quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Perdão dos Criminosos da Ditadura é Irreversível

O Perdão dos Criminosos da Ditadura é Irreversível

Mário Maestri*

Do alto dos seus 62 anos como advogado, evocando mestres falecidos mas não esquecidos, colegas, juízes e desembargadores exemplares com quem conviveu, Paulo Brossard pontificou, na Zero Hora de 4 de janeiro, com a gravidade do patriarca entre os senadores, ao pronunciar-se já mais para a história do que para seus pares e ouvintes: "A anistia é irreversível". O ex-ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal referia-se, é claro, à Lei nº 6.683, apresentada e sancionada pelo general em turno, em agosto de 1979, anistiando parcialmente os atos de resistência à ditadura e, em forma plena, total e irrestrita, os crimes por ela cometidos contra a população brasileira.

Literalmente liquidando a proposta de violação da anistia, "concebida nos altos escalões do governo federal ou quem sabe dos baixos [sic]", invocou seu mestre José Frederico Marques que "ensina o que é corrente entre tratadistas", – a anistia é "ato legislativo em que o Estado renuncia ao direito de punir". Uma "verdadeira revogação parcial, hic et nunc, de lei penal". Competindo ao Legislativo a concessão da anistia, após a promulgação, nem por ele pode ser revogada, sob pena de inconstitucionalidade. Interdição que eleva a "dogma" jurídico, pois a "lei penal só retroage quando benéfica ao acusado [...]". Daí a "irrevogabilidade". Apagado para sempre, o delito não será restabelecido, sob pena de "retroatividade".

Não haveria dúvidas. O constitucionalista lembra que a norma jurídica não se regeria-imporia por sua justiça, mas por sua vigência. Propõe até mesmo que a "anistia pode ser mais ou menos justa" e, portanto, até mesmo injusta. Definitivamente, o "expediente articulado nos meandros [sic] do Planalto", constituiria, para ele, o que em Direito denomina-se de inépcia. Coisa, folga dizer, de ineptos. Porém, para Brossard, a justiça não seria o "caráter marcante" da anistia, o qual se encontraria na obtenção da "paz" – um efeito que escaparia, assim, da esfera jurídica para se realizar na esfera social. Lembra que a versão da anistia aprovada em 1979, proposta sobretudo pela oposição consentida, defendia "anistia recíproca" para, segundo ele, pacificar as "duas partes em que o país fora dividido".

Destaque-se a contradição dessa última leitura: uma anistia, apesar de irrevogável, caso comprometesse a "paz social", perderia sua principal razão de ser! E, desnecessário dizer, se concordamos com o juridicismo geral de Brossard, teríamos que aceitar que, após uma hipotética vitória ou empate do nazismo na II guerra, uma auto-anistia, através de ato legislativo, asseguraria para Hitler, Goebbels, Himmler e caterva o direito, sob a proteção da lei, devido à extinção dos crimes para todo o sempre, de morrerem em suas camas, após gozarem de polpudas aposentadorias de ex-dirigentes do Estado. E sem sequer a obrigação de indicar onde enterraram as cinzas dos milhões de martirizados!

Justiça e Injustiça

Erra Paulo Brossard, no geral e particular. Não há normas e dogmas jurídicos por sobre os direitos dos homens e mulheres, reconhecidos e materializados na e através da história. Exemplifico com realidades conhecidas até mesmo pelos não "tratadistas". No Brasil, o direto do negreiro sobre o cativo foi a base objetiva do estatuto da propriedade, reafirmado pelos costumes e disposições jurídicas e constitucionais. Nos tribunais do RS, por ofensas à ordem escravista, trabalhadores escravizados eram condenados a mil e quinhentas chicotadas e lanhados como uma peça de charque até a morte. Apesar de atos jurídicos perfeitos, aquela propriedade e aquelas penas terroristas eram social e moralmente ilegais, crimes cometidos sob a vigência das leis de então.

Apoiados na lei, os escravizadores lembraram que o fruto da propriedade não podia ser expropriado sem indenização. Que lhes foi concedida, parcialmente, quando a lei de 1871 determinou a liberdade condicional dos filhos das cativas nascidas após aquele ato. Em 1888, os escravistas não discutiam a moralidade da propriedade sobre o cativo, lembrando apenas, com razão, que era preceito legal e constitucional, portanto, necessariamente indenizável, no caso de extinção. Naquela vez não levaram nada – governantes e forças mais "vivas da nação" preocupavam-se já com o financiamento da vinda dos novos negros, os imigrantes, e despreocupavam-se com a indenização legal da "lavoura andrajosa".

Naqueles tempos, o negro Luís Gama, após fugir ao cativeiro ilegal, cursou parcialmente como ouvinte a Escola de Direito do Largo de São Francisco e, já advogado provisionado, libertou talvez um milhar de cativos. Ele defendia que o "escravo que" matasse o "senhor" praticava "ato de legítima defesa". À margem de todas as normas jurídicas de então – e atuais –, apenas reafirmava o direito social e histórico do homem de lutar por sua liberdade essencialmente violada, com as armas de que dispuser e crer necessárias.

Em 1888, devido à nova correlação social de forças, a propriedade sobre o trabalhador, ato legal e constitucional perfeito, foi violada e enterrada inapelavelmente, aflorando em maior grau, ainda que imperfeito, a justiça social e histórica, própria aos homens. Abandonemos, portanto, o filisteísmo e fetichismo da lei petrificada por sobre os direitos dos povos à justiça.

Ato Imperfeito

Porém, Brossard erra em forma mais substancial. A anistia de 1979 constituiu um ato imperfeito, nascido e corrompido pela situação de exceção, em que a ordem militar mantinha-se pela força da violência e do apoio dos grandes proprietários do país e do mundo. Ela foi apenas uma iniciativa parida pela necessidade de garantir, ainda que em forma limitada, os direitos violados de milhares de homens e mulheres. Em um sentido essencial, estes últimos não foram perdoados e não tiveram ações criminosas e delitivas extintas. Não havia o que perdoar, extinguir ou esquecer, ao não terem cometido qualquer crime e delito. Haviam sido e eram perseguidos por ações legítimas, necessárias, morais e ética de oposição aos agressores dos direitos da população brasileira. Tinham exercido o direito e o dever inarredável do oprimido de levantar-se, de todas as formas, contra a opressão grave, referido por Luís Gama. Ato de anistia ao quais os responsáveis máximos pela violação dos direitos cidadãos e nacionais tentaram astutamente enganchar o perdão das ações suas e de seus agentes, essas sim social e historicamente criminosas.

O preclaro Paulo Brossard certamente escutou, ainda adolescente, nos bancos ginasiais, quando das aulas de religião, a lição de que o sacerdote não pode absolver a si e a quem com ele peca. Não podiam absolver nem que fosse por tabela, através do parlamento concedido, emasculado e moldado pela ditadura, em 1979. Não há auto-anistia, ainda mais quando se trata de atos cometidos à sombra da proteção do Estado, de tal gravidade que já são considerados pelo pensamento jurídico internacional como imprescritíveis e não anistiáveis, em uma indiscutível procura de adequação aos direitos sociais e históricos dos povos.

Um Crime Sem Fim

O princípio da imprescritibilidade e inextinguibilidade de crimes de Estado – genocídio, tortura, assassinato, desaparecimento, etc. – tem sido materializado, ali onde a população mobilizada alcança fazer valer em forma mais perfeita a punição de seus ofensores. Nos últimos anos, tem sido anuladas anistias de crimes de Estados concedidas pelos próprios governos criminosos ou por administrações e parlamentos democraticamente eleitos, lançando-se na lixeira das justificativas jurídico-ideológicas os causuísmos com os quais se pretende defender aqueles crimes e criminosos. É o caso da Argentina, onde ditadores, militares e policiais são levados à Justiça, devido à anulação de leis de anistia como a da "Obediência devida", do "Ponto Final" e os indultos de Carlos Menem (1989-1999). A mesma responsabilização judicial de criminosos de Estado se procede, ainda em forma mais parcial, no Chile e Peru, onde o ex-presidente Fujimori encontra-se já condenado e preso.

Paulo Brossard não se engana apenas por defender casuisticamente a vigência e inarredabilidade de lei imperfeita, que agride a essência da justiça e a legalidade. Erra sobretudo por tentar resgatar indiretamente a ação da ditadura. O que registra, em forma clara e explícita, ao propor que aquele diploma legal buscasse a paz, ao enterrar as divergências e os eventuais excessos das "duas partes em que o país foi dividido". Identifica, em forma inaceitável, a vítima ao vitimador, o violentador ao violentado, como na Europa atual procura-se confundir os partigiani aos fascistas italianos; os maquisards aos vichistas franceses; os republicanos aos falangistas espanhóis. Procura-se resgatar, desse modo, lá e aqui, a ação e os atos dos criminosos de Estado, preservando seus quadros, ainda vivos e, sobretudo suas memórias, com as decorrências políticas e sociais inevitáveis para o presente e futuro.

As propostas de revisão da anistia do Plano Nacional dos Direitos Humanos, apenas apresentado, quanto aos crimes e criminosos da Ditadura Militar (1964-1985) são atrozmente limitadas, sobretudo em relação aos avanços realizados em alguns países da América Latina. Não almejam mais do que a revelação dos destinos dos desaparecidos pela ditadura e eventual nominação dos responsáveis diretos. Em parte, a enorme resistência que enfrentam essas tímidas respostas deve-se às posições institucionais que ocupam ainda responsáveis diretos e indiretos por aqueles atos. Sobretudo, ela nasce da vontade dos núcleos centrais das grandes classes proprietárias de manter intocado o direito de impor a exceção e a violência direta e geral sobre a população, quando seus privilégios estejam ameaçados ou assim o exijam. Razão que explica o amplo esforço de apoio à impunidade de oficiais e policiais torturadores, estupradores e assassinos, em alguns casos, confessos.

* Mário Maestri, 61, é historiador. Participou como estudante da resistência contra a ditadura. Foi preso, em 1969, e viveu no exílio de 1971 a 1977. É-mail: maestri@via-rs.net

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A quem interessa manter o esquecimento?

 

Grupo Tortura Nunca Mais-RJ

A quem interessa manter o esquecimento?

No dia 15 de janeiro último, no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, no centro do Rio de Janeiro, foi realizado um ato em homenagem ao militante político, Carlos Marighella, além de outros brasileiros que morreram resistindo à ditadura civil-militar.

O evento foi organizado pelos grupos Tortura Nunca Mais/RJ, Marighella Vive e Exposição Marighella. Cerca de 150 pessoas compareceram.

O ato teve início com a exibição do filme "O Retrato Falado do Guerrilheiro" sobre a vida de Carlos Marighella, dirigido pelo cineasta Sylvio Tendler, seguido de debate. Quase ao final da primeira parte do evento o coordenador da mesa, Carlos Fayal, foi informado pela gerência do Centro Cultural de que através de um telefonema anônimo uma bomba teria sido colocada no prédio. Rapidamente homenagearam-se outros militantes mortos, sendo que a determinação dos responsáveis era deixar o edifício vazio o mais rápido possível.

Estávamos atônitos e perplexos e nos perguntávamos: de onde essas vêm as ameaças de bombas? Quem tem medo dessas homenagens? Quem tem medo da verdade? A quem interessa manter o esquecimento?

O episódio, sem dúvida, foi uma tentativa de intimidar os movimentos que constantemente se manifestam contra as violações dos direitos humanos e tentam trazer para sociedade brasileira o que foi o terrorismo de Estado implantado em nosso país de 1964 a 1985.

Não podemos aceitar estes fatos em um país que se diz democrático e de direito.

Não serão tais ameaças e intimidações fascistas que nos farão desistir da nossa luta pela verdade e pela justiça!

Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2010

Pela Vida, Pela Paz! Tortura Nunca Mais!

Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
Marighella Vive/RJ

Denúncia..............




Repassando..............
 

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

General denuncia que agentes da Blackwater atuam em reservas indígenas e plataformas de petróleo brasileiras

Edição do Alerta Total - www.alertatotal.net
Leia também o Fique Alerta – www.fiquealerta.net

Por Jorge Serrão

Enquanto as atenções dos militares brasileiros estão voltadas para o atendimento às vítimas do terremoto no Haiti e das armadilhas criadas pelo AI-51 do chefão-em-comando $talinácio, denuncia-se uma ameaça objetiva à soberania nacional na Amazônia. O General-de-Brigada da Reserva Durval Antunes de Andrade Nery, adverte que membros fortemente armados da Blackwater (o maior exército privado do mundo) já atuam em reservas indígenas brasileiras contando com bases fluviais bem equipadas.

A denúncia de Andrade Nery foi publicada pelo jornal O Dia, no Rio de Janeiro. Como coordenador de Estudos e Pesquisas do Cebres (Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos) – onde atuam diplomados da Escola Superior de Guerra -, o General Nery também revela a existência de agentes da Blackwater em 15 plataformas de petróleo administradas pela Halliburton na costa brasileira. Devidamente licitadas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), as plataformas pertenceriam à família Bush (dos ex-presidentes dos EUA).

O General Nery reproduziu a O Dia o relato feito por um militar da ativa na Amazônia: "Um coronel que até o ano passado comandava batalhão na região da (reserva indígena) Yanomami contou que estava fazendo patrulha, em um barco inflável com quatro homens, em um igarapé, quando avistou um sujeito armado com fuzil. Um tenente disse: 'Tem mais um cara ali'. Eram cinco homens armados. O tenente advertiu: 'Coronel, é uma emboscada. Vamos retrair.' Retraíram.

Espantado e revoltado, Nery perguntou ao Coronel o que ele tinha feito: "Ele disse: 'General, tive que ir ao distrito, pedir à juíza autorização para ir lá.' Falei: 'Meu caro, você, comandante de um batalhão no meio da Amazônia, perto da fronteira, responsável por nossa segurança, só pode entrar na área se a juíza autorizar? Ele respondeu: 'É. Foi isso que o governo passado (Fernando Henrique) deixou para nós. Não podemos fazer nada em área indígena sem autorização da Justiça".

Nery prossegue com a estória: "O coronel contou que pegou a autorização e voltou. Levou três horas para chegar ao igarapé, onde não tinha mais ninguém. Continuou em direção à fronteira. De repente, encontrou ancoradouro, com um cara loiro, de olhos azuis, fuzil nas costas, o esperando. Olhou para o lado: 10 lanchas e quatro aviões-anfíbio, no meio na selva. 'Na sua área?', perguntei. 'É', respondeu. Ele contou que abordou o homem: 'Quem é você?". Como resposta ouviu: 'Sou oficial forças especiais dos Estados Unidos da América do Norte'. O coronel insistiu: 'Que faz aqui'. E o cara disse que fazia segurança para uma pousada. Ele perguntou qual pousada? Ouviu: 'Pertencente a um cidadão americano'. Quinze homens estavam lá, armados. Hallibourton? Blackwater?"

Grave denúncia

O General Nery confirma, publicamente, como é a relação da Halliburton com a Agência Nacional de Petróleo:

"Esta empresa está envolvida com o apoio logístico em todo o mundo no que diz respeito ao petróleo, principalmente no Iraque. A Halliburton é uma empresa que hoje, no Brasil, mantém um de seus (ex) diretores como diretor da ANP (Nelson Narciso Filho, indicado pelo presidente Lula e aprovado em sabatina no Senado). Esse homem tem acesso a dados secretos das jazidas de petróleo no Brasil".

A Halliburton tem escritórios no Rio de Janeiro e Macaé (RJ) e em Salvador (BA).

Mudança só de nome

A Blackwater recentemente criou uma nova empresa.

Quem atua agora é a Xe Services and US Training Center.

Tudo para continuar prestando seus serviços de segurança avançada e inteligência militar pelo mundo afora.

Gilmar x AI-51

O presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministro Gilmar Mendes, advertiu ontem que o Programa Nacional de Direitos Humanos possui propostas que podem ser incompatíveis com a Constituição Federal.

Gilmar ressaltou que a mais grave incompatibilidade é a questão dos conflitos agrários:

"É difícil compatibilizar esta proposta com a Constituição, embora nós estejamos, em relação a conflitos agrários, que é a questão básica, tomando todas as cautelas. Eu mesmo estou participando de um mutirão no Pará, juntamente com o próprio Incra, para que haja o cumprimento das decisões e os processos não fiquem travados. Mas esta é certamente uma preocupação".

Santo Espírito Jurídico

Gilmar Mendes ainda acha que existe espaço para discussão das propostas:

"Como é um debate inicial, muitas vezes falta o espírito santo jurídico, aquele indivíduo que diz que uma dada norma talvez não seja aceita. Às vezes, há um certo voluntarismo. Mas acredito que o debate é bastante salutar e nós temos muitas carências nesta área de Direitos Humanos".

Os recados de Gilmar sobre o AI-51 foram dados no Rio de Janeiro, durante a solenidade de inauguração da Vara de Execuções Penais Virtual no Tribunal de Justiça.

O filho vai gostar?

Classificado pela nazipetralhada como "linha-dura" nos tempos da dita-dura, o General de Exercito Oswaldo Muniz Oliva dará uma sobre o tema "Exercito Brasileiro e suas Relações Institucionais - Lei da Anistia".

Será no "32º Almoço da ABETA" (Associação Brasil Transparente), no próximo dia 08 de fevereiro de 2010, a partir de meio dia, na Churrascaria Radial Grill, na Zona Leste da capital paulista.

Pena que Oliva não levará seu amado filho, senador petista Aloísio Mercadante, para comer um pedacinho de carne e ouvir a palestra.

Para aprender, quem precisa...

Lições básicas do professor de Direito Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, que escreveu o livro "Comentários ao Código Penal Militar - Artigo por Artigo (Editora Líder)", sobre o crime de usar uniforme militar ilegalmente: 

"No caso de uniforme pertencente às Forças Armadas a competência para processar o agente infrator civil ou militar, federal ou estadual, pertence à Justiça Militar da União. A pena prevista para o ilícito é uma pena mínima de trinta dias de detenção, e não um mês de detenção, conforme o estabelecido no art. 58, do Código Penal Militar e uma pena máxima de seis meses de detenção. Apesar das penas que foram estabelecidas para este ilícito penal militar não é possível a aplicação dos institutos da Lei 9099/95 por se tratar de um crime militar próprio".

O pensamento dele, a quem interessar possa, foi publicado no Recanto das Letras, em 19/09/2009: http://recantodasletras.uol.com.br/textosjuridicos/1819960

Releia também: Jobim usa falsa tese de que exerce "direção superior das Forças Armadas" para vestir farda militar camuflada

País das Maravilhas

A dívida média dos brasileiros nos bancos é de R$ 2.732, conforme dados do Banco Central, divulgados ontem.

No ranking dos mais endividados, os brasilienses ocupam o topo, com média de R$ 7.538, valor sete vezes maior que o visto entre os cearenses, os menos pendurados no sistema bancário, com R$ 1.035.

As regiões com menor renda, como o Norte do País, amargam as maiores taxas de inadimplência no crédito concedido pelos bancos.

Mas a máquina de propaganda de $talinácio vende a pretensa ideia de que tudo está bem no melhor dos mundos econômicos...

Vida que segue...

Ave atque Vale!

Fiquem com Deus.

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva.

A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 19 de Janeiro de 2010


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DIGA NÃO À ANISTIA PARA OS TORTURADORES, SE...


CARTA O BERRO ..........repassem.


DIGA NÃO À ANISTIA PARA OS TORTURADORES, SEQUESTRADORES E ASSASSINOS DOS OPOSITORES À DITADURA MILITAR.

          Se você concorda conosco, complete o formulário assinando a petição que é enviada para os ministros do Supremo Tribunal Federal e para o Procurador Geral da República.
                                
(clique e assine)
http://www.ajd.org.br/contraanistia_port.php


APELO AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: NÃO ANISTIE OS TORTURADORES!

Exmo. Sr. Dr. Presidente do
Supremo Tribunal Federal
Ministro Gilmar Mendes

                    Eminentes Ministros do STF: está nas mãos dos senhores um julgamento de importância histórica para o futuro do Brasil como Estado Democrático de Direito, tendo em vista o julgamento da ADPF (Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental) nº 153, proposta em outubro de 2008 pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que requer que a Corte Suprema interprete o artigo 1º da Lei da Anistia e declare que ela não se aplica aos crimes comuns praticados pelos agentes da repressão contra os seus opositores políticos, durante o regime militar, pois eles não cometeram crimes políticos e nem conexos.

                    Tortura, assassinato e desaparecimento forçado são crimes de lesa-humanidade, portanto não podem ser objeto de anistia ou auto-anistia.

                    O Brasil é o único país da América Latina que ainda não julgou criminalmente os carrascos da ditadura militar e é de rigor que seja realizada a interpretação do referido artigo para que possamos instituir o primado da dignidade humana em nosso país.

                    A banalização da tortura é uma triste herança da ditadura civil militar que tem incidência direta na sociedade brasileira atual.

                    Estudos científicos e nossa observação demonstram que a impunidade desses crimes de ontem favorece a continuidade da violência atual dos agentes do Estado, que continuam praticando tortura e execuções extrajudiciais contra as populações pobres.

                    Afastando a incidência da anistia aos torturadores, o Supremo Tribunal Federal fará cessar a degradação social, de parte considerável da população brasileira, que não tem acesso aos direitos essenciais da democracia e nesta medida, o Brasil deixará de ser o país da América Latina que ainda aceita que a prática dos atos inumanos durante a ditadura militar possa ser beneficiada por anistia política.

                    Estamos certos que o Supremo Tribunal Federal dará a interpretação que fortalecerá a democracia no Brasil, pois Verdade e Justiça são imperativos éticos com os quais o Brasil tem compromissos, na ordem interna, regional e internacional.

                    Os Ministros do STF têm a nobre missão de fortalecer a democracia e dar aos familiares, vítimas e ao povo brasileiro a resposta necessária para a construção da paz.

                    Não à anistia para os torturadores, sequestradores e assassinos dos opositores à ditadura militar.

