteressadas, para consecução dos seus elevados objetivos históricos.

Sabe ? Como, além disso, temos algo mais em comum, já que você é casado com uma bela italiana e eu sou casado com uma brasileira, que adotou, pelo "jus sangüíneo", a cidadania da terra de Dante, faço-lhe a seguinte proposta: depois de deixarmos a presidência das nossas nações, vamos associar-nos ao companheiro Berlusca e formar um trio imbatível na assessoria dos órgãos internacionais, voltados ao estabelecimento da paz mundial e ao bem-estar da humanidade. Sabe ? Antes, claro é, vamos curtir umas boas férias na mansão de veraneio do companheiro Berlusca, cercados daquela sua conhecida "hospitalidade", já que ninguém é de ferro.

Parodiando Ibrahim Sued, falecido colunista social brasileiro, "a deman", companheiro Sarkô.

"Bisous" pra Carla.

ass) Lulá da Silvá.


Texto publicado no "Blog Líterolegal:
http://romeu.prisco.zip.net
Respeite os direitos autorais.

25 de cadeia para Gregório Alvarez

 
EX-DITADOR PEGA 25 ANOS DE CADEIA

Publicada em:25/10/2009

Montevidéu - Um general que governou de fato o Uruguai acabou de ser condenado a 25 anos de prisão por ser considerado culpado de 37 assassinatos no contexto da Operação Condor, de 1981 a 1984. Gregório Alvarez nem compareceu ao Tribunal que ditou a sentença justificando a ausência por estar com diarréia. O veredicto foi comemorado pelos militantes de entidades defensoras dos direitos humanos, que desejam que o ex-ditador de 84 anos tenha uma longa vida e deixe a prisão aos 109 anos.

A sentença foi divulgada cerca de 72 horas antes que os dois milhões e 463 mil uruguaios aptos a votar neste domingo (25) fossem às urnas escolher o sucessor do atual Presidente Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, que pela legislação do país está impedido de concorrer à reeleição, mas pode fazê-lo num próximo pleito presidencial.

Os últimos dias de campanha foram marcados por intensas mobilizações que se fossem convertidas em votos dariam uma vitória folgada para o candidato José Pepe Mujica, favorito nas pesquisas com 46% contra 30% de Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, 13% de Pedro Bordabery, 2% de Pablo Mieres, do Partido Independente e 7% de indecisos. Já o candidato da Assembléia Popular, Raul Rodriguez, com uma retórica mais a esquerda, apareceu com um traço.

Em termos de escolha dos 99 deputados e 31 senadores, a aliança de esquerda Frente Ampla está cotada com maioria absoluta, o que aparentemente pode significar uma contradição, já que Pepe Mujica não alcançou o percentual necessário, ou seja, 50% mais um, para vencer no primeiro turno. Das duas uma, ou as pesquisas estão manipuladas ou então o candidato frente amplista não está empolgando tanto quanto os aspirantes ao Parlamento. Neste domingo o mistério será esclarecido.

A campanha pela anulação da Lei de Caducidade (Impunidade) provocou uma mobilização massiva dos militantes pró-direitos humanos. Eduardo Galeano, por exemplo, escreveu um texto, lido por ele mesmo, no encerramento de uma passeata pela principal avenida do centro de Montevidéu, a 18 de julho, que reuniu cerca de 40 mil pessoas, conclamando os "caminhantes da justiça" a darem um basta à impunidade e também corrigirem uma outra injustiça, a que impede os uruguaios residentes no exterior – cerca de 600 mil – a votarem onde se encontram.

A mobilização pelos direitos humanos não se limitou à caminhada. Num colégio público, o Liceu 14, foi descerrada uma placa alusiva a vários alunos que lá estudaram e foram vítimas do terrorismo de Estado. O ato, em clima de muita emoção, reuniu alunos de hoje e de ontem, que lembravam os colegas mortos durante a ditadura e exortavam os jovens a aprofundarem o conhecimento sobre os dias tenebrosos advindos com o golpe de Estado de junho de 1973. Um culto à memória, que de um modo geral as ditaduras tentam apagar.

Ainda no contexto da defesa dos direitos humanos, uma entidade de nome Crisol (cores da esperança), que reúne ex-presos políticos, esteve presente nas inúmeras homenagens prestadas às vítimas do terrorismo de Estado, como na Associação dos Jornalistas Uruguaios, quando foram lembrados profissionais de imprensa assassinados pela repressão como Zilmar Michellini, também senador e Gerardo Gatti, entre outros. A ditadura uruguaia fechou 35 jornais sendo dez fora de Montevidéu.

Foram 172 ou mais as vítimas do terrorismo de Estado. O candidato do Partido Nacional, Luiz Alberto Lacalle, um misto de Paulo Maluf e Janio Quadros - por ser chegado à grana por métodos questionáveis e ainda ao copo – em uma declaração recente disse que só seis pessoas foram vítimas da ditadura, que o seu partido e o Colorado apoiaram ou se omitiram pelo silêncio. Lacalle fez este cálculo possivelmente sob os efeitos do álcool, garantem os críticos ao candidato do Partido Nacional.

Este Uruguai de pouco mais de três milhões de habitantes deve servir de exemplo para uma profunda reflexão dos brasileiros sobre o caráter da legislação o que logo após o fim da ditadura protegeu torturadores que praticaram crimes de lesa humanidade, portanto, imprescritíveis. Naqueles anos da metade da década de 80 falar nisso era quase um tabu. Mas hoje, passados muitos anos, no Cone Sul, com exceção do Brasil, a punição dos criminosos está sendo feita pouco a pouco. Todos os acusados têm direito de defesa garantida, o que não acontecia nos anos de chumbo.

Quanto ao tempo passado, o argumento não deve servir de pretexto para se manter a impunidade. Basta lembrar que até hoje, mais de 64 anos depois do fim da II Guerra Mundial, caçadores de nazistas ainda correm atrás dos últimos criminosos que se esconderam nas mais diversas partes do mundo, alguns sob a proteção de serviços secretos de países que combateram o Eixo e muitos batendo a casa dos 90.

É isso aí, Ministro Nelson Jobim!

http://www.diretodaredacao.com/

Saiu finalmente o diagnóstico do presidente Lula!

 
LOGORRÉIA, O MAL DE LULA

Publicada em:25/10/2009

Brasília (DF) - Demorou, mas o diagnóstico foi feito. Você sabe como é, a ciência tem dessas coisas. Às vezes, o(s) sintoma(s) é(são) claro(s) como água, mas os analistas se perdem, os médicos se confundem, os pesquisadores se perdem num detalhe, os profissionais certos não são consultados. Além dos mais de vinte anos de uma atuação errática, onde não se concentrou na definição dos sintomas, das causas, e por isso mesmo não se podia chegar a um diagnóstico, o paciente circulou livremente. Só depois de sete anos de mandato, a patologia começou a ser examinada mais de perto. Ele se colocou debaixo do microscópio, por assim dizer. A partir daí, uma detida análise foi inevitável.

O diagnóstico é preciso, insofismável: logorréia. Além da caracterização pejorativa – a da profusão de frases sem sentido e/ou inúteis, de acordo com o dicionário Houaiss, a logorréia é uma psicopatologia, onde o enfermo tem uma "compulsão para falar, loquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de idéias que passam por sua cabeça." A palavra é dicionarizada desde 1873 – logorrhea – o que dá a entender que este é um problema antigo, e de difícil diagnóstico, se não houver um esforço concentrado no sentido de identificar o que se passa.

No caso em tela (para usar uma velha expressão que vem bem a calhar), a confirmação do diagnóstico ocorreu imediatamente após uma entrevista do paciente ao jornal Folha de São Paulo, esta semana. Os espasmos logorréicos do paciente incluíram frases como "Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão." A manutenção de José Sarney na presidência do Senado é "uma questão de segurança institucional." O paciente, ainda em espasmos logorréicos, declarou que "a imprensa tem que informar, e não fiscalizar o poder."

Feito o diagnóstico preciso – afinal, o paciente não é qualquer um, o que ele diz causa impacto considerável sobre a opinião pública – passou-se à fase da busca de motivos para tal distúrbio. Por que o paciente fala o que fala? A primeira e óbvia tentativa foi examinar as origens do paciente. Não, as origens dele são exatamente idênticas às de milhões de brasileiros sofridos que, nem por isso – o sofrimento diuturno – se tornaram pessoas amorais, sem princípios, sem apreço por qualquer outra coisa que não seja o poder.

A segunda questão que surgiu foi... "E por que ninguém se insurge com veemência suficiente quando o paciente é acometido desses ataques de logorréia – no seu caso, uma doença crônica?" A primeira e óbvia alternativa, pena, também foi descartada. A paciência do público com um coitadinho – qualquer coitadinho – tem limites. A segunda opção, cansaço, foi considerada mais consistente. O cansaço (em duas vertentes) da opinião pública com a sucessão de governantes safados e com o fato de que praticamente ninguém busca fazer a coisa certa abriu a porta para que o paciente seguisse adiante, recusando tratamento e agindo com escárnio diante daqueles (a minoria) que se preocupam com os destinos do País.

