João Vicente Alvarenga
A revista Cult (número 138) reuniu três professores da PUC-SP Edgar de Assis Carvalho, Lucrecia D'Alessio Ferrara e Eugênio Trivinho uma das mais respeitadas instituições privadas de ensino superior no Brasil para discutir a universidade brasileira em três perguntas: quais são os focos da crise universitária no Brasil?; a produção de conhecimento nas instituições privadas é de qualidade?; a universidade pública no Brasil ainda concentra a excelência do ensino no país?
À primeira pergunta, foram dadas as seguintes respostas:
Edgar Carvalho os focos têm a ver com a fragmentação da hegemonia instalada no dispositivo universitário que hoje domina todos os ramos do saber. Enquanto a universidade não se empenhar na religação da cultura científica e da cultura das humanidades a dita crise não se resolverá.
Darcy Ribeiro costumava a firmar que a função da universidade é dominar o conhecimento do seu tempo para poder transmiti-lo às futuras gerações. Por isso, Michel Serres fez um apelo às universidades para que reformassem seu ensino em prol de um saber comum que, depois, se subdividiriam em três grandes plataformas. Não se trataria de uma renegação das especialidades tecnocientíficas, mas de sua inserção em contextos mais amplos. É assim que se formam os verdadeiros intelectuais.
Lucrecia Ferrara parece impossível precisar esses focos porque, na realidade, não é a universidade que está em crise, mas o ensino básico e fundamental. Nesses níveis, tanto no ensino público como no privado, carecemos, de uma rigorosa formação docente que possa construir pilares sólidos de fundamentação instrucional e educação da criança e do adolescente. Na realidade, a dificuldade de rendimento do aluno universitário decorre de uma formação anterior que está muito longe de atender às minhas condições de construção daqueles pilares. A universidade não está em crise, mas, ao contrário, a educação nacional padece de uma patologia crônica que não se reconhece ou que se insiste em relegar para decisões de organismos públicos, eximindo-se a universidade de sua parcela de responsabilidade nessa ação.
Eugênio Trivinho o foco comum desse estado de coisas é um imaginário político e de Estado incompatível com um planejamento estrutural consistente e um forte investimento de longo prazo em educação, ciência e tecnologia, em articulação necessária com políticas sociais permanente de redistribuição de renda mediante geração progressiva de emprego. Já sobre a segunda questão, temos as seguintes respostas:
Edgar as instituições privadas não podem ser colocadas todas elas no mesmo plano. Temos as comunitárias como as PUCs, que se destacam no cenário da ciência feita no país, temos os centros universitários que se dedicam apenas ao ensino e assim por diante. Temos também aquelas faculdades isoladas que formam para o imediato. Por isso a avaliação da produção é assunto delicado. Há produção de excelente qualidade por toda parte. É sempre não generalizar de modo abusivo.
Lucrecia Ferrara a análise da experiência de ensino e pesquisa em instituições nos âmbitos privado e público nos revela que, nos dois organismos, a produção docente e discente tem alcançado níveis quantitativos e qualitativos de grande relevância. As dificuldades de produção atingem, de modo indistinto, as duas instituições, e precisamos analisar a questão com objetividade e sem preconceitos.
Eugênio Trivinho é preciso distinguir instituições de ensino superior privadas stricto sensu e universidades comunitárias. As primeiras condicionam a oferta de cursos a margens imediatas de lucro ampliado. As segundas conjugam necessidades de sustentação orçamentária com políticas socialmente responsáveis e compensatórias embasadas em ofertas de extenso volume de bolsas de estudo. No entanto, inúmeros pesquisadores dessas instituições privadas têm empreendido esforços exitosos, com resultados científicos reconhecidos nacional e internacionalmente.
Professor Mestre em Filosofia
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