Comitê Contra a Anistia aos Torturadores

Com cópia para:

Ministro Cezar Peluso
Ministro Celso de Mello
Ministro Marco Aurélio
Ministra Ellen Gracie
Ministro Carlos Britto
Ministro Joaquim Barbosa
Ministro Eros Grau
Ministro Ricardo Lewandowski
Ministra Cármen Lúcia
Ministro Dias Toffoli
Procurador Geral da República, Dr.Roberto Gurgel

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Haiti

As Lições do Haiti

Os textos de esquerda sobre o Haiti têm sido o fruto, azedo e podre, da ignorância política. Marx teria vergonha de ser de esquerda hoje, pois a inteligência parecia ser para ele, antes de tudo, o valor que deveria ser levado em conta em qualquer disputa sobre o ideal de organização de um movimento político e de pensamento. Marx iniciou-se na história do movimento de esquerda, pelas idéias, inicialmente, e apenas depois, só depois de prestar contas com os seus mestres, ele se alinhou a possibilidade de organização pratico-revolucionário. Mas, foi na analise da realidade concreta que nasce o marxismo inteligente, vigoroso e critico.
O fio condutor hoje que caracteriza a critica de esquerda vai da vagueza de concepções de mundo para a realidade, e não o contrário. Os textos são vagos antes de serem realistas, não contribuem com a tendencia rumo a realidade por que mascaram, tanto quanto o pensamento de direita, os aspectos fundamentais que envolvem os conflitos mundiais da contemporaneidade, a saber? a luta pelos direitos humanos. E a vagueza é preenchida por antigos bordões, já démodé.
Ser de esquerda é ser defensor absoluto dos direitos humanos pois todo o programa da esquerda moderna, tudo aquilo que vale apena lutar sem medo, está contido na cultura dos direitos humanos. Acho, essa é a minha modesta opinião, que o socialismo moderno, o verbo socialista, se faz carne nas batalhas heróicas do pós-guerra na defesa dos direitos humanos. Sendo assim, o socialismo deixou de ser propriedade de partidos políticos ou de organizações paramilitares, para se tornar a cultura dos direitos humanos, da liberdade e da defesa da dignidade humana. O socialismo deve então se voltar ao tipo de humanidade que queremos ser. Nas condições atuais, o internacionalismo socialista se metamorfoseia em direitos humanos em escala mundial.
As análises de esquerda são, portanto, tudo, menos o fruto de inteligencia cultivada e apreciada por Marx. Vincular a situação econômica, politico e social do Haiti ao imperialismo dos governos capitalistas, juntamente com a ganancia das multinacionais, como tem sido usual é não apenas estúpido e idiota, é um desserviço as tentativas contemporâneas mais promissoras de reerguer a critica de esquerda, regrando-a com um saber competente e conseqüente
E pode-se dizer que a forma como a critica tem sido praticada, que ela vale mais para os gananciosos mercantilistas do que para o esclarecimento da opinião pública. A principal função da critica de esquerda é tornar a realidade compreensível evidenciando as lutas e conflitos que a delimitam. Se a direita retrógrada atribui a miséria Haitiana a aspectos culturais, raciais e religiosos, a esquerda tenta jogar para fora do país tudo o que não consegue digerir em termos de seu velho e carcomido maniqueísmo. Logo, a doença do socialismo não é mais o esquerdismo, mas o maniqueísmo infantil. E o Haiti, como tantos outros casos de dissensos políticos, não cabe numa moldura cinematográfico do velho mocinho e do bandido. O Haiti é o desrespeito total aos direitos humanos, aos direitos básicos da pessoa humana, das crianças e dos idosos. A população é privada dos bens e serviços elementares. Nesse contexto, não se pode, levianamente, entrar com analises de cunho religioso. Mas, paradoxalmente o maniqueísmo de fundo pode assumir qualquer forma, indo do preconceito ao ideal dicotômico entre bons e maus na história.
O imperialismo e os vodus servem apenas para deixar à margem aquilo que realmente interessa: a critica dos grupos paramilitares internos e a ineexistência de organizações internacionais capazes de oferecerem suportes efetivos de ajuda mútua entre as nações. Para a tarefa do estabelecimento de uma logística mundial de circulação de mercadorias e de capital, o Haiti é carta fora do baralho. Como é nula qualquer possibilidade de reação interna do país: Ou se muda a lógica política internacionais, ou veremos o Haiti afundar na mais abjeta barbárie. E toda ajuda internacional deve gerar um ambiente de auto-sustentabilidade sócio-econômico, sem o qual o país se tornará apenas um bolsão de miséria incrustada entre as Américas. A má noticia é que a destruição ambiental do planeta irá jogar na desorganização político-administrativo uma boa parte dos países mundiais. Só que, no plano internacional, os Estados etssão apenas defensores de suas fortalezas mercantis.

Sergio Fonseca
Historiador

sábado, 16 de janeiro de 2010

A incapacitação do Haiti

 
 

A incapacitação do Haiti

por Ashley Smith, no Counterpunch

Um terremoto devastador, o pior em 200 anos, atingiu Porto Príncipe na terça-feira, destruindo a cidade e matando um número não definido de pessoas. O terremoto mediu 7 pontos na escala Richter e detonou mais de 30 tremores secundários, todos de magnitude 4.5, durante a noite ou na manhã de quarta-feira.

O terremoto destruiu casas construídas pobremente, hotéis, hospitais e mesmo os prédios políticos mais importantes da cidade, inclusive o palácio presidencial. O colapso de tantas estruturas causou uma nuvem gigantesca no céu, que flutuou sobre a cidade, causando uma chuva de poeira sobre as áreas devastadas.

De acordo com algumas estimativas, mais de 100 mil pessoas podem ter morrido em uma metrópole de 2 milhões de pessoas. Aqueles que sobreviveram estão morando nas ruas, com medo de retornar aos edifícios que permaneceram em pé.

Em todo o mundo, haitianos lutam para contatar suas famílias e amigos no país devastado. A maioria não conseguiu chegar a seus amados, uma vez que as linhas telefônicas no país cairam.

* * *

Enquanto a maioria das pessoas reagiu à crise tentando encontrar um jeito de ajudar ou de doar dinheiro, o fanático da direita cristã Pat Robertson [pastor televangelista dos Estados Unidos] deu novos passos na profundidade do racismo. Ele explicou que os haitianos foram amaldiçoados por terem feito um pacto com o diabo quando se libertaram da escravidão francesa na revolução do Haiti de dois séculos atrás.

A mídia corporativa pelo menos noticiou que foi o movimento das placas tectônicas na falha geológica que fica sob Porto Príncipe que causou o terremoto -- e que a incapacidade do governo Préval tornou o desastre muito pior. Mas não foi além da superfície.

"A cobertura do terremoto é marcada pelo divórcio entre o desastre e a história política e social do Haiti", o ativista canadense Yves Engler disse em uma entrevista. "Ela apenas repete que o governo estava completamente despreparado para lidar com a crise. É verdade. Mas não explicaram os motivos".

Por que 60% dos edifícios de Porto Príncipe foram mal construídos e eram inseguros em condições normais, de acordo com o prefeito da cidade? Por que não há regulamentos para a construção em uma cidade que fica sobre uma falha geológica? Por que Porto Príncipe inchou de uma cidade de 50 mil habitantes no anos 50 para 2 milhões de pessoas desesperadamente pobres hoje? Por que o estado foi completamente incapaz de lidar com o desastre?

Para entender esses fatos, temos de olhar para uma segunda falha geológica -- a política imperial dos Estados Unidos em relação ao Haiti. O governo dos Estados Unidos, as Nações Unidas e outros poderes ajudaram a elite do Haiti a submeter o país a planos econômicos neoliberais que empobreceram as massas, causaram deflorestamento, destruiram a infraestrutura e incapacitaram o governo.

Esta "falha" do imperialismo dos Estados Unidos interagiu com a falha geológica para transformar um desastre natural em uma catástrofe social.

Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos apoiaram as ditaduras de Papa Doc Duvalier e depois de Baby Doc Duvalier -- que governaram o país de 1957 a 1986 -- como um contrapeso anticomunista à Cuba de Castro, que fica por perto.

Sob a direção de Washington, Baby Doc Duvalier abriu a economia do Haiti para o capital dos Estados Unidos nos anos 70 e 80. A enchente de produtos agrícolas dos Estados Unidos destruiu a agricultura camponesa. Como resultado, centenas de milhares de pessoas fugiram para as favelas de Porto Príncipe para trabalhar por salários baixíssimos nas zonas de processamento de exportação para os Estados Unidos.

Nos anos 80, massas de haitianos se levantaram para expulsar os Duvaliers do poder -- mais tarde, elegeram o reformador Jean-Bertrand Aristide para ser o presidente em uma plataforma de reforma agrária, ajuda aos camponeses, reflorestamento, investimento em infraestrutura para o povo, aumentos de salários e direitos sindicais para os trabalhadores.

Os Estados Unidos, por sua vez,  apoiaram o golpe que tirou Aristide do poder em 1991. Eventualmente o presidente eleito foi restaurado ao poder em 1994, quando Bill Clinton mandou tropas dos Estados Unidos para as ilhas -- com a condição de que ele implementasse um plano neoliberal. Os haitianos chamaram a ideia de "plano da morte".

Aristide resistiu a partes do programa dos Estados Unidos para o Haiti, mas implementou outras, enfraquecendo as próprias reformas que propunha. Eventualmente, no entanto, os Estados Unidos se tornaram impacientes com o fracasso de Aristide de obedecer completamente, especialmente quando ele pediu 21 bilhões de dólares em reparações em seu ano final no poder. Os Estados Unidos impuseram um embargo econômico contra o país, levando os camponeses e trabalhadores a uma pobreza ainda maior.

Em 2004, Washington colaborou com a elite do Haiti, que apoiou esquadrões da morte que derrubaram o governo, sequestraram e deportaram Aristide. As Nações Unidas mandaram tropas para ocupar o país e o governo fantoche de Gérard Latortue foi instalado para continuar os planos neoliberais de Washington.

O breve regime de Latortue era completamente corrupto -- ele e seu bando embolsaram grandes porções dos 4 bilhões de dólares mandados para o país pelos Estados Unidos e outros poderes quando acabou o embargo. O regime desmantelou as frágeis reformas de Aristide. Assim, o padrão de empobrecimento e degradação da infraestrutura do país acelerou.

Nas eleições de 2006, as massas haitianas votaram num aliado de longa data de Aristide, René Préval, para presidente. Mas Préval tem sido uma figura fraca, que colaborou com os planos dos Estados Unidos e fracassou na tentativa de enfrentar a crescente crise social.

De fato, os Estados Unidos, a ONU e outros poderes imperiais efetivamente deram a volta no governo Préval e jogaram dinheiro nas ONGs. "O Haiti tem agora a maior presença per capita de ONGs no mundo", diz Yves Engler. O governo Préval se tornou uma ficção, atrás da qual as decisões reais são tomadas pelos poderes imperiais e implementadas através das ONGs escolhidas".

* * *

O verdadeiro poder estatal não é do governo Préval, mas da ocupação dos Estados Unidos apoiada pelas Nações Unidas. Sob liderança brasileira, as forças da ONU protegeram os ricos e colaboraram com -- ou pelo menos fecharam os olhos -- para os esquadrões da morte da direita que aterrorizaram os apoiadores de Aristide e do Partido Lavalas.

As forças de ocupação não fizeram nada para enfrentar a pobreza, a infraestrutura detonada ou o deflorestamento maciço que exacerbou os efeitos de uma série de desastres naturais -- furacões severos em 2004 e 2008 e agora o terremoto em Porto Príncipe.

Em vez disso, elas meramente policiam uma catástrofe social e, ao fazer isso, cometem os crimes normais, característicos de toda força policial. Como Dan Baeton escreveu em uma relatório da NACLA, "a missão de estabilização da ONU no Haiti (Minustah), que começou em junho de 2004, foi marcada por escândalos de assassinatos, estupros e outros casos de violência das tropas desde o início".

Primeiro o governo Bush e agora o governo Obama usaram o golpe e as crises social e natural para expandir os planos econômicos neoliberais dos Estados Unidos.

Sob Obama, os Estados Unidos deram um alívio de 1,2 bilhão de dólares na dívida do Haiti, mas não cancelaram toda a dívida -- o país ainda paga grandes somas para o Banco Interamericano de Desenvolvimento. O alívio é para disfarçar a verdadeira política de Obama para o Haiti, que é a mesma velha política.

Em colaboração próxima com o enviado especial das Nações Unidas para o Haiti, o ex-presidente Bill Clinton, Obama apóia um programa econômico familiar para todo o resto do Caribe -- turismo, fábricas têxteis (sweatshops) e o enfraquecimento do controle do estado sobre a economia através da privatização e da desregulamentação.