Os pesquisadores, ao fazerem o diagnóstico, também tentaram entender outros ângulos dessa aceitação incomum, por parte da opinião pública, de uma pessoa tão enferma – note bem, o paciente não exibe surtos de imoralidade, mas sim de amoralidade, quase uma psicopatia. Para isso, foi necessário reunir sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e outros, além dos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e criminologistas que se debruçavam sobre o caso há algum tempo.

Chegou-se à conclusão de que o paciente é um fruto exclusivo de uma sociedade minada pela Síndrome da Subserviência, um mal enraizado no País desde os tempos do Brasil-Colônia. Não interessa quem esteja no poder, o poderoso está sempre certo. Questionar o poderoso é algo inquestionável, sempre perigoso, muitas vezes letal. Desde que sobre alguma coisa para o resto, estará tudo bem, todos baterão palmas – até mesmo para o "cartesiano raciocínio político" eivado de amoralidade de um apedeuta logorréico.

É uma vergonha, fruto de uma prepotência que precisa ser erradicada urgentemente!

E ainda dizem que não há preconceito no Brasil!

 

Estagiária de Direito presa por discriminar sargento PM

PMs, em serviço, foram acionados e caso encaminhado a 134ª DL

Telmo Filho

O 3º sargento da Polícia Militar (PM) Fernanda Martins, lotado no 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM) em Campos, foi vítima de racismo na madrugada de ontem durante uma festa que acontecia no interior da Fundação Rural de Campos. Em entrevista ao O Diário, ela disse que não perdoa a estudante de Direito Edina Geigila Marques Ferreira, 32 anos, que foi autuada em flagrante na 134ª Delegacia Legal (DL/Centro) por injuria racial.

Segundo a oficial, Edina, ao entrar no estabelecimento, não permitiu que um segurança revistasse sua bolsa. A cena foi vista pelo sargento que se apresentou como militar para a estudante, na tentativa de fazer o procedimento legal. Foi quando Edina ofendeu Fernanda, chamando-a de "negra e favelada". "E ela repetiu essas palavras várias vezes na frente de muita gente. Disse, ainda, que eu iria morrer negra e favelada", contou.

Fernanda estava acompanhada do filho e afilhado que presenciaram as ofensas. "Nunca passei por isso. Quando eu vi que meu filho estava vendo aquilo tudo, eu pedi que ele fosse embora para casa", ressaltou o sargento, informando que, no momento da confusão, a acusada disse que tem terceiro grau completo em Direito na tentativa de inibir a policial, mas apresentou na delegacia a carteira de estagiária da Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro (OAB/RJ) vencida.

Autuada por injúria racial e encaminhada ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca

Duas testemunhas depuseram na delegacia em favor da policial, que foi amparada juridicamente pela Associação do Grupo Integrado de Amigos Militares e Civis (AGIA). O órgão apresentará uma ação civil ao Ministério Público (MP) por reparação de danos morais. Edina se reservou ao direito de apenas falar em juízo. Na delegacia, ela foi autuada no artigo 140, parágrafo terceiro, combinado ao artigo 141, III, do Código Penal (injúria por discriminação racial), crime inafiançável e a pena varia de um a três anos. Ela foi conduzida para o anexo feminino do Presídio Carlos Tinoco da Fonseca, no Centro de Campos.

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O "PAI"

 
O "PAI"
Laerte Braga

Juan Carlos Ramirez Abadia cumpre pena por tráfico de drogas. Foi preso em São Paulo numa operação da Polícia Federal em sete de agosto de 2007. Abadia foi detido em sua residência, uma espetacular mansão no condomínio Aldeia da Serra, um dos mais luxuosos da capital do condado "socialista" FIESP/DASLU e, por decisão do Supremo Tribunal Federal, extraditado para os Estados Unidos.

Na cinematográfica casa de Abadia foram encontradas coleções de relógios de grife, obras de arte, automóveis alguns com valor superior a um milhão de reais, além de uma "expressiva" quantia em dinheiro.

Juan Carlos Ramirez Abadia tinha como fachada a ocupação de "empresário" e entre seus planos estava o de montar uma empresa de táxi aéreo operando a partir do aeroporto do Campo de Marte. Lá a vigilância é menos severa e se tornaria mais fácil o transporte de valores (dinheiro) para paraísos fiscais. O produto do lucro com o tráfico de drogas.

Para o transporte de drogas o grupo empresarial de Abadia, o cartel de Valle Del Norte na Colômbia, dispunha de submarinos de vinte metros de comprimento. Era com esses equipamentos que sua empresa fazia a droga chegar aos EUA e a várias partes do mundo, inclusive o Brasil.

O governo norte-americano calculou que Abadia, em dez anos, movimentou mais de um bilhão de dólares em drogas só no mercado dos EUA. O faturamento pessoal de Abadia era da ordem de setenta milhões por mês.    

Em 2008 todos os bens de Abadia no Brasil foram leiloados e comprados. Diga-se de passagem, que inclusive as cuecas.

Segundo o Drug Enforcement Administration (DEA), agência do governo de Washington para o combate ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro Abadia seria o segundo homem mais perigoso do mundo, logo após Osama bin Laden. Discutível isso, mas, é a opinião deles.

Boaventura de Souza Santos, num belo artigo, trata de hipnose. Conceitua e tece considerações em torno do assunto para concluir que Barack Obama é um hipnotizador. Sugere que Obama induziu as pessoas a acreditar que sua eleição significou uma grande mudança na ordem política, econômica e social em todo o mundo a partir do centro, os EUA, embora tudo continue como dantes, nada tenha mudado, muitas coisas pelo contrário se agravado, o rufar dos tambores bélicos dos mariners em várias partes do mundo, por exemplo.

Abadia nunca subiu o Morro dos Macacos no Rio de Janeiro e tampouco qualquer morro em São Paulo. Esse setor de sua empresa era recebido pela porta dos fundos, ou nem era. Emissários/funcionários de Abadia se encarregavam da distribuição/abastecimento dos pontos de vendas.

Banqueiros, grandes empresários, organizações de consultoria, parlamentares aqui e na Colômbia, policiais, esses sim, tinham contato com o "empresário". Cliente privilegiado de várias "respeitáveis" instituições bancárias e empresariais, Abadia era até discreto, talvez pela natureza do seu "negócio" (sic). A despeito das coleções de relógios, carros e obras de arte, mantinha-se distante de colunas sociais.

O "empresário" tinha (tem evidente, ainda está vivo) natureza política conservadora, de direita. Contribuiu para os grupos paramilitares do seu país, para as campanhas de Álvaro Uribe, afinal, todos parceiros nos grandes empreendimentos do cartel a que pertencia.

Como decorrência dos "negócios", a compra de armas era fundamental para determinado tipo de operação. Liquidar, por exemplo, deputados, senadores, juízes, líderes comunitários na Colômbia que ousassem se opor ao "progresso", aos "novos tempos", etc, etc. Nos últimos anos o complexo de cartéis que domina aquele país e tem em Uribe seu principal "funcionário", eliminou cinco mil "adversários".

Sabedor da instabilidade dos "negócios", lógico, bolsa de valores, exportação, importação, distribuição, todo o esquema das grandes empresas, manifestou intenção de ser extraditado para os Estados Unidos, assim que foi preso. Não pretendia voltar à Colômbia e nem o governo da Colômbia pediu sua extradição. Colônia norte-americana na América do Sul concordou de pronto com a entrega de Abadia à matriz. Foi mais garantido parta os "negócios". E a extradição a partir do Brasil tornava Abadia imune à pena de morte.

Abadia não vive numa mansão como a que tinha em São Paulo, mas por ossos do ofício assegurou aos seus uma vida "decente", com três lautas refeições diárias, boa moradia, perspectiva de férias uma ou duas vezes por ano e em troca, lógico, garantias de segurança mínima - pelo menos enquanto os sócios entenderem - em sua residência atual.

O "empresário", que se mantém informado, lê jornais, vê televisão, deve estar feliz com o andamento das coisas na Colômbia, enfim o presidente hipnotizador prolongou por mais um ano o Plano Colômbia (o governo trafica, os cartéis tomam conta da produção, distribuição, de todo o organograma e os EUA armam golpes e vão assumindo o controle da Amazônia).

No Brasil nem tanto. A despeito de FHC ter dito que perdemos a guerra contra o tráfico e defendido a liberação do consumo de drogas, as perspectivas de José Jânio Serra, baluarte dos valores de Deus, pátria e família, começam a ficar cada vez mais difíceis. De qualquer forma existe a alternativa Aécio, mas vai ser preciso um esforço muito grande.

Já o Morro dos Macacos, a Maré, todo o esquema usado pelas empresas de Abadia e parceiros para manter, fomentar e ampliar os negócios, esses são detalhes e uma, duas, cem mortes aqui e ali acabam sendo parte dos riscos que qualquer "negócio" oferece.