Em particular, Clinton orquestrou um plano para transformar o norte do Haiti num parque turístico, bem longe das favelas de Porto Príncipe. Clinton atraiu a empresa de cruzeiros Royal Caribbean para investir 55 milhões de dólares na construção de um pier na costa de Labadee, que foi alugada pela empresa até 2050.

De lá, a indústria de turismo do Haiti espera promover expedições à fortaleza montanhosa Citadelle e ao palácio de Sans Souci, ambos construídos por Henri Cristophe, um dos líderes da revolução de escravos do Haiti.

De acordo com o Miami Herald:

O plano de 40 milhões de dólares envolve transformar a pequena cidade de Milot, que sedia a Citadelle e o Palácio de Sans Souci, num vila turística vibrante, com mercados de artes e artesanato, restaurantes e ruas de pedra. Os visitantes seriam poupados do congestionamento de Cap-Haïtien, levados para uma baía e depois transportados de ônibus através do campo. Uma vez em Milot, ele poderiam escalar ou ir a cavalo até a Citadelle, nomeada uma herança da Humanidade desde 1982. Ecoturismo, expedições arqueológicas e visitas a rituais de Vodoo estão sendo vendidos pela indústria de turismo de boutique do Haiti e a Royal Caribbean planeja trazer para o país seus maiores navios, criando a demanda por excursões.

Então, enquanto Pat Roberton denuncia a grande revolução escrava do Haiti como um pacto com o diabo, Clinton está ajudando a reduzí-la a uma armadilha turística.

Ao mesmo tempo, os planos de Clinton para o Haiti incluem a expansão da indústria têxtil para tirar vantagem do trabalho barato das massas urbanas. Os Estados Unidos deram isenção fiscal para a indústria têxtil do Haiti para facilitar a volta dos sweatshops ao país.

Clinton celebrou as possibilidades de desenvolvimento dos sweatshops durante um tour de uma fábrica operada e de propriedade do infame Cintas Corp. Ele anunciou que George Soros tinha oferecido 50 milhões de dólares para um novo parque industrial de sweatshops que criaria 25 mil empregos na indústria de roupas. Clinton explicou em uma entrevista que o governo do Haiti poderia criar "mais empregos se reduzisse o custo de fazer negócios, inclusive o custo dos aluguéis".

Como o fundador da TransAfrica, Randall Robinson, explicou ao Democracy Now!, "esse não é o tipo de investimento de que o Haiti precisa. Precisa de investimento de capital. Precisa de investimento para se tornar autosuficiente. Precisa de investimento com o qual possa se alimentar".

Uma das razões pelas quais Clinton pode celebrar os sweatshops de forma tão aberta é que o golpe apoiado pelos Estados Unidos reprimiu toda e qualquer resistência. Livrou o Haiti de Aristide e de seu hábito de aumentar o salário mínimo. Baniu-o do país, aterrorizou seus aliados e barrou o seu partido político, Fanmi Lavalas, o mais popular do país, de disputar o poder. O golpe também atacou organizadores sindicais dentro dos sweatshops.

Como resultado, Clinton pode dizer a empresários: "Seu risco político no Haiti é o menor de toda a minha vida".

Assim, como presidentes anteriores dos Estados Unidos fizeram, o governo Obama tem trabalhado para ajudar a elite do Haiti, patrocinando corporações internacionais que querem tirar vantagem do trabalho barato e enfraquecendo a capacidade do estado do Haiti de regulamentar a sociedade, além de reprimir qualquer resistência política à sua agenda.

* * *

Essas políticas levaram diretamente à incapacitação do estado no Haiti, à infraestrutura dilapidada, aos prédios construídos de forma improvisada, à pobreza desesperada, combinada com furacões e agora com o terremoto, que transformaram desastres naturais em catástrofes sociais.

Enquanto todos devem apoiar a atual tentativa de dar ajuda ao Haiti, ninguém deveria fazê-lo com uma venda nos olhos.

Como disse Engler:

Ajuda ao Haiti sempre foi usada para avançar os interesses imperiais. Isso é óbvio quando você vê como os Estados Unidos e o Canadá trataram o governo de Aristide em contraste com o regime golpista. Os Estados Unidos e o Canadá tiraram quase toda a ajuda de Aristide. Mas depois do golpe eles abriram a torneira de dinheiro para algumas das forças mais reacionárias da sociedade do Haiti.

Devemos portanto agitar contra qualquer tentativa dos Estados Unidos e de outros poderes de usar essa crise para impor seu programa a um país prostrado.

Deveríamos ficar atentos ao papel das ONGs internacionais. Enquanto várias ONGs estão tentando enfrentar a crise, os Estados Unidos e outros governos estão dando dinheiro a elas como forma de enfraquecer o direito do Haiti à autodeterminação. As ONGs internacionais não prestam contas ao estado do Haiti ou à população do Haiti. Assim, o dinheiro da ajuda enviado através delas enfraquece o controle que os haitianos tem sobre sua própria sociedade.

O governo Obama deveria imediatamente suspender o banimento de Aristide do Haiti, assim como do partido dele, o Fanmi Lavalas, de participar do processo eleitoral. Afinal, um conhecido traficante de drogas e golpista, Guy Philippe, e seu partido, a Frente para a Reconstrução Nacional (FRN), foram autorizados a participar do processo eleitoral. Aristide e seu partido, em contraste, são ainda a força política mais popular do país e deveriam tem direito de participar de eleições livres e justas.

Os Estados Unidos também deveriam suspender as deportações de haitianos que fugiram do país por causa da crise e dar a eles status temporário de refugiados. Isso permitiria a qualquer haitiano que fugiu do país por causa da crise política e social desde o golpe, os furacões e agora o terremoto a permanecer legalmente nos Estados Unidos.

Além disso, devemos exigir que os Estados Unidos parem de impor seu planos neoliberais. Os Estados Unidos dilapidaram a sociedade do Haiti por décadas. Em vez do Haiti dever aos Estados Unidos, outros países e instituições financeiras internacionais, o reverso é verdadeiro. Os Estados Unidos, a França, o Canadá e as Nações Unidas devem ao povo do Haiti reparações pelo ataque imperial ao país.

Com esses fundos e espaço político, os haitianos seriam finalmente capazes de começar a construir seu próprio futuro político e econômico -- o sonho da grande revolução dos escravos de 200 anos atrás.

Fonte:
http://www.viomundo.com.br


HAITI: AJUDE E AJUDE A DIVULGAR

Veja quais são as contas bancárias que recebem doações para as vítimas no Haiti
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Atualizada às 18h10 de sexta-feira, 15 de janeiro

Há vário canais para cidadãos e empresários interessados em fazer doações para as vítimas do terremoto no Haiti. Veja quais são as principais formas de ajudar:

Embaixada do Haiti no Brasil
Banco do Brasil
Agência 1606-3
Conta corrente 91.000-7
CNPJ 04170237/0001-71

Cruz Vermelha
HSBC
Agência 1276
Conta corrente 14526-84
CNPJ é 04359688/0001-51

Viva Rio
Banco do Brasil
Agência 1769-8
Conta corrente 5113-6
CNPJ 00343941/0001-28

Care Internacional Brasil
Banco Real-Santander
Agência 0373
Conta corrente 5756365-0
CNPJ 04180646/0001-59

Pastoral da Criança
HSBC
Agência 0058
Conta Corrente 12.345-53
CNPJ 00.975.471/0001-15

Caixa Econômica Federal*
Agência 0647
Conta corrente 3.600-1
CNPJ 00.360.305
* As doações da Caixa serão encaminhadas à Coordenação de Assistência Humanitária (Ocha, na sigla em inglês) pelo Programa Mundial de Alimentação (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo Escritório das Nações Unidas.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ditadura no Brasil?!?!?!

Ecos do porão

Quem desembarcasse no Brasil nos últimos dias e não soubesse nada de nossa história, certamente começaria a assimilar a idéia de que não houve ditadura. Que ela não matou, não seqüestrou, não torturou barbaramente homens, mulheres, crianças, religiosos, religiosas. Que não empalou pessoas, que não fez desaparecer seres humanos, que não cortou cabeças, que não queimou corpos. Que não cultivou o pau de arara, o choque elétrico, o afogamento, a cadeira do dragão, que não patrocinou monstros como Carlos Alberto Brilhante Ustra ou Sérgio Paranhos Fleury. O artigo é de Emiliano José.

http://www.youtube.com/watch?v=9TrocKiappo&feature=player_embedded

Vídeo: Trailer do filme "Cidadão Boilensen", um registro da associação corrupta entre grupos empresariais e a Operação Bandeirante, entre o aparato repressivo e as finanças, entre a ditadura militar e o grande negócio no Brasil.

Fico pensando no que foi o nazismo. No Tribunal de Nuremberg. Na justiça que se procurou fazer diante daquele genocídio. Julgou-se os assassinos, e ponto. Não os que a ele resistiram. E só o faço como alusão à situação brasileira.

Fico pensando na decisão argentina de abrir todos os arquivos confidenciais das Forças Armadas referentes ao período da ditadura militar, ocorrida entre 1976-1983. Essa abertura foi feita para subsidiar a apuração de violações aos direitos humanos durante aquele período.

E penso novamente no Brasil, no barulho que se está fazendo diante da possibilidade da criação da Comissão Nacional da Verdade, que já aconteceu na maioria dos países da América Latina que viveram também a tenebrosa experiência de ditaduras. Nesses países encara-se com naturalidade que criminosos, torturadores, assassinos sejam julgados, e muitos deles foram julgados, condenados e presos.

Quem desembarcasse no Brasil nos últimos dias e não soubesse nada de nossa história, certamente começaria a assimilar a idéia de que não houve ditadura. Que ela não matou, não seqüestrou, não torturou barbaramente homens, mulheres, crianças, religiosos, religiosas. Que não empalou pessoas, que não fez desaparecer seres humanos, que não cortou cabeças, que não queimou corpos. Que não cultivou o pau de arara, o choque elétrico, o afogamento, a cadeira do dragão, que não patrocinou monstros como Carlos Alberto Brilhante Ustra ou Sérgio Paranhos Fleury, este morto, o primeiro ainda exibindo sua arrogância, cinismo e ainda certeza da impunidade.

De repente, se não insistirmos na luta para afirmar a verdade da história, gente do nosso povo pode até acreditar na versão que querem passar de que houve apenas uma luta entre um regime legal e os que a ele se opunham.

É falso, mentiroso dizer que a Comissão Nacional da Verdade que se pretende implantar queira eliminar a Lei de Anistia. Ela pretende, se instalada, apurar todas as violações de direitos humanos ocorridas no âmbito da repressão política durante os 21 anos de ditadura.

É a forma de legalmente desencadear o processo histórico, político, ético,
criminal, como disse o ministro Vannuchi, de todos os episódios de tortura, assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos registrados naquele período.

O que se sustenta, aqui e em todo o mundo democrático, é que a tortura é crime imprescritível, e que esse crime não pode permanecer impune. Não é à toa que o ex-ditador Pinochet, um assassino, foi detido em Londres e depois julgado em seu país.

Não se queira fazer acreditar que a Comissão Nacional da Verdade pretenda desmoralizar as Forças Armadas. Ao contrário. Pretende-se que quaisquer que sejam os cidadãos que tenham cometido o crime da tortura ou que tenham assassinado pessoas por razões políticas ou tenham feito com que desaparecessem sejam julgados por seus crimes de lesa-humanidade.

E julgamento é atribuição do Judiciário, com sua soberania e com os ritos próprios da democracia. Diz-se isso para que se diferencie dos mais de 20 anos da ditadura, onde não havia qualquer legalidade. Muitos dos nossos companheiros não chegaram a ser julgados: foram mortos de forma covarde, insista-se na palavra, covarde, na tortura brutal, cruel, e os registros históricos são vastíssimos. Não cabem neste artigo.