A CUTRALE invade terras do governo, produz laranjas e sucos com dinheiro do governo. A ARACRUZ CELULOSE, de Ermírio de Moares, paladino do progresso, do desenvolvimento e que trabalha das seis da manhã até a meia noite, associa-se a outros grandes "benfeitores da humanidade" e transforma o estado do Espírito Santo, antigo estado, em propriedade privada. Invade terras quilombolas, indígenas, depreda o meio-ambiente, faz o diabo, mas ganha a capa de VEJA.

Esse é o pulo do gato.

Os caras se escoram em "funcionários" da escola Abadia (resolvem qualquer problema) e liquidam os entraves.

E compraram a mídia. Os meios de comunicação.

A grande ameaça a humanidade, ao pacato cidadão carioca, ou de qualquer metrópole brasileira (nem precisa, Divinópolis, cidade mineira de porte médio os moradores construíram um muro para evitar o morro) é o cara lá do Morro dos Macacos.

E esse pacato cidadão nem pode contar com a proteção policial. Pelo jeito há carência de tênis, blusões, etc entre alguns policiais militares e numa ação da lei "expropriam" o produto do "trabalho" de dois assaltantes, ou pelo menos assim chamados, para o benefício da lei, da ordem, não importa que ao chão esteja um corpo agonizante.

Agonizantes estamos todos nós.

Vai daí que "milhões" morreram de gripe suína (quem vai se atrever a desafiar a afirmação da senhora Miriam Leitão quando a gripe apareceu? Se não morreram milhões tem que dar um jeito para que morram milhões, ela é que não pode ficar desacreditada, afinal é da GLOBO). A economia brasileira foi para o beleléu (vaticínio dessa fantástica versão de Nostradamus). A violência está incontrolável e como o Rio vai poder sediar as Olimpíadas de 2016?

Já começaram a dar a resposta via IBOPE. As pesquisas iluminadas do instituto apontam a direção, a luz, o caminho, a salvação. José Jânio Serra. Por enquanto. De repente pode ser Aécio, guia e condutor dos mineiros.

No fundo, só o modelo político e econômico dos "negócios", o capitalismo.

Abadia tem raiz em ABATTIA, palavra latina que deriva do aramaico ABBA, que significa PAI.

E, pois é então, a GLOBO e todos os grandes veículos que veiculam a luz dos ABADIAS do mundo dos "negócios", ensinam que o caminho passa também por compreender Ana Maria Braga, Xuxa e não se esquecer das verdades diárias ditas nas preces do JORNAL NACIONAL ou do sábio William Haack.

A culpa de todos os sofrimentos é do Irã, dos palestinos, dos que moram no Morro dos Macacos, nos morros vários e diversos, do MST.

É preciso agradecer cada momento proporcionado a cada um nesse curral em que os seres são tangidos pela luz que emerge de Wall Street e aqui, do condado "socialista" FIESP/DASLU.

Ah! Quem trafica drogas, ia me esquecendo, imperdoável, heresia, são as FARCs-EP.

Abadia é só um grande empresário.

Homenagem à Marighella

 

10 de dezembro de 2004

Leve flores 

Homenagem à Marighella

No Cemitério da Baixa de Quintas,
Salvador - BA

Na Alameda Casa Branca,
frente ao nº 800,
na Capital de São Paulo

35 anos de sua morte em São Paulo

25 anos do traslado de seu corpo
para a Bahia

Convite

Dia 10 de dezembro de 2004 completa 35 anos do traslado do corpo de Carlos Marighella para o cemitério da Baixa de Quintas, em Salvador, Bahia. Foi a culminação de uma árdua luta travada por familiares e amigos para que Marighella tivesse uma sepultura digna em terras que lhe serviram de berço. Familiares, intelectuais e artistas, representantes de entidades e movimentos sociais farão uma singela homenagem em ato a ser realizado às 16 horas desta sexta-feira diante de seu túmulo.

Assassinado no dia 4 de novembro de 1969, na alameda Casa Branca, na capital de São Paulo, Carlos Marighella foi sepultado por seus algozes como indigente no cemitério de Vila Formosa, onde permaneceu praticamente incógnito. Somente em dezembro de 1979, há três mêses de promulgada a Anistia e há dez anos de seu assassinato, seus familiares conseguiram resgatar seu corpo e transportar para a Bahia.

No cemitério de Quintas, em Salvador, há uma lápide desenhada pelo arquiteto Oscar Niemmeyer, em que está gravada uma figura humana em posição de luta e uma frase muito cara a Carlos Marighella: "Não tive tempo de ter medo".

Neste dia 10 de dezembro não deixe de levar flores em homenagem ao herói que morreu lutando pela indepenência e sobrenia de nossa país, por uma vida digna para todo o povo brasileiro.

Em São Paulo, leve flores à Alameda Casa Branca, em frente ao número 800. Lá também ha uma escultura em homenagem a Carlos Marighella.

Reproduza este material e divulgue o evento... COMPAREÇA!

 

 

EM MEMÓRIA DE CARLOS MARIGHELLA

Marighella Vive

To:  Aos brasileiros

EM MEMÓRIA DE CARLOS MARIGHELLA


Carlos Marighella tombou na noite de 4 de novembro de 1969, em São Paulo, numa emboscada chefiada pelo mais notório torturador do regime militar. Revolucionário destemido, morreu lutando pela democracia, pela soberania nacional e pela justiça social.

Da juventude rebelde, como estudante de Engenharia, em Salvador, às brutais torturas sofridas nos cárceres do Estado Novo; da militância partidária disciplinada, às poesias exaltando a liberdade; da firme intervenção parlamentar como deputado comunista na Constituinte de 1946, à convocação para a resistência armada, toda a sua vida esteve pautada por um compromisso inabalável com as lutas do nosso povo.

Decorridos quarenta anos, deixamos para trás o período do medo e do terror. A Constituição Cidadã de 1988 garantiu a plenitude do sistema representativo, concluindo uma longa luta de resistência ao regime ditatorial. Nesta caminhada histórica, os mais diferentes credos, partidos, movimentos e instituições somaram forças.

O Brasil rompeu o século 21 assumindo novos desafios. Prepara-se para realizar sua vocação histórica para a soberania, para a liberdade e para a superação das inúmeras iniqüidades ainda existentes. Por outros caminhos e novos calendários, abre-se a possibilidade real do nosso País realizar o sonho que custou a vida de Marighella e de inúmeros outros heróis da resistência. Garantida a nossa liberdade institucional, agora precisamos conquistar a igualdade econômica e social, verdadeiros pilares da democracia.

A América Latina está superando um longo e penoso ciclo histórico onde ocupou o lugar de quintal da superpotência imperial. Mais uma vez, estratégias distintas se combinam e se complementam para conquistar um mesmo anseio histórico: independência, soberania, distribuição das riquezas, crescimento econômico, respeito aos direitos indígenas, reforma agrária, ampla participação política da cidadania. Os velhos coronéis do mandonismo, responsáveis pelas chacinas e pelos massacres impunes em cada canto do nosso continente, estão sendo varridos pela história e seu lugar está sendo ocupado por representantes da liberdade, como Bolívar, Martí, Sandino, Guevara e Salvador Allende.

E o nome de Carlos Marighella está inscrito nessa honrosa galeria de libertadores. A passagem dos quarenta anos do seu assassinato coincide com um momento inteiramente novo da vida nacional. A secular submissão está sendo substituída pelos sentimentos revolucionários de esperança, confiança no futuro, determinação para enfrentar todos os privilégios e erradicar todas as formas de dominação.

O novo está emergindo, mas ainda enfrenta tenaz resistência das forças reacionárias e conservadoras que não se deixam alijar do poder. Presentes em todos os níveis dos três poderes da República, estas forças conspiram contra os avanços democráticos. Votam contra os direitos sociais. Criminalizam movimentos populares e garantem impunidade aos criminosos de colarinho branco. Continuam chacinando lideranças indígenas e militantes da luta pela terra. Desqualificam qualquer agenda ambiental. Atacam com virulência os programas de combate à fome. Proferem sentenças eivadas de preconceito contra segmentos sociais vulneráveis. Ressuscitam teses racistas para combater as ações afirmativas. Usam os seus jornais, televisões e rádios para pregar o enfraquecimento do Estado. Querem o retorno dos tempos em que o deus mercado era adorado como o organizador supremo da Nação.

Não admitimos retrocessos. Nem ao passado recente do neoliberalismo e do alinhamento com a política externa norte-americana, nem aos sombrios tempos da ditadura, que a duras penas conseguimos superar.

A homenagem que prestamos a Carlos Marighella soma-se à nossa reivindicação de que sejam apuradas, com rigor, todas as violações dos Direitos Humanos ocorridas nos vinte e um anos de ditadura. Já não é mais possível interditar o debate retardando o necessário ajuste dos brasileiros com a sua história. Exigimos a abertura de todos os arquivos e a divulgação pública de todas as informações sobre os crimes, bem como sobre a identidade dos torturadores e assassinos, seus mandantes e seus financiadores.