Assistam o filme Cidadão Boilensen. É interessante como registro da associação corrupta entre grupos empresariais e a Operação Bandeirante, entre o aparato repressivo e as finanças, entre a ditadura e o grande negócio. Puro banditismo, acobertado pelo silêncio imposto à época. E para compreender, também, parte, apenas parte, da impressionante crueldade desse aparato.

Não sei como se movimentará a sociedade brasileira nesse caso. Sei que mais de 10 mil cidadãos assinaram um manifesto, inclusive eu, defendendo que os envolvidos em crimes de tortura em nome do Estado brasileiro devem ser julgados e punidos pelos seus atos.

Estamos defendendo a civilização, a humanidade, a democracia. Não dá para acobertar crimes como o da tortura ou assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos. Esta é a posição de quem não esquece o terrorismo da ditadura. A posição de quem defende intransigentemente a democracia. E que grita: ditadura, nunca mais!

*Jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA)

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16327&boletim_id=635&componente_id=10590

OS TORTURADORES - O GOLPE MILITAR DE 1964 - CRIME HEDIONDO NÃO TEM ANISTIA

 

Carta O BERRO...............................................................repassem

*OS TORTURADORES – O GOLPE MILITAR DE 1964 – CRIME HEDIONDO NÃO TEM ANISTIA*


Laerte Braga

Há uma forma bem simples de encarar o golpe militar de 1964 e que depôs o
governo constitucional do presidente João Goulart instaurando um período de
violência, barbárie e entrega do País a interesses de uma nação, os Estados
Unidos e grupos econômicos internacionais.

As redes de tevê hoje gostam de exibir cenas de assaltos fracassados em que
os assaltantes, na iminência de virem a ser presos, mantêm uma ou duas
famílias como reféns.

O que os militares fizeram em 1964 foi isso. Seqüestraram a nação inteira e
nos mantiveram reféns debaixo de um imenso tacão nazista, transformando o
Brasil num mero acessório no jogo das grandes potências e em boa parte desse
período transformando seus "comandantes" (o verdadeiro comando era externo,
vinha de fora) em novos milionários (a corrupção é companheira inseparável
da violência), tudo isso sustentado em câmaras de tortura, estupros,
assassinatos, a absoluta falta de respeito e princípios de dignidade dos que
se sustentam na barbárie e na boçalidade que é a regra geral, ainda hoje, da
maioria dos nossos chefes militares.

As vítimas somos todos os brasileiros, uns em maior, outros em menor escala,
mas as vítimas somos todos os brasileiros. E não se constrói uma nação livre
e soberana sem que sua História seja contada sem pontos e vírgulas ocultos
ou omitidos e que sirvam para esconder mentiras e farsas travestidas de
substantivos ou adjetivos pomposos, como democracia, liberdade, patriotismo,
dever cumprido, etc.

Os que mantêm famílias como reféns nesses assaltos corriqueiros de nossos
dias (as forças de segurança estão mais preocupadas com a segurança dos
donos do País e estigmatização da luta popular, a criminalização de
movimentos como o MST) justificam a ação como conseqüência da miséria, da
necessidade de sobrevivência, da falta de perspectivas. Os que seqüestraram
o Brasil em 1964 buscaram justificar o ódio à liberdade, à democracia,
escondidos num "patriotismo" canalha, mal disfarçado ou por outra, que nem
preocuparam-se em disfarçar.

A história das forças armadas brasileiras revela militares de grandeza
ímpar, caso do marechal Teixeira Lott, do marechal Luís Carlos Prestes, do
major Cerveira, do sargento Gregório Bezerra, do capitão Carlos Lamarca, e
certamente, e alguns anônimos sacrificados na absoluta falta de escrúpulos
dos seqüestradores do Brasil.

No Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre, uma freira iraquiana, irmã
Sherine, disse a milhares de pessoas que lotavam o Gigantinho, ginásio do
Internacional, que a grande tragédia do seu país, o Iraque, era o petróleo.
O que deveria ser a riqueza de seu povo, permitir o progresso comum a todos,
a existência, a coexistência e a convivência em bases dignas e humanas, se
transformava em tragédia, pela cobiça dos seqüestradores, no caso os
norte-americanos, os britânicos, os países subalternos que os seguiram e as
grandes empresas que vieram atrás.

Somos o maior País da América Latina. Do ponto de vista territorial,
político, econômico, chave para os interesses dos EUA nessa parte do mundo.
O golpe de 1964 começou com a deposição do ditador Vargas em 1945 e o que se
prenunciava democracia manteve-se no governo do condestável do Estado Novo,
o marechal Eurico Gaspar Dutra. Derrotou o projeto militar de eleger o
brigadeiro Eduardo Gomes, fundador da Aeronáutica brasileira e projeto da
direita para o Brasil (era um homem digno, de caráter, diferente de Médice,
Castello, Costa e Silva, Figueiredo, esse tipo de gente).

O projeto tornou a fracassar em 1950 quando Getúlio Vargas voltou ao poder
pela maioria absoluta dos votos dos brasileiros derrotando o mesmo Eduardo
Gomes. A guinada do novo Getúlio (se é que podemos dizer assim) que
resultou, por exemplo, na criação da PETROBRAS (a imensa e esmagadora
maioria dos militares era contra embora fossem muitos os militares que
lutavam a favor na campanha "o petróleo é nosso"), essa guinada, o ranço do
anti-getulismo e de conquistas da classe trabalhadora ao longo do período
que vai da revolução de 1930 até a morte de Getúlio, em agosto de 1954, deu
força à indústria do golpe, com largo alcance num primeiro momento na
Marinha e na Aeronáutica e em seguida se alastrando pelo Exército, onde os
chefes militares identificados com o País iam sendo afastados ou
literalmente peitados pelos nazi/fascistas.

Foram os que subscreveram o manifesto dos coronéis em 1954, pedindo o
afastamento do então ministro do Trabalho João Goulart que havia aumentado o
salário mínimo em 100%. Entre os signatários desse manifesto, golpistas a
serviço da empresa privada e interesses estrangeiros como Golbery do Couto e
Silva, Cordeiro de Faria e outros que viriam a ser proeminentes figuras dez
anos mais tarde na boçalidade tramada e comandada por Washington, o
seqüestro do Brasil por bandidos fardados.

*UM BREVE, MAS SUFICIENTE DEPOIMENTO DE UM CORONEL/TORTURADOR*

A tradição histórica das forças armadas brasileiras é na sua maior parte
golpista e de direita, ou seja, fascista. Seu alinhamento e submissão a
Washington tem sido quase total. Ainda agora, no golpe que derrubou o
presidente constitucional de Honduras, um coronel brasileiro, aluno da
escola de golpes para a América Latina, situada na base militar dos EUA em
Tegucigalpa, emitiu parecer favorável ao golpe, rotulando-o de democrático.

Somo ainda, mesmo em um suposto processo democrático, os seqüestrados e
ameaçados pela barbárie dessa gente. Estamos confinados aos limites da
mentalidade tacanha e podre desses militares.

O depoimento prestado pelo coronel Brilhante Ulstra, comandante do DOI/CODI
(Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa
Interna), à Procuradora da Justiça Militar em São Paulo, Hevelize Jourdan
Covas (esteve em Brasília para ouvir um dos principais assassinos do período
militar) é um primor de desfaçatez e amoralidade. O fato aconteceu em 15 de
outubro na Corregedoria da Justiça Militar. E serve como um dos fios dos
vários novelos enrolados pela ditadura militar e seu caráter de subordinação
a governo de outro país, violência e crueldade.

Brilhante Ulstra, responsável por um dos mais cruéis centros de tortura,
estupros e assassinatos da ditadura militar, declarou que chegou a São Paulo
na primeira quinzena de 1970 e que "o terrorismo aumentava cada vez mais,
principalmente no estado de São Paulo e no Rio de Janeiro". A definição de
"terrorismo" do carrasco Ultra refere-se aos resistentes ao seqüestro do
Brasil por militares subordinados a um governo estrangeiro e a empresas e
interesses que não os de nosso País.

Segundo o coronel, preparado inclusive por organismos internacionais
preocupados com a repulsa popular ao golpe, os "órgãos policiais" foram
surpreendidos pela ação dos "terroristas". Estudantes, trabalhadores,
camponeses, donas de casa. Para ele esse tipo de resistência pegou de
surpresa operações especiais como a OBAN (OPERAÇÃO BANDEIRANTES),
subordinada ao II Exército, com sede na capital paulista e montada por
militares, polícia estadual e empresas. O filme CIDADÃO BOILESEN, exibido já
em vários pontos do Brasil mostra a participação do empresário Boilesen, de
origem dinamarquesa na repressão aos que lutavam contra a ditadura. Mercedes
Benz, Supergasbrás, FOLHA DE SÃO PAULO, FIESP (Federação das Indústrias de
São Paulo) etc.

Diante desse quadro o próprio presidente da República (ditador) elaborou uma
diretriz de "segurança interna" que deu poderes aos generais de Exército
(são três as patentes de general no Brasil, de Brigada, de Divisão e de
Exército), então comandantes militares de suas respectivas áreas, para
combater o "terrorismo".

Em cada área foi criado um Conselho de Defesa Interna (CONDI), um centro de
operações – CODI - e um destacamento para operações (DOI). A atuação do
coronel Brilhante Ulstra abrangeu, segundo suas próprias declarações, o
período de vinte e nove de setembro de 1970 a vinte e três de janeiro de
1974. O período Médice, semelhante à ditadura Pinochet no Chile"

Segundo Brilhante Ulstra o comandante do II Exército, general José Canavarro
Pereira, lhe deu plenos poderes para combater o "terrorismo". Ulstra era
major à época e a frase/ordem de Canavarro foi a seguinte – "major, amanhã o
senhor assumirá o comando do DOI/CODI. Estamos numa guerra. Vá assuma e
comande com dignidade". Comandar, Brilhante Ulstra comandou. Dignidade não
me consta que assassinos, torturadores, sobretudo de presos por crime de
opinião, indefesos, não me consta que tenha.

Cínico, amoral, chegou a dizer em seu depoimento que a partir deste momento
sua família corria perigo com constantes ameaças às suas vidas e que as
funções foram exercidas com "sacrifícios e privações". É típico de canalhas
esse tipo de defesa para o inconfessável.

Relatou os "atos de terrorismo" em linhas gerais, falou de "crimes de
resistentes", negou a tortura, admitiu que, eventualmente, pode ter havido
algum excesso, que muitos presos arrependidos acabavam por ajudar na
apuração dos "crimes", dá para imaginar as "pregações pelo arrependimento".
Negou qualquer participação no crime contra Wladimir Herzog e beirando os
limites da hipocrisia absoluta falava que os "suicídios" eram "suicídios
mesmo".

Repugnante. Repulsiva a figura.

Trecho de seu depoimento – "que afirma que trinta e sete pessoas foram
mortas no DOI/CODI durante seu comando, apresentando relação com dados
completos das pessoas citadas. Que estes trinta e sete militantes morreram
nas ruas em combate com os seus subordinados, ou então, quando reagiam ou
tentavam fugas em pontos normais, pontos de polícia ou e pontos frios. Que
quando morriam em uma destas situações não era possível solicitar perícia
local, pois os terroristas agiam com cobertura armada, havendo risco de
ataque aos agentes que preservavam o local; que o corpo era levado ao DOI,
sendo feito contato com o DOPS, para o encaminhamento ao IML, para autópsia
e abertura de inquérito".

As autópsias foram executadas pelo médico Harry Shibata proibido de exercer
a medicina e banido da profissão por assinar laudos falsos sobre mortos por
tortura nas dependências do DOI/CODI sob o comando do coronel Brilhante
Ulstra.

Brilhante Ulstra fala em ter orgulho das funções que exerceu e seu
depoimento é público. As instituições da classe médica não carregaram a
vergonha de ter em seus quadros Harry Shibata.

*A DITADURA VEIO DE FORA – A DOUTRINA DA SEGURANÇA NACIONAL*

* *

A renúncia de um tiranete corrupto, alcoólatra e irresponsável em agosto de
1961, Jânio da Silva Quadros, fazia parte de uma tentativa de golpe. Só que
Jânio não combinou nada com ninguém, a não ser os copos que tomava,
enfrentou a oposição de Carlos Lacerda (então governador do antigo estado da
Guanabara, hoje cidade do Rio de Janeiro), um dos seus principais aliados ao
negar-lhe favores pessoais (entendia ser Lacerda um risco para seus
projetos), acabou trazendo de volta à cena os militares que desde a
deposição de Getúlio em 1945 vinham tentando impor ao Brasil o modelo
cristão, ocidental e fascista desenhado em Washington.

Foi assim em 1954, em 1955 quando tentaram criar obstáculos à posse do
presidente eleito, Juscelino Kubistchek e após a renúncia de Jânio. O vice
João Goulart estava em missão oficial na China e os três ministros militares
resolveram negar-lhe o direito constitucional de assumir a presidência da
República. O marechal Odílio Denys (que traiu seus principais companheiros,
dentre o marechal legalista Teixeira Lott), o brigadeiro Grum Moss e o
almirante Sílvio Heck.

Foi a resistência popular e a ação do governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola que, num primeiro momento, conseguiu assegurar a posse de
Jango num regime parlamentarista votado às pressas ( Brizola recebeu apoio
do general Machado Lopes, comandante do III Exercito, no Rio Grande do Sul)
e num presidencialismo obtido pelo voto popular em janeiro de 1963, quando
Jango, definitivamente, assumiu o governo.

A revolução cubana e a explosão de movimentos populares em toda a América
Latina por governos livres dos interesses e do tacão fascista de Washington
levaram empresas e governo dos EUA a criarem uma comissão específica para
situações semelhantes em todo o mundo a chamada Comissão Tri-lateral AAA –
AMÉRICA, ÁSIA e ÁFRICA – e foi essa comissão que desenvolveu a chamada
doutrina de segurança nacional, minuciosamente descrita pelo padre Joseph
Comblin num livro com o mesmo nome "a doutrina da segurança nacional", aqui
editado pela Editora Civilização Brasileira.

Se no A de América Latina surgiram ditaduras além das já existentes na
América Central principalmente, surgiram também conflitos na Ásia e na
África. No Vietnã, onde os franceses foram derrotados, em países africanos
que lutavam por sua independência do colonialismo europeu (britânico,
francês, belga, holandês e português). Os outros dois As da comissão.

No caso latino-americano um governo de centro esquerda como o de João
Goulart, com propósitos de reforma agrária, nacionalização plena do
petróleo, dos setores básicos da economia, não interessava e nem interessa
aos EUA. Quem imagina que os Estados Unidos seja uma União de estados
equivoca-se. Pode até ter sido, mas é apenas uma união de quadrilhas de
banqueiros sionistas, empresários, o complexo militar/empresarial a que se
referiu o general Eisenhower, hoje sob a batuta de um cervejeiro, Barack
Obama. Branco de pele negra eleito presidente da República.

A derrubada do governo Goulart foi tomada montada em Washington com ação
direta do embaixador dos EUA no Brasil (documentos oficiais revelam isso e
estão à disposição no arquivo público daquele país, no Congresso
norte-americano), Lincoln Gordon, do general Vernon Walthers, designado para
comandar as forças armadas brasileiras pelo fato de falar português e ser
amigo do ditador Castello Branco.

As lições de 1961, quando não conseguiram evitar a posse de Goulart, foram
aprendidas e farsas de defesa da democracia como a "marcha da família com
Deus pela liberdade", pregações histéricas e abertamente golpistas de Carlos
Lacerda, o controle da maior parte da mídia, a descarada intervenção
norte-americana nas eleições de 1962 através de um instituto laranja para o
golpe (IBAD – INSTITUTO BRASILEIRO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA), todo um cenário,
para se chegar ao golpe.

1964 representou um grande expurgo de militares legalistas, nacionalistas,
socialistas, ou comunistas, mais de dois mil, uma tomada de poder por
delegados de Washington e um briga de vaidades entre generais repletos de
medalhas por bom comportamento, ou torturadores como Brilhante Ulstra, por
assassinatos, estupros, tortura, etc.

E já um ano depois foi rejeitado nas urnas quando Negrão de Lima e Israel
Pinheiro foram eleitos respectivamente governadores da Guanabara e de Minas
Gerais, mesmo sendo homens de centro. Toda uma ação planejada, bem pensada,
dentro do contexto e dos limites traçados pela Comissão Tri-lateral AAA,
foram seguidos à risca e a repressão brutal, sangrenta, assassina, cruel dos
militares brasileiros começou desordenada, organizou-se precariamente (do
ponto de vista deles) na OPERAÇÃO BANDEIRANTES, mas atingiu a limites de
perfeição e requintes de barbárie na criação dos DOI/CODI, por todas as
áreas militares e a associação com ditaduras de países como a Argentina, o
Uruguai, o Chile e o Paraguai, na Operação Condor (objeto de mestrado da
doutora Neuza Cerveira e com documentos oficiais), a partir dos centros do
verdadeiro terrorismo, o de Washington.

Instrutores norte-americanos passaram a assessorar militares e policiais
brasileiros, caso de Dan Mitrione o mais conhecido deles. Terminou executado
em combate em Montevidéu no Uruguai.

Não só o treinamento, como a presença de agentes estrangeiros, a conivência
e a submissão de militares brasileiros aos norte-americanos, como tecnologia
de ponta na tortura transformaram o País num grande campo de concentração,
onde quem não estava preso, silenciava com medo do terror oficial, ou então
era cúmplice.

Brihante Ulstra é o exemplo claro, pronto e acabado de militar indigno em
qualquer força armada digna se é que esse tipo de força armada existe. Ou se
levarmos em conta o que chamam de honra militar.

É só uma ponta do processo que gerou monstros fardados e travestidos de
democratas, patriotas, Brasil afora.

A ditadura veio de fora e dentro do contexto da guerra-fria, escorada na
doutrina de segurança nacional.

Barbárie, violência e entreguismo puro, em essência.

Essa característica estúpida e boçal dos ditadores e seus sicários e não
poderia ser outra, é genética, logo mostrou-se insuficiente para seduzir os
brasileiros. Em 1970 o protesto da população foi silencioso. O número de
votos nulos e brancos foi maior que o de válidos, mas os esquemas para que
vencessem prevaleceram. Em 1974, derrotados de forma explícita nas urnas,
tentaram manter as aparências, editaram o pacote de abril (governo Geisel),
alterando as regras como a criação do senador biônico, eleito indiretamente,
para evitar a perda da maioria nas eleições de 1978, até que, em 1982
começaram a ruir definitivamente, mas logo os donos inventaram a democracia
como a que temos, com figuras como Collor, FHC e agora tentam impingir José
Collor Serra, assustados com as poucas, mas significativas e expressivas
conquistas do governo Lula, sobretudo a perspectiva de um Brasil soberano,
numa América Latina que começa a se levantar contra o império nazi/sionista
dos EUA.

Nas eleições de 1982, já sem o bi-partidarismo imposto de cima para baixo e
sem o AI-5, a ditadura valeu-se de um penúltimo casuísmo. Ao perceber que
seria derrotada nos grandes centros do País, em estados como Minas, São
Paulo, Rio, Pernambuco, Rio Grande do Sul e outros, o ministro da Justiça
Leitão de Abreu vinculou os votos de ponta a ponta, ou seja, ao votar num
candidato de determinado partido, todos os demais candidatos teriam que ser
do mesmo partido. Seriam eleitos desde os governadores, dois terços do
Senado, a totalidade da Câmara dos Deputados, assembléias legislativas,
prefeitos e câmaras de vereadores e estava em jogo a eleição do presidente
da República em 1984, ainda pela via indireta, como previa a carta imposta
desde o governo de Castello e golpeada em 1968 pelo AI-5.

Isso implicou na necessidade de reações imediatas da oposição para sua
sobrevivência e estados como Rio Grande do Sul e Pernambuco foram perdidos
na manobra, além, lógico, da maioria do Congresso Nacional. A ditadura não
controlava os chamados grandes centros urbanos, mas os "coronéis" (esses com
aspas) e os sem aspas controlavam o interior do Brasil, o que Tancredo
chamava de "burgos podres".

*OS APETITES PRESIDENCIAIS E DITATORIAIS*

* *

* *

O golpe militar de 1964, para além de interesses internacionais sobre e no
Brasil, a cumplicidade das elites econômicas do País, revelou também
apetites ditatoriais para além das forças armadas. Castello Branco foi uma
imposição de Washington a partir do general Vernon Walthers, seu amigo
pessoal (era o oficial de ligação entre as tropas da FEB e dos EUA na IIª
Grande Guerra) e dos governadores Magalhães Pinto, Carlos Lacerda e Ademar
de Barros, respectivamente de Minas Gerais, Guanabara e São Paulo.

Os três apostavam numa rápida transição de um governo militar para um
governo civil eleito pelo voto direto, tanto quanto na eliminação de
eventuais adversários à esquerda (ou presa, ou exilada, cassada) ou de
Juscelino, a princípio, o grande favorito para as eleições de 1965.

O acordo que permitiu a eleição de Castello Branco, então chefe do Estado
Maior do Exército e ligado à extinta UDN (foi cogitado para ser o vice de
Jânio Quadros em 1960), todo ele conduzido sob a inspiração de Vernon
Walthers e a batuta dos três principais governadores brasileiros, incluiu o
antigo PSD e, lógico, JK, que era senador pelo estado de Goiás. O PSD
era maioria
no Congresso, setores do partido estavam levantando a candidatura do
marechal Eurico Gaspar Dutra, ex-presidente e fora do campo de interesses e
disputas dos golpistas. Dutra foi o condestável do estado novo em 1937 e
quem comandou (diante do fato consumado) a deposição de Getúlio em 1945.

Magalhães Pinto, governador de Minas, ainda tem sua biografia não escrita
com todas as letras reais. Um dos políticos mais corruptos e pusilânimes de
nossa história. Sem caráter algum, sem princípios, o tipo do sujeito
asqueroso, pois fala mansa, cheio de armadilhas e por aí afora. Ao perceber
o inevitável, que dentro das forças armadas havia dois grupos distintos, os
duros (Costa e Silva) e os moderados (Castello) e vários subgrupos em torno
dos dois, assentou-se numa moita e ficou esperando para ver quem levaria a
taça. Seria esse, como foi, o seu caminho.

Lacerda apostava nos seus vínculos com militares principalmente na Marinha e
na Aeronáutica. Estivera no palco principal dos acontecimentos políticos
desde o suicídio de Vargas, a renúncia de Jânio (bancou a candidatura do
maluco dentro da UDN) e o golpe. Eram seus trunfos para ser ungido
presidente em 1965, contando inclusive com eleições indiretas num primeiro
momento.

Ademar sabia que estava na corda bamba, era visto como corrupto pelos
militares e contava apenas terminar seu governo em São Paulo e num golpe de
sorte virar uma espécie de presidente de conciliação.

Magalhães pulou no colo de Costa e Silva, virou ministro das Relações
Exteriores. Lacerda num acesso de raiva ao saber que não seria o presidente
em seguida a Castello acabou cassado e Ademar nem o governo terminou em São
Paulo. Foi cassado e substituído por Laudo Natel.