Precisamos enfrentar as forças reacionárias e conservadoras que defendem como legítima uma lei de auto-anistia que a ditadura impôs, em 1979, sob chantagens e ameaças. Sustentando a legalidade de leis que foram impostas pela força das baionetas, ignoram que um regime nascido da violação frontal da Constituição padece, desde o nascimento, de qualquer legitimidade. E procuram encobrir que eram ilegais todas as leis de um regime ilegal.

Sentindo-se ameaçadas, estas forças renegam as serenas formulações e sentenças da ONU e da OEA indicando que as torturas constituem crime contra a própria humanidade, não sendo passíveis de anistia, indulto ou prescrição. E se esforçam para encobrir que, no preâmbulo da Declaração Universal que a ONU formulou, em 10 de dezembro de 1948, está reafirmado com todas as letras o direito dos povos recorrerem à rebelião contra a tirania e a opressão.

Por tudo isso, celebrar a memória de Carlos Marighella, nestes quarenta anos que nos separam da sua covarde execução, é reafirmar o compromisso com a marcha do Brasil e da Nuestra America rumo à realização da nossa vocação histórica para a liberdade, para a igualdade social e para a solidariedade entre os povos.

Celebrando a memória de Carlos Marighella, abrimos o diálogo com as novas gerações garantindo-lhes o resgate da verdade histórica. Reverenciando seu nome e sua luta, afirmamos nosso desejo de que nunca mais a violência dos opressores possa se realimentar da impunidade. Carlos Marighella está vivo na nossa memória e nas nossas lutas.

Brasil, 4 de novembro de 2009.

Adriano Diogo, deputado estadual PT-SP
Afonso Carlos Vitor, Empresário
Afonso Celso Lana Leite - Professor do Depto de Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia
Alexandre Oliveira Maciel – Advogado
Aluízio Palmar - Jornalista e escritor
Álvaro Caldas, jornalista e escritor
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Ana De Holanda, cantora e compositora
Ana Magni - Economista do IBGE/RJ
Ana Perugini, deputado estadual PT-SP
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Antonia Felix de Sousa – Professora
Antônio Augusto – jornalista
Antonio Candido
Antonio Cechin, irmão marista, catequista
Antônio Mentor, deputado estadual PT-SP
Antonio Trigueiros, físico atômico.
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Ari Celestino Leite, aposentado e anistiado da Petrobrás
Aristóteles Zakynthinos - Corretor
Arthur Gonçalves Filho, professor
Artur Henrique da Silva, presidente nacional da CUT
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Beth Carvalho, cantora e compositora
Beth Sahão, deputado estadual PT-SP
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Carlos Alberto de Freitas, Professor
Carlos Augusto Marighella - Advogado
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Carlos Gilberto Pereira - Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais - SP
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Chico de Oliveira, sociólogo
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Francisco Soriano de Souza Nunes - Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro
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Frei Betto, escritor
Georges Bourdoukan - Jornalista e Escritor
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Gloria Ferreira - Critica de arte
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Gregório Gomes da Silva
Guida Aflalo - marchand
Guilem Rodrigues da Silva - Juiz
Hamilton Pereira, deputado estadual PT-SP
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Helena Greco, militante de direitos humanos
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Humanos e Cidadania / Belo Horizonte-MG.
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Isa Gomes da Silva
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Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB
Ivan Proença – Professor
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Izaías Almada, escritor.
Jackson Lago , governador cassado do Maranhão, e PDT-MA
Jair Krischke, militante dos direitos humanos.
Janete Capiberibe, deputada federal PSB- Amapá
Joana Darc Gontijo, Presidente da APPMG
João Capibaribe, ex- governador do Amapá, e senador
João Luiz Duboc Pinaud – Advogado
João Marques de Aguiar, Professor
João Miguel, ator
João Pedro Stedile, ativista do MST
Jorge Durán, cineasta
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José de Souza Cândido, deputado estadual PT-SP
José Dirceu, advogado, ex Ministro-Chefe da Casa Civil do governo Lula
José Joffily. cineasta
José Luiz de Araújo Saboya – Metalúrgico
José Pereira da Silva - economista
José Safrany Filho - lutador das causas populares, membro do Comitê Bolivariano -SP
José Sérgio Gabrielle de Azevedo, presidente da Petrobras
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José Zico Prado, deputado estadual PT-SP
Júlio César Senra Barros - Ex Preso Político. Coordenador Municipal do Pronasci-RJ
Jun Nakabayashi, sociólogo
Karla Sant´Ana
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Leonardo Boff, teólogo, escritor
Lincoln Ribeiro - Jornalista / Manaus/Am
Lindberg Faria - prefeito de Nova Iguaçu
Lorena Moroni Girão Barroso, psicóloga, servidora pública federal
Lucio França - Advogado
Luis Cardoso, advogado
Luiz Carlos Lacerda, cineasta
Magda Lopes Campbell, Diretora APPMG
Malu Alves Ferreira - Jornalista
Manfredo Caldas, documentarista
Marcello Cerqueira - Advogado
Marcelo de Barros Souza, benedetino, teólogo e assessor de movimentos populares.
Marcelo Santa Cruz - Militante dos Direitos Humanos, advogado, vereador PT Cidade de Olinda
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Marco Antônio Rodrigues Barbosa, advogado
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Margarida Genevois , socióloga
Margot Queiroz , socióloga
Maria Alice Saboya – pedagoga e jornalista
Maria Amélia de Almeida Teles – União de Mulheres – SP
Maria Angelica Gentile, juíza aposentada
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Maria Christina Rodrigues, Professora e Assessora Parlamentar
Maria Cláudia Badan Ribeiro – Tradutora, doutoranda em História Social – USP
Maria Cristina Capistrano – educadora
Maria das Dores Nascimento - advogada - São Paulo
Maria das Graças Sena – Cineasta
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Maria Julia Martins - cidadã brasileira - rg: 7.775.179
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Mariluce Moura, jornalista.
Mario Albuquerque (Ceará) - Administrador de Empresas
Marly Zavar –coreografa
Marúcia Cabral , analista de sistema
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Miriam Abramovay, socióloga
Mouzar Benedito – jornalista
Narciso Pires - militante de direitos humanos
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Pedro Albuquerque - Advogado e Sociólogo
Pedro Alves Filho, engenheiro
Pedro Casaldaliga, bispo emérito, e poeta
Perly Cipriano – diretório Nacional do PT
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Raymundo de Oliveira - prof. Engenheiro
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Regina Orsi – Historiadora
Regina Paixão Linhares , advogada
Renato Gomes Vieira - Professor
Renato J. Mayer - Tradutor, escritor, economista
Renée de Carvalho
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Romildo Maranhão do Valle (irmão desaparecido político Ramires Maranhão Do Valle PCBR/1973
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Sérgio Muniz, cineasta
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Simão Pedro, deputado estadual PT-SP
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Vera de Fátima Vieira, jornalista
Vera Vital Brasil – Psicóloga clínica, GTNM-RJ, Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro
Vicente Cândido, deputado estadual PT-SP
Vilma Amaro- jornalista e historiadora
Virgílio Gomes da Silva Filho
Vlademir Gomes da Silva
Vladimir Sacchetta – Jornalista e produtor cultural
Wagner Tiso, músico
Wanda Regina Rodrigues, Professora

Sincerely,

Para assinar:
 

domingo, 18 de outubro de 2009

Prêmio Nobel da Paz /2009

 
PRÊMIO NOBEL DA PAZ/2009

Romeu Prisco

Escárnio maior que a concessão do Prêmio Nobel da Paz/2009 a Barack Obama, nem a novela "Caminho das Índias". Como brincadeira, ou piada, foi de péssimo gosto. Desde que assumiu a Presidência dos EUA, Barack Obama não retirou um único soldado dos muitos que permanecem destruindo o Iraque, sem que saibam o "porquê". Também não retirou um único soldado dos muitos que permanecem no Afeganistão, a pretexto de combater o Taleban, o mesmo grupo que, sozinho, expulsou os russos do seu território, para alegria dos norte-americanos. De quebra, Barack Obama continua dando apoio incondicional a Israel, no massacre do povo palestino.

Só os puxassaquistas de costume, elevados ao quadrado, aprovaram essa indicação. Porém, nem tudo está perdido. A esperança é a última que morre. Quem sabe no próximo ano seja feita justiça, com a outorga, "post mortem", do prêmio em tela, a Saddam Hussein, eis que o Iraque, sob o seu comando, vivia dias muito mais felizes. Para que se faça justiça por inteiro, o mesmo prêmio poderá ser dividido com Osama Bin Laden, certamente portador de tantas boas intenções quanto Barack Obama.

O nosso pra lá de bem intencionado Presidente Lula continuará na fila por mais um ano.

Texto publicado no "Blog Líterolegal":
http://romeu.prisco.zip.net

sábado, 17 de outubro de 2009

O genocídio de Ruanda

GUERRA E CINEMA

O genocídio de Ruanda
Por Fernando Masini


John Hurt em cena do filme "Shooting Dogs", dirigido por Michael Caton-Jones
Reprodução

Dois filmes recentes tratam da matança dos tútsis em 1994, em que mais de 800 mil pessoas foram mortas, sob o olhar indiferente do mundo

"Todos os grandes personagens viraram as costas para nossos massacres. Os boinas-azuis, os belgas, os diretores brancos, os presidentes negros, as pessoas humanitárias e os cinegrafistas internacionais, os bispos e os padres, e finalmente até Deus." A constatação é de Élie Mizinge, um dos assassinos confessos hútus que participaram do massacre em Ruanda.

O depoimento deste e de outros nove hútus que pegaram em facões e porretes a fim de exterminar a etnia tútsi está no livro "Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda", do jornalista francês Jean Hatzfeld, lançado no Brasil em 2005. O autor teve longas conversas com os entrevistados na penitenciária de Rilima, onde todos cumprem pena pelos crimes cometidos durante o massacre.

Sete deles eram jovens amigos de colégio, encontravam-se nos cabarés de Kibungo, região pantanosa próxima à capital Kigali e trabalhavam juntos na lavoura. Impressiona a ferocidade e a franqueza dos relatos. "Primeiro, quebrei a cabeça de uma velha mamãe com uma porretada. Mas, como ela já estava deitada no chão, meio agonizante, não senti a morte em meus braços. Voltei para casa de noite sem nem pensar nisso", revela no livro um dos matadores hútus.

As atrocidades aconteceram há 12 anos -os ataques começaram nos primeiros dias de abril de 1994-, e não houve qualquer tipo de intervenção de órgãos de segurança mundial. As tropas da ONU pouco fizeram e mantiveram postura omissa quanto à possibilidade de salvamento das vítimas.

Keir Pearson, roteirista do filme "Hotel Ruanda", declara no material extra do DVD (disponível no Brasil a partir 20 de abril): "Quando comecei a pesquisar o assunto o que me espantou foi que a ONU sabia o que estava acontecendo, foi alertada, mas houve um esforço consciente do Ocidente em ignorar". No filme, uma cena simboliza bem a impotência das tropas diante da milícia extremista hútu Interahamwe, que comandou a ofensiva contra os tútsis.

Integrantes hútus, amontoados no caminhão e empunhando facões, chegam perto do hotel Mille Collines, onde o protagonista Paul Rusesabagina (Don Cheadle) abriga órfãos e tútsis ameaçados pela matança. Em frente ao portão de entrada, está o coronel Oliver (Nick Nolte) com soldados boinas-azuis da ONU. Os milicianos ficam cara a cara com o coronel e gritam palavras de ordem. Para intimidar, jogam fora do caminhão um capacete azul manchado de sangue com a inscrição "United Nation". Oliver apenas acompanha de longe a arruaça promovida por eles.

Outra tentativa de voltar os olhos ao massacre ignorado à época é o filme "Shooting dogs", do diretor escocês Michael Caton-Jones, que estreou recentemente em Londres e já tem contrato fechado com a distribuidora Imagem Filmes para ser lançado no Brasil em agosto deste ano. Assim como "Hotel Ruanda", a ação desenrola-se em um lugar real que serviu de abrigo aos acossados tútsis: a escola secundária Ecole Technique Officielle, com sede em Kigali.

O padre católico inglês Christopher (interpretado pelo ator John Hurt) e um jovem professor tentam a qualquer custo evitar as matanças na capital Kigali e proteger mais de 2.500 tútsis e hútus moderados que são perseguidos pelas milícias extremistas. Mais uma vez, é realçado o caráter de desamparo das vítimas. Quando chegam as tropas francesas à capital, a ordem é clara: só serão resgatados os estrangeiros brancos. Nas horas seguintes à partida dos soldados, a grande maioria dos abrigados da escola é brutalmente assassinada.

"Eu decidi que, mesmo com dificuldades, nós tínhamos que rodar o filme em Ruanda e filmar na Ecole Technique Officielle. E devíamos também fazer o filme com os sobreviventes do genocídio. Eles precisam contar suas histórias", disse o diretor Caton-Jones. A equipe viajou ao país e passou cinco meses até terminar as filmagens em Kigali. Muitos ruandeses participaram do projeto, como Maggie Kenyama que serviu como assistente de direção. Ela perdeu a irmã durante o massacre e até hoje procura pelo corpo.

"Shooting dogs" teve sua estréia mundial em Kigali. Mais de 1.500 pessoas, dentre elas alguns sobreviventes do genocídio e participantes da produção, foram ao estádio Amahoro, na capital de Ruanda, assistir à primeira exibição do filme. Apesar de gerar discórdias por reavivar memórias de um episódio ignominioso, o presidente ruandês, Paul Kagame, mostrou-se satisfeito. "Filme como este ficará como parte de nossa memória relacionada ao genocídio, e eu acho que a memória precisa ser guardada", disse.


Em busca de respostas

A atenção voltada ao massacre de Ruanda, mesmo que tardiamente, pretende resgatar parte da história que havia sido ignorada e também busca questionar a motivação de uma matança sem precedentes na história mundial contemporânea. Os dois filmes em questão, "Hotel Ruanda" e "Shooting dogs", não encerram o assunto nem estão a serviço de uma tese esclarecedora das ações. No entanto, cumprem o papel de tocar na ferida e açular reflexões.

No começo de "Hotel Ruanda", o operador de câmera de uma emissora de televisão, Jack Daglish, interpretado por Joaquim Phoenix, puxa conversa no bar com um jornalista renomado de Kigali, interpretado por Mothusi Magano. Ele pergunta "qual a verdadeira diferença entre um hútu e um tútsi". O jornalista responde que "segundo os colonos belgas, os tútsis são mais altos e elegantes" e, por fim, diz: "Foram os belgas que criaram essa divisão".

Na tentativa de encontrar no passado alguma resposta que possa elucidar esse conflito entre as etnias, o jornalista francês Jean Hatzfeld, autor do livro "Uma temporada de facões", alerta para a revolução popular de 1959 que resultou na independência do país em 1962. Foi uma revolta camponesa hútu que derrubou a aristocracia tútsi e aboliu a servidão. Os líderes dessa insurreição aproveitaram a situação para marginalizar a comunidade tútsi, formada por camponeses, funcionários e professores.

Sob o domínio dos hútus, os tútsis passaram a ser apontados como pérfidos e parasitas num país superpovoado. Em 1973, com o golpe do major Juvénal Habyarimana, a autonomia de administração hútu consolidou-se e gerou bastante desconforto à população tútsi. Ficou instituído o confisco de bens, o deslocamento da população, a fim de isolar o inimigo, além de ter sido aprovada uma lei de proibição de casamentos mistos entre as duas etnias.

O estopim que pareceu deflagrar definitivamente o conflito aconteceu em 6 de abril de 1994, quando o presidente hútu de Ruanda, Habyarimana, foi morto após a explosão do seu avião. Imediatamente a autoria do atentado recaiu sobre os tútsis. A matança iniciou-se na mesma noite na capital Kigali. O resultado seria um total de 800 mil pessoas –entre tútsis e hútus moderados– mortas em 12 semanas.

Nos depoimentos dos matadores entrevistados por Hatzfeld no livro, tende-se a pensar numa ação premeditada e anterior à morte do presidente. "Em 1991, nos jornais militares o tútsi era apontado como o inimigo natural do hútu que precisava ser eliminado definitivamente. Estava escrito em letras garrafais na primeira página. Com o tempo, o alvo foi sendo pouco a pouco difundido nas estações de rádio", disse um dos hútus que participaram da matança.

Não à toa as primeiras falas do filme "Hotel Ruanda" são ameaças veiculadas numa estação de rádio. Segundo Hatzfeld, as mensagens transmitidas por rádio tiveram papel fundamental para inflamar os ânimos dos assassinos. "Nos estúdios das rádios populares, como a Rádio Ruanda ou a Rádio Mil Colinas, os tútsis são chamados de 'baratas'. Apresentadores famosos, como Simon Bikindi e Kantano Habimana, pregam abertamente a destruição dos tútsis", escreveu o autor.

Até o fim do massacre, por volta de 14 de maio, os hútus, acostumados ao trabalho árduo nos bananais e nos cafezais, haviam trocado as atividades pela rotina de matar diariamente. Como declaram no livro de Hatzfeld, era uma tarefa mais lucrativa, que trazia fartura para dentro de casa, pois não se preocupavam mais com a seca e as colheitas perdidas e acumulavam bens com as pilhagens.

Mesmo os hútus moderados, que não compartilhavam da idéia do genocídio, sofreram ameaças por não colaborarem e alguns foram mortos. Muitos desertores tinham de pagar multas em dinheiro ou eram obrigados a matar como forma de provar sua fidelidade às autoridades policiais. É o que ocorre, em certo momento do filme "Hotel Ruanda", com o personagem Paul Rusesabagina, cuja esposa era tútsi.