JK saiu de cena mais cedo ainda. Pressionado pela linha dura Castello não
cumpriu o que fora acordado quando de sua eleição. No meio do seu governo
foi emparedado por Costa e Silva, seu ministro do Exército e a tentativa de
indicar um civil, Bilac Pinto para sucedê-lo, morreu na frase de Costa e
Silva ao viajar para o exterior e sabendo das manobras para demiti-lo –
"viajo ministro e volto ministro" –. Estava definido ali o futuro
presidente.

A linha dura vencera essa disputa e figuras como Jarbas Passarinho (major
que traiu Lott, traiu Castello e quem se lhe opusesse) começam a aparecer e
a dominar o cenário. O fato de ser major não o impedia de ser o principal,
ou um dos principais articuladores da linha dura. Virou inclusive o
preferido dos falcões norte-americanos para o desmonte do ensino público no
País, entidades estudantis e dos sindicatos. Um célebre convênio MEC/USAID
(Ministério da Educação e Cultura e Agência Internacional dos EUA para o
Desenvolvimento – braço da CIA).

Sobre Magalhães Pinto um episódio que ilustra a grandeza de João Goulart. JK
e Lacerda reconciliam-se e promovem a criação da FRENTE AMPLA, em 1968.
Levam a idéia a Goulart (Brizola e Jânio rejeitam) e a tentativa era a de
uma grande mobilização popular pela retomada do processo democrático. Na
viagem para Montevidéu onde foram encontrar-se com Jango, Lacerda confessou
a Juscelino seu constrangimento diante das muitas críticas que fizeram ao
ex-presidente e do seu papel no golpe de 1964.

Ao entrar na casa de Jango encontrou o ex-presidente de braços abertos para
um abraço e ouviu as seguintes palavras –"venha cá governador, me dê um
abraço, nunca lhe votei ódio, rancor ou mágoa, pois o senhor sempre foi
oposição ao meu governo e a mim. Tenho asco do governador Magalhães Pinto
que na manhã do golpe telefonou-me jurando lealdade. Não gosto de
traidores". Lacerda abraçou-o com lágrimas nos olhos e certamente um
profundo remorso dentro de si.

O que não estava no programa foi o derrame sofrido por Costa e Silva. Fraco,
ridículo, jogador contumaz, dominado pela corrupção familiar (sua mulher e
filho), criou um problema para os golpistas. O vice era Pedro Aleixo, antigo
deputado da UDN e de formação liberal. Israel Pinheiro, governador de Minas,
em meio aos acontecimentos, convocara Aleixo a BH para tentarem uma frente
de resistência. Aleixo abriu mão.

Sai o segundo golpe dentro do golpe. Os ministros militares sob o comando do
general Aurélio Lyra Tavares afastam o presidente, formam uma junta militar
(o AI-5 já era uma realidade) e promovem uma eleição dentro dos quartéis
para evitar um racha de grandes proporções entre os militares. Sendo a força
maior o Exército votou (oficiais) para escolher entre Garrastazu Medice e
Afonso Albuquerque Lima. Medice levou amparado por Orlando Geisel e o terror
desorganizado ganhou contornos de horror e boçalidade milimetricamente
planejados e executados.

A eleição de Medice atende à doutrina de segurança nacional e o Brasil passa
a ser o centro dos golpes na América Latina. Da tortura, da barbárie, da
violência e da estupidez características de tiranos.

O que antes era uma operação financiada por empresários, a OBAN, vira
Operação Condor envolvendo todo o chamado Cone Sul (Brasil, Argentina,
Uruguai, Paraguai e Chile e estende-se a América Latina como um todo). Era
literalmente um esquadrão da morte. Mataram Orlando Letelier, Carlos Pratts,
Juan José Torres, centenas de resistentes, Juscelino Kubistchek, uma
história ainda não contada em sua totalidade.

Os militares se viram obrigados a esse jogo de cena de troca de generais
entre outras coisas por conta de uma decisão do governo Castello Branco.
Castello extinguiu o posto de marechal da reserva e limitou o tempo de
generalato a quatro anos. Antes um general poderia permanecer na ativa até a
chamada expulsória (70 ou 75 anos, não me recordo bem).

O desgaste internacional a que o Brasil se viu exposto com o governo Medice,
a condenação por crimes sistemáticos contra os direitos humanos, a reação
popular a cada eleição, acabou permitindo a Golbery do Couto e Silva,
principal articulador dos chamados militares moderados, ressuscitar o
general Ernesto Geisel, irmão de Orlando e que no início do golpe fora
designado para o STM (Superior Tribunal Militar), uma espécie de túmulo para
oficiais generais das três armas).

Se não era afinado com o irmão Ernesto, o ministro Orlando Geisel não se
apôs e sendo ele a figura principal do governo Medice. Uma espécie de
rodízio ficou acertado, o que permitiu a Ernesto Geisel ser eleito
presidente da República, já consciente que era preciso começar a bater em
retirada no velho estilo não tão depressa que pudesse parecer covardia, nem
tão devagar que pudesse significar provocação.

O ministério do Exército nessa composição de caserna foi para o general
Sílvio Frota que sequer falava, apenas grunhia e vociferava, bisonho e
tacanho, mas com forte apetite para ditador. Quando percebeu que o indicado
de Geisel seria o general João Batista Figueiredo, então chefe do SNI,
tentou um golpe, abortado por um rápido contragolpe de Geisel com apoio do
chefe do Gabinete Militar, general Hugo Abreu, de grande prestígio na tropa.
A posição de Hugo Abreu soou estranha à linha dura, já que um dos seus
integrantes.

Sem o AI-5, com a anistia decretada por Geisel, a volta dos exilados, a
linha dura tenta articular-se em torno de Walter Pires, ministro do
Exército, mas figura medíocre, sem liderança e escolhido exatamente por
isso.

Figuras como Jarbas Passarinho, Mário Andreazza e outros pretendentes à
presidência acabam atropelados por Tancredo Neves, em 1984, em seguida ao
maior movimento popular do País, a campanha pelas diretas. Custaram a
perceber que a candidatura de Tancredo fora costurada desde sua eleição em
1982 para o governo de Minas e entre os costureiros, o general e
ex-presidente Ernesto Geisel. Geisel foi chefe do Gabinete Militar de
Tancredo no período do parlamentarismo, no governo do presidente João
Goulart.

Octávio de Aguiar Medeiros, general e a mais importante figura do governo
Figueiredo (na área militar, na econômica Delfim Neto já havia engolido
Mário Henrique Simonsen), foi o último general do período de 1964 a
alimentar a pretensão de virar ditador. Não conseguiu sequer ensaiar um
segundo passo, ele e Figueiredo não mais que relinchavam.

*A ANISTIA*

* *

* *

O acordo costurado pelo ditador Ernesto Geisel para suspender a vigência do
AI-5 e decretar a Anistia começou pelas mãos de Petrônio Portela
(ex-udenista, janguista, traiu no dia quando percebeu a vitória dos
golpistas. Soltou um manifestou de apoio a Jango pela manhã, era governador
do Piauí e outro de apoio ao golpe à tarde). Candidato a presidente morreu
ministro da Justiça do governo Figueiredo.

Foi designado ministro da Justiça no governo do ditador João Batista
Figueiredo exatamente para conduzir o processo que permitisse ao partido
oficial eleger o primeiro presidente civil e acreditava que seria ele o
indicado.

A essa altura do campeonato, nos Estados Unidos, matriz e condutor do golpe
(houve arranhões durante o governo Geisel) a passagem de Jimmy Carter pela
presidência desarticulou algumas forças pré-históricas, o bastante para que
ditadura latino-americanas se sentissem ameaçadas.

É um detalhe significativo, mesmo Carter não tendo sido reeleito (nos anos
que se seguiram ao término da IIª Grande Guerra, apenas quatro presidente
não foram reeleitos nos EUA. John Kennedy que morreu assassinado em 1963.
Seu sucessor Lyndon Johnson que desistiu em 1968 de pleitear a reeleição.
Jimmy Carter que foi derrotado por Ronald Reagan e George Bush pai que
perdeu para Bil Clinton).

O grande temor dos militares é que na eventualidade de um presidente civil
com amplo apoio popular pudesse, com a anistia, adotar medidas de punição
para torturadores como Brilhante Ulstra, Torres de Mello, Erasmo Dias, Romeu
Tuma e outros tantos. Revanchismo era a palavra chave dos contrários à
medida. Geisel estendeu a anistia a todos segundo ele "vencedores e
vencidos". Ao mesmo tempo que permitia a volta dos exilados, garantia a
impunidade para o esquadrão da morte golpista.

E um grande obstáculo. A maioria dos militares se mostrou contra a anistia a
Leonel Brizola em quem enxergavam o maior risco de volta das esquerdas ao
poder. Carter, ironias à parte, foi o grande trunfo de Brizola. Militares
ligados à Operação Condor haviam decidido assassinar o ex-governador no
exílio no Uruguai, assim limpavam o terreno e Carter retirou Brizola às
pressas de Montevidéu, evitando que o fato se consumasse.

Em 1979 voltavam os exilados e estavam cobertos pela garantia da impunidade
os assassinos fardados do golpe de 1964. Os civis também. Romeu Tuma hoje é
senador.

Brizola foi eleito governador do estado do Rio de Janeiro a despeito da
tentativa de fraude num esquema conhecido como PROCONSULT, com participação
de escroques, militares da linha dura e da REDE GLOBO. A empresa
totalizadora de votos contava parte dos votos em branco para Wellington
Moreira Franco, de um jeito que ao final da totalização Brizola fosse
derrotado.

O esquema falhou por conta de uma armadilha montada para o presidente da
PROCONSULT, testa de ferro dos verdadeiros interessados, onde a confissão
foi explícita e o Tribunal Regional Eleitoral não teve alternativa outra que
não totalizar os votos de forma correta e a REDE GLOBO engolir o resultado,
inclusive com uma entrevista de Brizola.

O diretor de jornalismo da REDE, Armando Nogueira, acabou demitido ao
admitir publicamente o erro da GLOBO.

A anistia no Brasil foi conseqüência de um processo de rejeição e
repugnância pela ditadura militar, de necessidade de respirar ar puro, que
acabou se transformando por força de ajustes aqui e ali, num grande acordo
imposto goela abaixo e que manteve intactos os porões da ditadura.

Se os vampiros de 1964 hoje estão envelhecidos, surgiram figuras como Nelson
Jobim, sinistro em todos os sentidos e permanece intocada na base militar,
em sua maioria, a visão tacanha, bisonha e golpista que gerou 1964.

O tal profissionalismo, ou a consciência da realidade nacional, postura
democrática, percepção que o papel de forças armadas é o de garantir a
integridade do território nacional, a soberania do Brasil, de qualquer força
armada em seu próprio País, em boa parte da América Latina e dos países que
ensejaram a chamada COMISSÃO TRI-LATERAL – AAA (AMÉRICA, ÁSIA E ÁFRICA),
nada disso existe. Está viva, embora momentaneamente enfraquecida – não
tanto quanto se supõe – sobrevive o espírito golpista.

E começa numa reserva de direito inaceitável consagrado pela constituição de
1988, imposto, de zelar pela ordem interna no Brasil. Os militares
brasileiros, basicamente, permanecem subordinados a interesses das elites
econômicas nacionais e internacionais. E na realidade da globalização (ou
"globalitarização" como afirmou Milton Santos), adereço das grandes
potências, particularmente os EUA.

*O GOVERNO LULA – SÍSTOLE E DIÁSTOLE – A REAÇÃO DE JOBIM E DOS MILITARES*

* *

* *

Certa feita perguntaram a Golbery do Couto e Silva, um dos principais
ideólogos do golpe de 1964, a razão de ser de uma ditadura militar num País
de dimensões continentais como o nosso, implicitamente o que significava
abrir mão de um Brasil livre e soberano e o porquê de períodos que
alternavam uma relativa democracia, como agora, a momentos de violência como
1964, fazendo do Brasil uma espécie de república de bananas, epíteto aos
países da América Central sob o controle da norte-americana United Fruit.