Ele implora a um oficial do exército hútu para não matar sua mulher e outros vizinhos tútsis que estão jogados no chão. O militar oferece-lhe a arma e ordena: "atire neles". Paul diz que não sabe usar armas e promete retribuir com dinheiro, caso o oficial deixe os amigos em paz. "Quem hesitasse em matar, por causa de sentimentos de tristeza, tinha de disfarçar suas palavras a todo custo e não dizer nada sobre a razão de sua reticência, sob pena de ser acusado de cumplicidade", disse Pio Mutungirehe em depoimento no livro de Hatzfeld.

Por mais que o autor e jornalista francês tenha se lançado numa obsessão a fim de compreender o genocídio em Ruanda -é seu segundo livro sobre o assunto-, as respostas parecem escorregar entre seus dedos. Um dos entrevistados, Joseph-Désiré Bitero, respondeu-lhe: "A fonte de um genocídio o senhor jamais verá, está enterrada bem fundo nos rancores, sob um acúmulo de desentendimentos dos quais herdamos o último. Chegamos à idade adulta no pior momento da história de Ruanda, fomos educados na obediência absoluta, no ódio, fomos entupidos de fórmulas, somos uma geração sem sorte".

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Fernando Masini
É jornalista.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Blog do Azenha - 15 de outubro de 2009 - 8:20 h

 
Mello: Globo admite que somos racistas

Atualizado e Publicado em 14 de outubro de 2009 às 22:45

O Globo desmente Ali Kamel: Brasil é racista, sim
por Antonio Mello, no blog do Mello

Muita gente acha que Ali Kamel é o bambambam das Organizações Globo. Mas,
como já afirmei aqui, ele é apenas um empregado. Não é ele quem dita as
regras, mas sim a família Marinho. Ele é a bola da vez, o cara que
representa (na verdade, o escudo) tudo aquilo que os Marinho (e seus pares –
Mesquita, Civita, Frias) pensam.

Esta semana, O Globo publicou uma reportagem que desmonta todo o raciocínio
de Kamel (e também de seu alter-ego, Magnoli) de que no Brasil não há
racismo.

Sob título "Mulheres e minorias para trás", o repórter Gilberto Scofield Jr.
mostra que a tese de que não há racismo no Brasil é conto da Carochinha e
que o Brasil é racista, sim.

A reportagem saiu na segunda-feira. Mas deveria, por sua importância, ter
saído no domingo. Essa já é uma rendição aos desejos da famiglia.

Se isso não bastasse, para tentar diminuir o impacto da revelação de que
somos um país racista, o foco da reportagem foi a discriminação de gênero
(mulheres ganham menos do que homens) e não a de raça (indígenas e negros
ganham menos do que brancos), mesmo, como afirma o texto, "considerando
grupos com a mesma idade e nível de instrução".

Ainda para tentar manter de pé a tese de que não somos racistas, o repórter
coloca no final da matéria a afirmação de que o fator decisivo é a educação.
Só que, contraditoriamente, no corpo da matéria ele afirma que mulheres
recebem menos do que homens, "a despeito de as mulheres serem mais
instruídas".

Afinal, a educação é ou não fator fundamental para explicar a disparidade
salarial? Num momento (o de gênero), eles afirmam que não. Em outro (de
raça), que sim.

No fundo, é a velha manipulação, que vem sendo denunciada pela blogosfera. O
Globo, a Veja, o Estadão, a Folha publicam para seus pares, enquanto o mundo
ao redor se desmancha como bolhas de sabão.

Leia a íntegra da reportagem:

    Mulheres e minorias para trás

    Brasil é um dos países com maior disparidade salarial da América Latina, diz BID

    Gilberto Scofield Jr.

    A falta de projetos educacionais com foco em mulheres e minorias,
especialmente entre os mais pobres, além da discriminação pura e simples,
colocam o Brasil na incômoda posição de um dos mais desiguais da América
Latina se levadas em consideração as defasagens salariais de gênero e entre
brancos e outras raças/minorias, diz estudo do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade e que
será divulgado hoje.

    No Brasil, as mulheres ganham, em média, 29,7% menos do que os homens, a
maior diferença encontrada entre os 18 países avaliados pelo BID e quase o
dobro da média da região (17,2%). A defasagem salarial por raça no Brasil é
ainda maior, de 30%, e também a mais gritante entre as nações que estão no
estudo do BID.

    O relatório, intitulado "Novo século, velhas disparidades: diferenças
salariais entre gêneros e etnias na América Latina", preparado pelos
economistas Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder, mostra que, na
média da região, negros e indígenas ganham 28% a menos que os trabalhadores
brancos, enquanto homens ganham 17,2% a mais que mulheres. Isso considerando
grupos com a mesma idade e nível de instrução.

    — A desigualdade salarial por gênero não chega a ser um problema grave
em países desenvolvidos da Europa ou nos Estados Unidos, mas é uma realidade
grave no Oriente Médio e, num segundo patamar, na América Latina, que é uma
das regiões mais desiguais, do ponto de vista econômico, do mundo. O Brasil
não tem tantas etnias diferentes como as 21 da Guatemala, mas, nem por isso,
é menos desigual quando comparamos a remuneração de brancos com negros e
descendentes de índios — comenta o economista Hugo Ñopo.

    Diferença é maior no topo da pirâmide

    O modelo de comparação salarial foi criado por Ñopo há sete anos, mas os
dados dos 18 países latino-americanos envolvidos na pesquisa começaram a ser
cruzados efetivamente há dois anos e tomaram como base, no Brasil, a
Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) e levantamentos
semelhantes em outros países.

    O relatório mostra que a defasagem salarial por gênero é alta, a
despeito de as mulheres serem mais instruídas. As trabalhadoras têm, em
média, 0,8 ano a mais de estudo do que os homens na América Latina, o que
não impede que elas recebam bem menos mesmo em cargos semelhantes.

    A defasagem salarial por gênero também é mais alta entre trabalhadores
autônomos, em comparação com os que mantêm vínculos empregatícios formais
nas empresas. A autonomia, dizem, é um ponto positivo e negativo neste caso.
É bom porque dá flexibilidade para as mulheres dedicarem mais tempo aos
filhos, mas, sem o apoio do parceiro, é também uma forma de afastá-las do
mercado de trabalho, reduzindo sua renda.

    No caso das etnias e raças, o BID incluiu no estudo apenas sete países
onde havia informações étnicas disponíveis em suas pesquisas domiciliares:
Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, Peru e Paraguai. Segundo as
estatísticas, há entre 28 milhões e 34 milhões de indígenas na América
Latina (cerca de 10% da população) e, em todos os países, este grupo
representa a maior fatia entre os pobres e miseráveis, apesar de todos os
avanços sociais dos últimos anos.

    Porém, curiosamente, as maiores diferenças salariais estão nos extremos
da distribuição de renda, ou seja, entre os maiores e menores salários. E
entre os homens, os mais velhos e os moradores de áreas rurais. O Equador é
o país com menor diferença salarial: apenas 4%.

    De certo modo, o estudo do BID evidencia, dentro dos países
latino-americanos, o mesmo padrão de uso de mão de obra de minorias de
países desenvolvidos. Esses trabalhadores estão empregados em ocupações de
baixos salários. O que os economistas chamam de "segregação ocupacional"
permeia o mercado de trabalho latino-americano, onde as minorias estão em
posições de chefia ou de empregadores, que recebem os maiores salários.

    — No caso de raça e etnia, o diferencial é notadamente a educação. E o
que se diz aqui é a qualidade da educação, porque a má qualidade educacional
das minorias, uma fatia da população mais pobre, dá a negros e índios menos
condições de competir no mercado de trabalho — explica Ñopo.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/mello-globo-admite-que-somos-racistas/




A restituição do presidente

Atualizado em 14 de outubro de 2009 às 22:34 | Publicado em 14 de outubro de
2009 às 22:34
A Folha é simplesmente ridícula

do blogAmigos do Presidente Lula
Assim como faz com todos que tem alguma ligação com Lula, agora foi a vez da
Folha de S.Paulo investigar a vida do próprio Lula. A matéria nada traz de
novo, além de assuntos requentados, isto é, aquecidos de novo, com outros
fins, que não os de informar, analisar ou interpretar.Sem assunto para a
escrever a matéria, a Folha perdeu a noção do ridículo na tentativa de
escandalizar o nada: "Com mais de 60 anos, Lula recebe restituição no 1º
lote. Oras, oras, a lei não é para todos?" Aqui para quem não assina

A matéria do jornal começa induzindo quem lê, acreditar que o Presidente
Lula está tendo privilégios, levando vantagens, por ser Presidente:"O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva não integra o grande grupo de
contribuintes que esperam do governo a devolução do Imposto de Renda pago a
mais em 2008. Lula recebeu a restituição do tributo no primeiro lote deste
ano, depositado no dia 15 de junho".Pela página do fisco na internet, só é
possível saber que Lula recebeu a restituição no primeiro lote, mas não o
valor do tributo.

O presidente Lula tem 64 anos de idade. A Receita Federal, assim como os
demais órgãos públicos, respeitam o estatuto do idoso. Assim, as pessoas com
mais de 60 anos e que não apresentam pendências na declaração, têm
prioridade na devolução do IR. Juntamente com Lula, mais de 1 milhão de
pessoas acima dos 60 anos receberam a restituição do imposto no primeiro
lote.Ufa!por instantes pensei que a lei não valia para o Presidente.Qual a
credibilidade que pode ser dada a este tipo de jornal?

Sem poder escandalizar ,a matéria, a Folha parte para o lado pessoal: Lula
tem pelo menos duas fontes de renda, seu salário de presidente (R$ 11.420) e
a aposentadoria como indenização por ter sido perseguido pela ditadura
militar (R$ 4.890). Somadas, dão aproximadamente R$ 212 mil por ano
(incluindo os 13º salários).

Faltou a Folha informar: Lula começou a trabalhar aos 14 anos de idade, nos
"armazéns gerais colúmbia", onde teve a carteira assinada pela primeira
vez...e sua aposentadoria só foi conseguida quando já havia completado 50
anos.A aposentadoria do INSS   foi concedida depois que ele ganhou uma
questão contra o governo, por  ter perdido o emprego   depois de ser preso
diversas vezes, quando lutava pelos direitos dos trabalhadores, na época da
ditadura militar...

Você deve saber que ser um líder de esquerda e lutar pelos direitos dos
trabalhadores quando os militares estavam no poder era quase um
suicídio...então essa aposentadoria para mim é mais do que merecida...

Como vocês puderam notar, a informação da Folha é tão relevante, que, vai
mudar o resto de nossas vidas

Mas, pelo menos,  ficamos informados  que, o Presidente Lula ganha menos de
que Kassab que não faz nada.O prefeito Gilberto Kassab (DEM) ganha um
salário mensal de R$ 12.384,04.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-restituicao-do-presidente/


Marco Aurélio, a Globo e o MST

Atualizado em 14 de outubro de 2009 às 22:29 | Publicado em 14 de outubro de
2009 às 22:27
por Marco Aurélio Mello, no Doladodelá, que está contando a história da TV
Globo em riquíssimos detalhes. Ainda dará um livro:

"Os trabalhadores rurais sem-terra acabam de invadir uma propriedade no
Pontal do Paranapanema", gritou um dos produtores da emissora, que ainda
hoje captura a atenção de 3, dos 5 brasileiros que têm TV no país. Era abril
de 2001. (O Abril Vermelho) Imediatamente, a editora-chefe encomendou uma
nota para mim. Liguei para a 'praça', para apurar a notícia. Não teríamos
imagens, porque o local era distante demais da emissora daquela região.

Quanto aos fatos, sabíamos apenas que não houve uso da força e não havia
ninguém na área, apenas um bosque e um enorme pasto, sem uso. O MST
informava que tratava-se, não de invasão, mas de ocupação da área, que
pertencia à União, era terra devoluta. Devoluta? Lá fui eu ao dicionário
pesquisar direito o que era isso. Descobri que o termo derivava de uma lei
de D. Pedro I, de 1850. Eram as terras devolvidas ao Reino de Portugal, caso
não se tornassem produtivas no prazo de seis anos.

Atualmente, a terra é considerada devoluta quando é possível comprovar que
não é registrada, nem possuída por ninguém e está desabitada. Escrevi a nota
dizendo mais ou menos isso (em trinta segundos!). No dia seguinte havia uma
determinação do Rio (nunca dizem quem determinou, mas instintivamente a
gente sabe...).

A ordem era para que, a partir daquele dia, tratássemos as ações do MST de
forma padronizada. No lugar de ocupação, teríamos que grafar invasão. Não
falaríamos em 'terras devolutas, porque o povão não entenderia'. E
acompanharíamos a decisão da justiça sobre a reintegração, ou não, da posse.
Era um ponto de inflexão, se é que me permitem a licença poética.

Aos poucos, e sem alarde, estávamos criminalizando um dos mais legítimos
movimentos reivindicatórios da história do país. Aquele que, em 1996/97
marchou para Brasília e à força incluiu o tema na pauta do Governo de
plantão. Hoje, quem diria, até o Kotscho faz coro contra os sem-terra. Ele
se esquece dos 'provocadores', dos 'infiltrados', dos 'policiais à serviço
dos grileiros', das 'demandas sociais de outros excluídos', que encontram
refúgio no MST e, às vezes, excedem. Mas, mais do que isso, Kotscho se
esquece do saldo de 1600 mortos em conflitos agrários. Que mundo é possível,
vendo a realidade por lentes assim. Sinceramente, eu não sei...

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/marco-aurelio-a-globo-e-o-mst/



A polícia mata, a Justiça enterra e a mídia aplaude

Atualizado em 14 de outubro de 2009 às 22:18 | Publicado em 14 de outubro de
2009 às 22:11
por Marcelo Salles, na Caros Amigos

O desembargador Sérgio Verani, da 5a. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Rio, é autor do livro "Assassinatos em nome da lei", um estudo sobre
dezenas de autos de resistência entre as décadas de 70 e 80. A obra faz
duras críticas ao Ministério Público e ao Poder Judiciário: "O discurso
sobre a neutralidade jurídica e a imparcialidade técnica apenas dissimula o
seu caráter de classe", escreve Verani, para quem tal ideologia se
materializa numa política de extermínio levada a cabo por sucessivos
governos, conforme explica nesta entrevista à Caros Amigos (o delegado
Orlando Zaccone participou como entrevistador).
Caros Amigos - Como o senhor analisa os autos de resistência?
Sérgio Verani - Há muitos anos que são mais de cem autos de resistência,
naquela estatística [divulgada pelo Instituto de Segurança Pública, órgão
estadual]. Lembro que quando chegou a cem foi com o Garotinho, e aí ele
disse assim: "Ah, então isso significa que a polícia está trabalhando". Acho
que é um escândalo.
Pode resumir como fica essa negação da Lei?
É uma morte, na verdade seria um homicídio qualificado, que exige um
processo pra apurar a autoria, mas nada. Não há o processo. A lei aqui não
se aplica, não funciona.
O que mudou da ditadura de 1964 para hoje?
Agora há mais autos de resistência do que na ditadura. Acho que agora é mais
escancarado. Na ditadura havia um clamor "ah, a polícia apontou a arma!".
Agora aponta até para os professores. Pra outras pessoas aponta mais, mata
muito mais. Não é que o auto seja forjado. É uma prática de extermínio.
Forjadas talvez sejam as justificativas.
Para dissimular execuções?
É, porque a execução é evidente. Com dez tiros nas costas, como é que pode
essa vítima estar se defendendo? Eu enxergo uma política de extermínio. Mais
recrudescida nesse século 21, como consequência do próprio sistema político
baseado no capital. Quando é que aparece o Estado? Só aparece na repressão.
Eu acho que não tem saída no capital, só vai exacerbando essa repressão. E o
extermínio faz parte, tem que matar as pessoas, é a lógica do capital, da
sociedade fundada assim.
O que o senhor quer dizer com "capital"?
A constituição social, a estrutura econômica fundada no capital, a
propriedade privada. Essa ideia da saída do Estado das políticas públicas.
Não tem mais médico no Estado, é tudo contratado. Aliás, não tem mais funcionário público. Tem toda a questão da mídia também, quando diz: "Dez traficantes foram mortos". Já com estudante é diferente. Pra quem lê o jornal também. As pessoas não ficam muito horrorizadas se dez traficantes são mortos. O discurso do governador interfere... Quando ele fala "vamos continuar
enfrentando os traficantes", alimenta o confronto, "aqueles são os inimigos,
podem morrer".
Como funciona a cabeça dos seus colegas?
Suponho que funcione como uma legitimação de que a pessoa pode morrer. Acho
que é um desprezo pela vida do outro, porque é o cara que mora lá no morro,
não faz parte da vida da pessoa, não tem relação, é um desprezo.

 
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-policia-mata-a-justica-enterra-e-a-midia-aplaude/

 

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ELZITA SANTA CRUZ, no seu 96º aniversário. Será um ato político pela abertura dos arquivos da ditadura

 

CARTA O BERRO. ..........repassem.

Companheiros (as) segue materia com ELZITA SANTA CRUZ, veiculada no Jornal do Commercio, referente ao seu 96º aniversário, que será um ato político pela abertura dos arquivos da ditadura conforme a própria Elzita noticiou na entrevista

Marcelo Santa Cruz
 


 
MEMÓRIA POLÍTICA
O presente que Elzita espera
Publicado em 11.10.2009

Sem perder o humor, Dona Elzita Santa Cruz completa 96 anos na próxima quarta. Homenagens devem virar ato pela abertura dos arquivos da ditadura

Gilvan Oliveira

goliveira@jc.com.br

Na próxima quarta-feira (14), Elzita Santa Cruz Oliveira comemora seu 96º aniversário, mas seu maior desejo não será atendido: a abertura de todos os arquivos militares do período da ditadura (1964/1985). Nada que tire seu habitual bom humor. "Vou aproveitar e pedir ao presidente Lula de novo. Queria que ele abrisse os arquivos, senão eu não vou ver. Não é possível que eu vá fazer 100 anos, né?", brinca. Ela já havia feito o pedido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva há dois anos, no Palácio do Planalto, numa cerimônia em homenagem às vítimas de violência durante a repressão. Dona Elzita ficou conhecida por ser mãe do funcionário público Fernando Santa Cruz, ex-militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), vítima de um dos mais intrigantes desaparecimentos operados pela repressão, em 1973, então com 26 anos. Depois disso, ela se acostumou a ser um símbolo e viver uma vida sem fronteiras entre a vida privada e a política. A comemoração pelo seu aniversário que o diga.