A resposta de Golbery foi simples. O Brasil seria como que um coração que em
seu processo de funcionamento, ora bombeia sangue para fora do músculo
cardíaco, a sístole e ora relaxa e se enche de sangue – antes de cada batida
-, a diástole. Ou seja, qualquer que fosse a situação, democracia ou
ditadura o modelo seria sempre o mesmo. Abrir ou fechar era conseqüência das
exigências do modelo político e econômico num determinado contexto de tempo.

Mais ou menos como a democracia pode ir até determinado ponto e ponto final.
Se dali passasse, era hora de fechar. Endurecer.

A morte de Tancredo não gerou nos militares maiores preocupações, exceto no
grupo do general Ernesto Geisel que tinha em torno do ex-presidente um
projeto mais amplo. Uma travessia mais segura, ou pelo menos com riscos
menores. Sarney não oferecia perigo algum, é um político menor, um "coronel"
da ditadura, uma das muitas figuras asquerosas da política nacional.

A constituição de 1988, a despeito de muitas conquistas, mas todas sem pisar
fora da linha do modelo (ou se uma ou outra o fizesse, o caso da emenda
Gasparian que limitava os juros seriam ignoradas) consagrou as forças
armadas como guardiãs da democracia. Ninguém pode guardar, tendo que
avaliar, o que não conhece, ou o que não tem como princípio.

E pior, se não tem autonomia para isso. As forças armadas brasileiras, isso
não tem nada a ver com o sucateamento da instituição, é outra história,
outra discussão, noutro plano, são subordinadas ao modelo econômico vigente
e isso passa por subordinação aos EUA. O nacionalismo de determinados
setores termina no primeiro grito de ordinário marche, em sua maioria e a
despeito de grandes líderes militares, mas todos via de regra colocados à
margem.

O que molda a democracia brasileira é o esquema FIESP/DASLU, uma combinação
de banqueiros, empresários, latifundiários escorados numa classe política
podre (a maioria). Esse tipo de gente, elite, é apátrida. Gravita em torno
de Wall Street.

Collor foi um acidente de percurso, um erro na linha de montagem da REDE
GLOBO (parte viva do processo e um desafio a ser vencido, o da comunicação)
e Itamar um breve período de transição para um "Collor" mais seguro e
confiável, Fernando Henrique Cardoso, sem favor algum o político mais
sórdido da história contemporânea do Brasil.

Um "general" Anselmo. Amoral, não hesitou em ajustar o País aos interesses
econômicos de um mundo sem alternativas que o capitalismo ofereceu e impôs
após a derrocada da União Soviética (por conta de erros de governos
soviéticos, como muito mais pelas virtudes que pelos defeitos).

A eleição de Lula revela o verdadeiro caráter dessas elites e dos militares.

Um presidente operário, com propostas reformistas, que esbarra na
necessidade de alianças políticas espúrias para sobreviver e conseguir
avanços maiores ou menores, minimamente, preservar alguma coisa da soberania
nacional.

E que recebeu um País falido, em vias de viver o mesmo processo vivido pela
Argentina após a saída de Menem e a eleição de De La Rúa. Era a aposta da
extrema-direita, já definida no campo político de PSDB e quejandos.

Lula escora-se numa invenção muito bem definida por Ivan Pinheiro
"capitalismo a brasileira". É atropelado por escândalos montados,
orquestrados e dirigidos pela mídia. Cai em armadilhas, mas consegue através
de políticas compensatórias aqui e ali, além de alianças com setores
ponderáveis do empresariado, superar os escândalos, sair de armadilhas,
alcançar níveis de melhoria social até então desconhecidos da grande maioria
dos brasileiros das classes mais baixas e por conta disso, montado numa
política externa competente (Celso Amorim), somando ainda o seu carisma
pessoal, aos trancos e barrancos transformar-se num presidente que a
despeito de qualquer crítica e dentro do modelo, pode, tranquilamente, ser
citado como um dos três maiores. Getulio, Juscelino e ele. Jango fica fora
por não ter completado seu governo, certamente teria alcançado resultados
excelentes com as chamadas reformas de base.

O que Tancredo chamava de "burgos podres", os territórios controlados
eleitoralmente pelos "coronéis" políticos, é hoje a grande força de Lula,
mas paradoxalmente, acrescentado de ponderáveis setores da intelectualidade,
de forças de esquerda. Os grandes contingentes eleitorais urbanos são
exatamente os que se deixam manipular pelo maior desafio à tarefa de
formação e conscientização cidadã (palavra extremamente desgastada).

A mágica de uma política econômica ortodoxa, da busca de ruptura do
monopólio norte-americano em setores da economia, uma ou outra peitada nos
grandes interesses internacionais (que permitiram o avanço do empresariado
nacional, mesmo associados ao estrangeiro, daí a "concessão") e uma inegável
melhoria na qualidade de vida de brasileiros em regiões onde a fome era a
plantação principal, são esses, em linhas gerais, os traçados da
popularidade do presidente, do seu carisma, de seu prestígio internacional,
levando em conta também a crise que até hoje afeta os EUA, a China surgindo
e se consolidando como grande economia e o capitalismo percebendo e sentindo
o fim do neoliberalismo.

E, de repente, um grito de independência em vários países latino-americanos.
Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Nicarágua, El Salvador, a
própria Argentina, em maior ou menor escala, mas uma escalada que impediu,
por exemplo, a ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – algo como uma
recolonização de toda a América Latina. A "mexicanização" dessa parte do
mundo. O México hoje é um mero adereço dos EUA.

Essa política que muitas vezes é executada como pêndulo, ou seja, tropas
brasileiras exercendo seus instintos assassinos no Haiti, ou na condenação
de Uribe (traficante que governa a Colômbia com apoio dos EUA) quando do
bombardeio contra território equatoriano (com cumplicidade criminosa de
militares daquele país), trouxe a sensação que somo um gigante desperto,
caminhando para caminhos de democracia plena, popular, quando, na verdade,
não conseguimos nada mais que alargar a camisa de força do capitalismo.

E um dilema. Jogar o jogo enquanto se luta por algo maior, ou virar as
costas e sair de campo?

Entregar o País a figuras como José Collor Serra, ou Aécio Pirlimpimpim
Neves, ou qualquer outro nessa linha?

Marchar ao lado de Dilma Roussef na perspectiva de alargar um pouco mais a
camisa de força e tentar rompê-la?

No Congresso do Partido Comunista Brasileiro o secretário geral Ivan
Pinheiro deixou claro que a despeito das criticas a Lula e ao seu governo, o
PCB não será o responsável por nenhum retrocesso, pois tem consciência da
etapa que vivemos no processo histórico, mas nem por isso será cúmplice de
equívocos ou recuos comprometedores de possibilidades de avanços efetivos na
construção da democracia popular.

Cabe como luva em qualquer análise sobre jogar o jogo e como jogar para
qualquer movimento ou partido de esquerda, socialista, ou comunista,
democrático que seja lato senso. Transcende aos limites do PCB para
inserir-se num espectro bem mais amplo, no mínimo o do bom senso e da
consciência da etapa que vivemos.

É um delírio de Lula imaginar que possa resgatar a história sombria da
ditadura militar e seus porões, mas é um dever, à medida que um delírio
fundamental para o reencontro do Brasil consigo próprio, recuperar e
cicatrizar o corte brutal que foi a ditadura no curso de nossa caminhada.

E é um delírio quando se imagina que militares e elites chegaram a um ponto
de compromisso democrático, ou maturidade (putz) que aceitarão sem reagir
esse tipo de atitude.

O projeto do secretário de Direitos Humanos Paulo Vanuchi é mais ou menos
como você estar preso num tubo imenso, fétido, escuro e sem bem entender
nada do que acontece e de repente encontrar a saída, a porta para respirar
ar puro.

A reação de Nelson Jobim (ministro da Defesa) e dos chefes militares foi uma
peitada no presidente e não surpreende ninguém, ou se surpreender,
surpreende aos ingênuos.

Jobim foi ministro da Justiça de FHC e quando o processo de privatizações
passou a enfrentar obstáculos no Judiciário, eivado de irregularidades,
ilegalidades, corrupção, foi mandado para o STF onde ao tomar posse se
declarou "líder do governo nesta corte", iniciando a desmoralização da tal
corte, que corre até hoje com Gilmar Mendes.

Cumpriu seu papel e voltou à sua origem. Foi para o governo Lula na esteira
de alianças espúrias que pode tornar Hélio Costa, homem da GLOBO, vice de
Dilma Roussef (assim como José Roberto Arruda seria o de Serra).

Os mais de oitenta por cento de popularidade de Lula não passam por ter
levado aos brasileiros a necessidade de resgatar sua história e mostrar a
barbárie que se viveu com o golpe de 1964. Muito menos exibir figuras
trágicas como Brilhante Ulstra, coronel, cheio de medalhas de bom
comportamento e cumprimento do dever, se levarmos em conta que dever se
cumpria nas câmaras de tortura, estupros, assassinatos de adversários do
golpe.

Essa popularidade começa e termina dentro dos limites do jogo eleitoral, do
sistema, do modelo. Se pisar fora da linha chega a hora da sístole. O
coração patriótico dos militares e das elites se contrai e se fecha para
expulsar o sangue e curiosamente, para encher de sangue as veias do Brasil,
para usar a imagem de Galeano noutro plano, noutra dimensão.

A hipótese de golpe, suave, brando, o que for, não pode ser excluída e nem
deixada de lado.

A criminalização de movimentos populares, principalmente o MST (MOVIMENTO
DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA), a forma como a mídia age na construção
de zumbis alienados na mentalidade de consumir em shoppings, vai exigir
muito mais que popularidade de oitenta por cento que resulta de duas ou três
refeições diárias.

Vai exigir que se enfrente o modelo e isso só com organização popular. Se,
como disse Ivan Pinheiro, o partido que dirige não vai ser responsável pelo
retrocesso, a bola, nesse momento, está com Lula. E pelo jeito o presidente
chegou atrasado, tomou um "xambão como dizia Waldir Amaral narrando jogos de
futebol.

Vai ter que jogar, se quiser, nas regras do modelo, do contrário, vai ter
que vir para as ruas e buscar o que lhe cabia fazer desde o primeiro
momento, forças para romper esse dique de impunidade, corrupção e
instituições falidas, num faz de conta que vivemos numa democracia.

Os caminhos do Brasil passam pela unidade latino-americana. Não passam por
Washington. Nem pelo esquema FIESP/DASLU. E braços tucanos, DEMocratas, ou
de "socialistas" comprados a doze mil por mês, assim padrão Roberto Freire.

Os generais são só paus mandados dessa gente e a reação a abertura dos baús
da ditadura é o exercício de esconder suas vergonhas. O lado tétrico das
forças armadas.

Não é o lado de Lott, nem de Prestes, nem de Lamarca, nem de Cerveira e dos
muitos militares silenciosos diante dessas vergonhas (a minoria), ou dos
tantos que tombaram nos expurgos sangrentos e dolorosos de 1964.

Esse tumor tem que ser extirpado e essa história mostrada aos brasileiros.
Do contrário seremos sempre meia democracia, isso não existe.

Não é possível a convivência num mesmo corpo e esse corpo se manter sadio,
de Paulo Vanuchi e Celso Amorim, com vírus letais como Jobim, Hélio Costa e
outros.

O significado real de Honduras é esse. O de alerta. E por isso Honduras é
toda a América Latina.