Na quarta, em Olinda, a festa pelo aniversário de Dona Elzita vai além das homenagens de parentes, amigos e admiradores. Ganhará feições de ato político. Será celebrada uma missa, às 19h, na capela de São Joaquim, no bairro de Jardim Atlântico. Logo em seguida, será servido um coquetel. Vítimas e parentes de vítimas da repressão e militantes de direitos humanos devem aproveitar o evento e reforçar o coro pela abertura total dos arquivos da ditadura. Uma das presenças mais significativas será a da viúva do fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, Clara Charf, de 85 anos. A secretária de Direitos Humanos do Recife, Amparo Araújo, viúva de Luiz José da Cunha, o comandante Crioulo, militante da ALN, confirmou presença. O ministro da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi convidado, mas não tinha confirmado sua vinda até a última sexta-feira.

O pedido de abertura sem restrições vem em contraposição à postura adotada pelo governo brasileiro. Em maio, o presidente Lula enviou ao Congresso projeto de lei para regular a divulgação de documentos públicos. Ele mantém o sigilo para os documentos que tratam de informações que coloquem em risco a defesa à soberania ou à integridade do território nacional, que tratem de negociações ou relações internacionais, planos e operações estratégicas das Forças Armadas, autoridades nacionais, estrangeiras e familiares e atividades de inteligência. Nesse bojo, a família Santa Cruz acredita que podem permenecer secretos dados sobre o que aconteceu a Fernando. No próprio governo, há divergências. O ministro Paulo Vannuchi já se pronunciou a favor da divulgação de documentos que tratem de desaparecidos políticos, seja qual for sua condição.

Em 1973, dona Elzita morava em Olinda e seu filho Fernando, em São Paulo (SP). Ele, a esposa, Ana Lúcia Valente, e o filho de dois anos de idade, Felipe, foram passar o Carnaval no Rio de Janeiro. O casal militava na APML e lá iria se reunir com outros integrantes do grupo. Em 23 de fevereiro daquele ano, Fernando junto com o amigo e companheiro da APML, Eduardo Collier, foram detidos por agentes do DOI/Codi e nunca mais vistos. Em 14 de março de 1974, buscando saber do paradeiro de Fernando e Eduardo, as duas famílias foram ao DOI-Codi em São Paulo. O carcereiro de plantão, conhecido como Marechal, confirmou que eles estavam presos ali, só podendo receber visitas no domingo, dia 17. Foram deixados, então, para eles, objetos de uso pessoal. Mas, no domingo, esses objetos foram devolvidos e as famílias foram informadas que se tratava de um engano: os dois não estavam lá detidos. E nesses 35 anos, não há qualquer indício do paradeiro da dupla nem dos seus corpos, o que transformou Fernando Santa Cruz em um dos principais símbolos de vítima da violência na ditadura.

Dona Elzita escreveu cartas ao então ministro da Justiça, Armando Falcão, noticiando o ocorrido com o filho. Sem respostas. Levou o caso então à Organização dos Estados Americanos (OEA). O governo respondeu à OEA, em 1975, que não havia registros oficiais da detenção de Fernando. Tudo que lhe chegou de informação do filho até hoje foi o comentário que um médico do Exército – ela não disse o nome – fez ao seu marido, o médico-sanitarista Lincoln de Santa Cruz Oliveira, pai de Fernando, falecido em 1986. "Ele era amigo de (Lincoln) Santa Cruz e disse o seguinte: 'tu não tens esperança na volta do teu filho porque eles (agentes da repressão) estão colocando os presos num avião e jogando no mar...' E eu acho que é a verdade mesmo", se resigna. Por esse motivo, Dona Elzita diz, sem amargura, não crer que encontrem o corpo do filho. Mas afirma, com esperança, acreditar que vai encontrar em documentos oficiais a verdade do que foi feito com Fernando naquele sábado de Carnaval, 23 de fevereiro de 1973.


Quando ela mentiu para tirar o título
Publicado em 11.10.2009

Elzita Santa Cruz ganhou notoriedade com o desaparecimento do filho Fernando Santa Cruz. E se orgulha disso. Mas sua inserção na política não pode ser creditada só a esse fato. Dona Elzita revela que sempre gostou da militância. Só não imaginava que ela iria ganhar tamanha repercussão. "Não imaginava tanta política na minha vida. Mas toda a vida eu gostei dela", afirma. É tanto que ela fala com orgulho de suas façanhas e precocidade.

Nascida em Palmares (Mata Sul), Dona Elzita, filha de um senhor de engenho, lembra que na adolescência admirava o líder comunista Luís Carlos Prestes. Lia os jornais da época com especial interesse por política. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde tirou o primeiro título de eleitor. "Foi através da Igreja. Na época, o padre falou que iria ajudar a quem quisesse tirar o título. Mas, antes, ele perguntava em quem a gente ia votar, porque ele não iria tirar título de quem votasse em comunista. Eu menti só para tirar o documento", conta. Além de se orgulhar da façanha, Dona Elzita também se orgulha de ter sido a primeira mulher de sua família a votar, em 1945.

Com a ditadura, dona Elzita experimentou o lado amargo da repressão. Apesar de ficar conhecida pela morte do filho Fernando, seu primeiro revés veio pela militância estudantil do filho Marcelo Santa Cruz, hoje vereador de Olinda pelo PT. Ele teve o diploma de Direito cassado em 1969 e chegou a ser detido. Em seguida, veio um revés maior: a filha Rosalina Santa Cruz, hoje assistente social em São Paulo. Em 1972, ela foi presa por militar na Val-Palmares, grupo armado que lutava contra a ditadura. "Não tive notícias dela por quatro meses. Quando foi visitá-la na prisão, estava com 38 quilos e tinha sofrido um aborto", afirma dona Elzita, que teve 10 filhos do casamento com o médico Lincoln Santa Cruz.

Com a redemocratização, dona Elzita passou ela mesma a militar. Foi uma das fundadoras do PT no Estado, em 1984. Ainda hoje coordena as campanhas do filho Marcelo em Olinda. Pelo conjunto da obra dela e dos filhos, foi uma das três personagens das inserções na TV do programa Memórias Reveladas, do governo federal, exibidas desde o último dia 27. O objetivo é estimular pessoas a repassarem informações ao governo sobre militantes políticos desaparecidos na ditadura.


 
Homenageada como símbolo da luta pela Paz
Publicado em 11.10.2009

Na mesma semana em que Elzita Santa Cruz comemora 96 anos de vida, o Ministério da Cultura (Minc) lança, no Recife, uma exposição fotográfica que vem como uma homenagem a ela. Intitulada 1000 Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, a exposição traz fotos das mulheres de 150 países que serviram como personagens do livro homônimo lançado em 2005 para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. Estão presentes no grupo 52 brasileiras, sendo cinco pernambucanas. E entre elas, dona Elzita.

A obra foi organizada pela associação suíça Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, com o apoio da Unesco. O objetivo era agraciar as 1000 mulheres em um único ano por suas lutas contra a violência e a discriminação, a opressão e a miséria. O comitê do Nobel não as premiou. Mas o projeto ganhou desdobramentos. Entre eles o da exposição de fotos, que acontecerá de 15 a 25 de outubro na representação regional Nordeste do Minc, na Rua Bom Jesus, no Recife Antigo. As outras pernambucanas fotografadas na exposição são: Givânia Maria da Silva, líder quilombola em Conceição das Crioulas, em Salgueiro, Lenira Maria de Carvalho, presidente de honra do sindicato estadual das trabalhadoras domésticas, Zenilda Maria de Araújo, viúva do cacique Chicão, assassinado em 1998 em Pesqueira, e Vanete Almeida, coordenadora da Rede de Mulheres Rurais.

Outra homenagem à dona Elzita está sendo preparada pela família, coordenada pelo vereador Marcelo Santa Cruz. Ele tenta reeditar o livro Onde Está Meu Filho?  Escrita pela jornalista e ex-deputada Cristina Tavares, pelos jornalistas Gilvandro Filho e Jodeval Duarte, Glória Brandão e pelo sociólogo e ex-preso político Francisco de Assis, com colaboração do jornalista Nagib Jorge Neto, a obra foi lançado em 1984 pela editora Paz e Terra em edição única, que rapidamente se esgotou. A editora encerrou suas atividades. Marcelo informou que negocia junto à Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), do governo do Estado, uma publicação da obra ampliada e revisada. O livro relata o drama dos familiares e amigos com o desaparecimento de Fernando Santa Cruz. Marcelo acredita que até o fim do ano terá uma definição sobre esse projeto.